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domingo, abril 28, 2024

Manacapuru: População cobra melhorias no cais e questiona gasto milionário em muro de arrimo

Sem estrutura, plataformas de madeiras quase para cair e lixo na orla, o prefeito Beto D’Ângelo vai gastar quase R$ 5 milhões em obra milionária para construção de apenas com um muro no cais

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As cidades do Estado do Amazonas têm em sua grande maioria instalações chamadas de cais ou portos para levar e receber pessoas vindas de outras localidades, bem como para escoar a produção regional destes municípios. Estes locais precisam ter infraestrutura para a locomoção das pessoas ou recebimento de cargas até as embarcações, como rampas de acesso, escadas seguras e com viabilidade para receber Pessoas com Deficiência (PCDs) ou com mobilidade reduzida, haja vista que as embarcações, em sua grande maioria, são o meio de transporte mais utilizado pelos amazonenses.

O que não é o caso do cais do município de Manacapuru, que perece em meio a lixo, escadas de madeiras precárias, entre outras faltas. No entanto, uma obra está prevista para ocorrer no cais da cidade, no valor de quase R$ 5 milhões, mas a obra contemplará apenas a construção de um muro de arrimo no cais da cidade.

Ao saber do valor dessa nova construção, a aposentada e moradora de Manacapuru, Maria, de 59 anos, disse ao Portal O Convergente, que se de fato este valor fosse todo empregado na melhoria do porto e não somente no muro de arrimo, a cidade se tornaria bem melhor.

“Eu creio que se ele aplicasse esse dinheiro de verdade para fazer esse muro de arrimo ia melhorar sim, mas a gente sabe que nem a metade desse dinheiro é aplicado aí. Porque pelo menos o que eu já vi lá, porque você não vai dizer que só vai pintar um muro e você acha que está tudo bem. Você tem que ver como é que você vai fazer uma rampa para o agricultor escoar sua produção, para a feira e pra vender, eu sei porque eu já morei no interior e já comprei frutas no interior, vou nos barcos, isso tudo as pessoas infelizmente não veem. E eu vejo que se ele aplicasse esse dinheiro aí, pra fazer o cais, sim, ia melhor muito, mas a gente sabe que muito desse dinheiro nem chega aqui, disse a aposentada.

Ela também contou à reportagem que até o trânsito seria mais organizado se tivesse uma estrutura que facilitasse a chegada e a saída de pessoas e cargas em Manacapuru.

“Uma coisa que eu estava olhando hoje lá, é uma rua que eles fizeram no cais, eles levantaram mais ou menos meio metro e a outra parte ficou baixa, então os caminhões que vão entregar ou pegar os produtos no cais não conseguem, devido à altura que ficou desnivelada, aí fica uma loucura o trânsito, porque pela manhã tem muita gente que vem do interior comprar e vender produtos”, disse a aposentada pontuando que os comerciantes também deveriam pressionar o prefeito Beto D’Ângelo a realizar a obra antes da subida do nível das águas, o que pode ser usado como pretexto para não realizar as melhorias no porto.

“Os comerciantes também deveriam pressionar o prefeito para que ele pudesse trabalhar nesse cais o mais rápido possível, porque a água já está subindo e aí é mais uma desculpa para dizer que não vai melhorar o cais. É muito dinheiro, que muitas das vezes é desviado, e o trabalho que é feito lá infelizmente não vai beneficiar quase nada, porque eles tentam amenizar só a frente da cidade e quem precisa do cais realmente para pegar barco ou lancha, não vai melhorar em nada”, disse Maria.

A cidade tem atualmente, segundo dados de 2021, do Instituto Brasileiro e Estatística (IBGE), mais de 99,6 mil habitantes e o cais é um local com grande exponencial para o comércio, pois por meio dele, dar para enviar e receber produtos de outras cidades próximas, como: Beruri, Caaparinga, Anamã, Manaquiri, Novo Airão, Anori, Codajás, Coari e Tefé, além do transporte fluvial de inúmeras pessoas saindo do município a outros, bem como chegando de outras cidades.

Sem estrutura – Após críticas da população, o Portal O Convergente esteve no cais de Manacapuru, na última sexta-feira, 24/2, e por meio de fotos e imagens aéreas feitas durante a visita, é possível observar que porto está sem estrutura para receber as pessoas vindas de outros municípios ou que se deslocam de Manacapuru para outras cidades do Amazonas. Com escadas de madeiras e sem acessibilidade, as pessoas precisavam se equilibrar nas plataformas de madeira para chegar nas embarcações.

No local, também foi notado bastante lixo na orla da cidade e não foi visto equipes da Prefeitura realizando a limpeza do local, que é a porta de entrada da cidade e que tem prédios localizados em frente à orla, como a Câmara Municipal Fundação Nacional de Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Universidade Aberta e uma feira municipal.

Sobre a contratação – Caminhando para seu sétimo ano no cargo de prefeito, Beto D’Ângelo (Republicanos) decidiu contratar mais uma vez a empresa HBT Arquitetura e Engenharia Eireli, contumaz em fechar obras com o Executivo de Manacapuru, para realizar esta construção. Empresa esta, que já arrematou mais de R$ 9 milhões em obras com a Prefeitura, só em 2022, o que pode configurar um possível “favorecimento” a HBT, uma vez que ela sempre vence licitações para obras diversas no município. A HBT pertence ao ex-secretário de obras de Manacapuru, André Alessandro da Silva Telles.

 

Segundo o Despacho de Homologação, o novo contrato foi fechado por meio da Concorrência Nº 005/2022, publicada no Diário Oficial dos Municípios do Amazonas (AAM), no último dia 14 de fevereiro. Desta vez, a empresa foi contratada para realizar serviços de engenharia na recuperação do cais, no trecho entre a avenida Eduardo Ribeiro e a rua Rio Solimões, no município.

Ainda de acordo com o documento, a obra será feita em 80 metros de comprimento e 15 metros de largura no cais da cidade. A obra vai custar o valor global de R$ 4.837.632,34 (quatro milhões, oitocentos e trinta e sete mil, seiscentos e trinta e dois reais e trinta e quatro centavos). A HBT Arquitetura também já realizou uma obra turística no cais de Manacapuru, no ano de 2020.

Empresa – A HBT está instalada no bairro São José, em Manacapuru, e é representada pelo empresário André Alessandro da Silva Telles, e possui R$ 2 milhões de capital social, conforme a Receita Federal.

Sobre a obra no cais de Manacapuru, a empresa HBT disse ao Portal O Convergente que a contratação é para a construção de um muro de arrimo e que aguarda a ordem de serviço para iniciar as obras. “A obra não se trata de reforma, e sim de construção de muro de arrimo onde o antigo desabou. Portanto, trata-se de obras diferentes em locais diferentes. Estamos no aguardo da ordem de serviço para iniciar a obra”.

Mais contratos – Desde 2018, a HBT Arquitetura já fechou diversos contratos com o município de Manacapuru, para obras de escolas, creches, hospitais e de pavimentação de ramais na cidade.

Retorno – O Portal O Convergente solicitou mais informações da Prefeitura de Manacapuru sobre a nova contratação para construir o cais da cidade e o motivo da HBT Arquitetura e Engenharia ser a detentora das licitações para obras no município, bem como também das especificações das obras que serão feitas no cais. No entanto, não houve retorno das informações até o sábado, 25/2.

Após a negativa de informações por parte da Prefeitura, o mesmo e-mail foi encaminhado à Secretaria Municipal de Obras e Serviços Públicos (Semosp), por meio de contato disponibilizado nas redes sociais do órgão, ao qual também não houve retorno; espaço segue aberto para esclarecimentos posteriores.

 

Texto e narração: Edilânea Souza

Fotos e Ilustração: Marcus Reis

Imagens aéreas: Fabrício Aguiar

Direção Executiva: Erica Lima

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