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quinta-feira, novembro 21, 2024

Comunista, mulher, ex-parlamentar e candidata à Câmara dos Deputados em 2022

Ao Portal O Convergente, a ex-senadora Vanessa Grazziotin falou sobre sua trajetória de vida no Amazonas, dos quase 42 anos como integrante do PCdoB, do trabalho em defesa da mulher, dos ataques sofridos após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016, e confirmou que irá concorrer a uma vaga de deputada federal nas Eleições de 2022

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Com uma vasta trajetória política, a ex-senadora Vanessa Grazziotin carrega na bagagem 30 anos de experiência parlamentar. Integrante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) há 42 anos, Vanessa Grazziotin já foi eleita pela sigla três vezes vereadora de Manaus, três vezes deputada federal pelo Amazonas, e ao vencer as Eleições de 2010 para o cargo de senadora, também pelo Estado, se tornou a primeira senadora eleita pelo PCdoB desde a fundação do partido em 1922.

Secretária Nacional da Mulher do PCdoB, Vanessa Grazziotin tem sua trajetória política pautada na luta pelos direitos da mulher, paridade de gênero, com mais espaços políticos, de poder e decisão para a mulher, além do empenho na busca pela preservação da Amazônia.

Em entrevista exclusiva ao Portal O Convergente, Vanessa Grazziotin falou sobre sua trajetória de vida no Amazonas, que se mistura à sua história na política no Estado, o ingresso há cerca de 42 anos no PCdoB, o trabalho em defesa da mulher e o fortalecimento da atuação feminina na política e a participação do PCdoB no Amazonas em atos contra o governo do presidente Jair Bolsonaro.

Durante a entrevista, a ex-senadora se emocionou ao lembrar dos ataques e hostilidades sofridas após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016, e afirmou que irá concorrer a uma vaga na Câmara dos Deputados nas Eleições em 2022.

Natural de Videira, em Santa Catarina, Vanessa Grazziotin chegou em Manaus ainda adolescente, em 1976. Em 1979, ingressou no curso de Farmácia, na Universidade Federal do Amazonas (Ufam). No final dos anos 1970, ela se filiou, clandestinamente, ao PCdoB. Entre os anos de 1984 a 1988, Vanessa lecionou em uma escola pública da capital amazonense quando, no ano seguinte, em 1989, foi eleita pela primeira vez vereadora de Manaus, permanecendo na função até 1999, quando assumiu o cargo de deputada federal, permanecendo na função por 12 anos consecutivos.

Nas Eleições de 2010, Vanessa Grazziotin elegeu-se senadora da República, cargo que ocupou até 31 de janeiro de 2019. Vanessa perdeu a vaga no Senado em 2018, quando ficou em quinto lugar na votação geral.

O Convergente – A senhora é natural da cidade de Videira, em Santa Catarina, em que momento o Amazonas entrou na sua vida?

Vanessa Grazziotin – Não foi o Amazonas que entrou na minha vida, fui eu que entrei na vida do Amazonas. Eu cheguei para morar aqui em Manaus em 1976, ou seja, eu tenho quase 45 anos de Amazonas. À época eu era jovem, estudante secundarista ainda e meu pai me deu a opção de voltar e estudar em Curitiba, mas eu fiz vestibular aqui, passei aqui e decidi ficar porque gostei muito daqui e hoje eu sou mais amazonense que qualquer amazonense. Tive minha filha, estudei, me formei aqui e fiz minha vida toda, pessoal e política. Eu digo que o Amazonas me acolheu. Mas fui eu que entrei na vida do Amazonas e não saio mais, já comi muito jaraqui!

OC – Como a senhora entrou na vida de militância?

VG – Foi exatamente no ano que ingressei na universidade, em 1979. Eu fui uma criança, uma adolescente que cresceu com uma Ditadura Militar, sem saber que a gente vivia numa Ditadura, porque eu não sou de família de políticos. Nos colégios em que estudei, na verdade eram todos os colégios, públicos ou privados, eles não permitiam que se falasse de política. Quando entrei na universidade foi que me deparei com a seguinte palavra de ordem: “Anistia geral ampla e restrita”. Aí que vim perceber que o país estava sofrendo. Nós não podíamos nos organizar, não podíamos falar. Dali em diante eu não saí mais da política, tomei a decisão de ser uma cidadã plena. Eu fiquei revoltada por ter passado tanto tempo da minha vida sem saber o que estava acontecendo no Brasil.

Depois cheguei na universidade e vi que eu não pagava nada, na verdade quem estava pagando meus estudos era a população brasileira. Naquela época, nenhum 1% da população ingressava nos bancos de uma universidade pública, então ali mudou minha vida. Na sequência eu ingressei no partido, ainda não era legal. Nunca entrei na política pensando em ser candidata, em ir ao parlamento. As coisas foram acontecendo.

OC – Há quantos anos a senhora já está no PCdoB? Já recebeu convite para ir para outro partido?

VG – Eu estou filiada ao PCdoB, claro sem uma filiação legal, há quase 42 anos. O PCdoB reconquistou a sua legalidade em 1985 e aí nós formalizamos a filiação. Convites para outros partidos a gente sempre tem, mas eu nunca me filiei a outro partido porque a nossa luta é por uma sociedade muito diferente dessa. A gente vive numa sociedade capitalista e as pessoas acham tão normal. Eu nunca achei isso normal porque uma sociedade capitalista vive em torno de um capital, o que vale não são as pessoas é o dinheiro, o que vale é o material.

Eu defendo o socialismo sempre. Acho que o que mede a pessoa é o seu caráter, é seu grau de honestidade, não são os bens que ela tem. Mas na sociedade que a gente vive vale os bens que ela tem, quanto mais rica, mais valorizada, quanto mais pobre, coitado. Aí uma pessoa pobre andando na rua, ainda mais ser for negra ou mulher, aí que ferrou mesmo.

OC – Ao longo da sua trajetória política, a senhora já concorreu para quais cargos?

VG – Dos mais de 40 anos de PCdoB, 30 anos eu fui parlamentar, foram 30 anos ininterruptos. Eu fui vereadora de Manaus por 10 anos, eu acho que foi o melhor período da minha vida, quando eu fui vereadora. Fiquei 10 anos aqui na Câmara de Vereadores, 12 anos na Câmara Federal e oito anos no Senado. Eu não fui eleita na primeira candidatura porque o PCdoB ficou legal em 1985, em 1982 tiveram eleições para governo, foram as primeiras eleições para governador depois da Ditadura. Eu participei não como candidata, mas como militante.

Em 1986, com o partido legal, eu acabei sendo convencida que deveria ser candidata e fui candidata para ter um conjunto de candidatos para fazer uma chapa forte e eleger deputado estadual. Então eu sabia que a minha posição ali era para ajudar a eleger outras candidaturas que eram prioritárias. Só que depois daquela eleição eu fui a mais votada no partido. Aí depois disso, de eu ter sido a mais votada do partido, eu fui candidata a vereadora em 1988, aí sim, eleita vereadora de Manaus.

OC – A nova legislação eleitoral, aprovada no Congresso para as eleições de 2026, deve fortalecer a atuação feminina na política. A senhora, que é militante de um partido de esquerda, acha que essa nova legislação eleitoral vai realmente fortalecer as mulheres na política ou ainda há pontos que precisam ser melhorados?

VG – Hoje temos uma legislação desde 1985, que começou com 20% e chegou em 30% de participação das mulheres, mas eram reservas de vagas nas chapas de candidaturas. Com o passar do tempo, nós conseguimos tornar obrigatório o preenchimento, e nas eleições, antes das eleições de 2018, a gente conseguiu com que a mesma proporção, que é mínima de 30% de participação de mulheres na chapa, fossem destinados recursos para a campanha eleitoral e tempo de propaganda eleitoral nos meios de comunicação. Então foi um passo muito grande, isso a gente manteve. O que a gente queria era manter isso e avançar para uma nova forma de cota, que seria uma reserva de cadeiras. Ou seja, você tem no mínimo, um exemplo, 20% das cadeiras de uma Câmara de Vereadores que só podem ser preenchidas por mulheres.

Não é o melhor sistema, tem outros sistemas no mundo mais avançados e modernos que garantem metade de homens e metade de mulheres, como no Chile, que elegeu uma Assembleia Nacional Constituinte paritária, metade de homens e metade de mulheres. Então, esse é o nosso objetivo maior. Chegar num parlamento paritário. Só assim estaríamos construindo uma democracia de fato. O que a gente conseguiu aprovar, e já vai valer para 2022, é que o voto em mulheres e negros valem em dobro para a distribuição do fundo partidário e do fundo eleitoral. É um passo importante que a gente deu, mas perseguimos ainda ampliar muito mais o percentual de garantir reserva de cadeiras mesmo.

OC – Aqui no Amazonas, como se dá a participação do PCdoB nos atos contrário à gestão do presidente Jair Bolsonaro?

VG – No Brasil inteiro o partido tem tido uma presença muito forte. Seja na construção desses atos e na própria participação. A gente tem defendido muito a tese da necessidade de ampliar a presença de partidos políticos, de entidades nessa luta pelo ‘Fora Bolsonaro’, porque quando a gente usa essa palavra de ordem é porque a gente está percebendo como ele está destruindo o Brasil. Eu digo o seguinte: o Brasil não suporta mais o Bolsonaro, cada dia que ele fica no poder é pior para reverter, porque ele está dilapidando o patrimônio público.

Eu não sou daquelas que acho que tem que ser tudo público. Não! Eu acho que tem de haver uma convivência entre o público e o privado. Mas dos setores estratégicos o Estado não pode se retirar. Porque é exatamente essa presença do Estado que garante você democratizar o acesso aos serviços básicos e essenciais. Então a gente tem advogado muito que desses atos devam participar o maior número de partidos políticos. Só com essa unidade a gente vai conseguir avançar e de fato impedir o governo do Bolsonaro. É muito difícil esse momento que a gente vive. Por isso que a gente diz, apesar de tudo que a gente sofreu, a gente não tem que olhar para trás, vamos olhar para frente. Mesmo aqueles que patrocinaram o golpe de 2016, eles são bem-vindos aqui do nosso lado agora, porque a gente tem que estancar essa sangria. A gente não só participa dos atos, como procura ampliar o máximo possível.

OCProjeções para as eleições 2022 – No PCdoB, a senhora é uma das principais lideranças no Amazonas e também se destaca nacionalmente no partido. Conforme algumas pesquisas que foram divulgadas recentemente nos meios de comunicação, a senhora tem boas intenções de votos. Em 2022, a senhora pretende se candidatar a uma vaga para a Câmara dos Deputados ou para o Senado?

VG – Eu tenho visto as pesquisas. Recebo com o coração aberto. Para mim é muito importante, até mais pessoalmente do que politicamente. Agora o que mais vale para mim, o que mais tem valido nesses últimos tempos, é a forma como eu sou tratada na rua, porque em 2016 eu não conseguia andar na rua, é muito difícil.

As pessoas xingavam muito, no shopping, aonde eu tivesse era muito difícil. As pessoas xingavam a mim, elas sempre me ligaram muito ao presidente Lula. Xingavam o presidente Lula e era muito difícil. Hoje não, eu sei que a sociedade é formada por pessoas diferentes, onde tem que prevalecer o respeito. Faço política há muito tempo e nunca tinha vivido isso na minha vida. Sempre tive uma convivência muito respeitosa e isso acabou. As pessoas, aonde quer que eu estava, xingavam e quando elas estavam mais longe de mim, elas faziam gestos obscenos. Muitas pessoas. Isso foi muito difícil.

Agora não, eu acho que as pessoas estão caindo na real. Porque não é o ódio, porque não é esse desrespeito que vai nos levar a lugar nenhum. Ninguém é obrigado a votar em ninguém. O que a gente não pode fazer é desrespeitar uma pessoa, porque acima de tudo é um ser humano. Ainda quando recebo alguma mensagem me ofendendo nas minhas redes sociais eu respondo que não tem denúncia contra mim, que não tem nada. Se tem uma coisa que eu tenho orgulho é da minha trajetória. Acho que a gente está superando tudo isso e já é um passo importante.

Para mim, até muito mais do que pesquisas, é a forma como eu venho sempre tratado, como sempre fui na minha vida. Espero que essas eleições presidenciais, que também são eleições para o Senado, não ressuscitem aquele momento ruim, ainda tem um pouco, mas muito menos perto do que a gente viveu. A gente tem que trabalhar muito, batalhar para que aquilo seja apenas uma presença triste do passado.

OC – Vamos ter Vanessa candidata?

VG – Você sabe que eu sou muito cumpridora das decisões partidárias. É porque é isso que eu digo, eu podia estar num partido grande hoje. Aliás, há muito tempo. Por que que eu estou num partido pequeno? Porque é a minha ideologia. E talvez eu saia candidata sim. A gente conseguiu agora uma vitória importante que foi a aprovação da Lei das Federações e esse é um sonho nosso. Tudo indica que sim, que eu devo vir para deputada federal.

OC – Às vezes com mandato, as vezes sem mandato, mas sempre na política. Qual o legado que a Vanessa Grazziotin pensa em deixar para o Estado do Amazonas?

VG – A primeira coisa é a forma honesta como eu sempre fiz política. Eu tenho muito orgulho de ter defendido um governo desde o início. Por ele eu lutei, eu me refiro aqui ao presidente Lula, que foi o presidente do país. Eu não entrei no governo depois que ele foi eleito, aliás eu fui uma das coordenadoras da primeira campanha dele aqui no Amazonas para Presidência da República, em 1989. Eu já era vereadora. Tenho muito orgulho de dizer que foi aquele governo que fez as maiores obras que o nosso Estado tem.

Para mim é muito emocionante dizerem que tantas conquistas que as mulheres tiveram nos últimos tempos tem a digital da Vanessa. Por exemplo, a Lei da Importunação, eu ganhei um prêmio por conta dessa lei, que foi de minha autoria. Esse é o legado, o legado para o Estado de uma parlamentar que sempre batalhou muito, ajudou no desenvolvimento. Como legado para juventude. Você veja se os jovens têm direito à meia passagem, lá estava eu à frente da luta e também das mulheres.

O avanço para as mulheres é muito importante. Leis como, por exemplo, de incentivo das mulheres na política, a obrigatoriedade de a Justiça Eleitoral fazer propaganda também é de minha autoria. Esse é o legado que eu quero deixar. É mostrar que o parlamentar quando se elege tem que trabalhar pelo seu Estado, pela sua gente!

 

Galeria de fotos:

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Por Lana Honorato

Fotos e vídeos: Marcus Reis

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