O Mês da Consciência Negra, celebrado durante anualmente em novembro, traz um debate sobre pautas sociais e políticas que envolvem a comunidade negra, além de deixar mensagens de reflexões sobre raízes históricas do Brasil. É o que defendem especialistas e ativistas consultados pela reportagem.
“O mês da Consciência Negra traz ao debate público as pautas sociais e políticas que envolvem a comunidade Negra (grupo que apesar de ser a maioria da população brasileira, ainda encontra-se numa situação de vulnerabilidade em decorrência do racismo que estrutura nossa sociedade), assim como faz um resgate da história e contribuição dos afrodescendentes para a construção do País, do ponto de vista econômico e cultural”, destacou a advogada, quilombola e mestre em Direito Constitucional, Luciana Santos.
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Ao portal O Convergente, Luciana destaca que o Brasil tem uma dificuldade enorme de se assumir como racista e a realidade brasileira não pode ser entendida sem se levar em conta o fator racial, “daí a importância dessa reflexão, não só em novembro, mas o ano inteiro”, enfatiza.
A ativista política, do movimento negro e produtora cultural Michelle Andrews lembra que a data também é uma oportunidade essencial para se refletir sobre as raízes históricas do racismo e reconhecer as contribuições da população negra ao país.
“O dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, nos lembra da luta de Zumbi dos Palmares e de tantos outros que resistiram à opressão, buscando liberdade e dignidade. Esse é um marco para que possamos reavaliar a sociedade que queremos construir e firmar um compromisso contínuo de combate ao racismo”, salientou.
Andrews comenta ainda que o racismo é um tema constante no Brasil, mesmo sendo um país diverso, porque ele não é apenas uma questão individual, mas estrutural e cultural. “Por séculos, as hierarquias raciais moldaram a sociedade, reforçando desigualdades que se perpetuam até hoje. Isso significa que o preconceito não nasce com a pessoa, mas é absorvido ao longo da vida, começando pela infância. Desde cedo, as crianças observam e internalizam valores, normas e preconceitos presentes na sociedade e nos ambientes em que convivem”, realçou Michelle Andrews.
Consciência Negra
Celebrado em novembro, o Mês da Consciência Negra tem como objetivo principal destacar a importância da luta contra o racismo e promover a valorização da cultura, história e contribuições da população negra no Brasil.
A escolha da data está diretamente ligada ao dia 20 de novembro, que é o Dia da Consciência Negra no Brasil, que homenageia Zumbi dos Palmares, um dos maiores líderes da resistência negra contra a escravidão no Brasil.
Zumbi foi o líder do Quilombo dos Palmares, uma comunidade que abrigava pessoas que escapavam da escravidão e resistiam à opressão. Ele foi morto em 20 de novembro de 1695, e essa data se tornou um símbolo de luta e resistência.
O Mês da Consciência Negra surgiu a partir da organização de movimentos sociais e ativistas negros que, nas décadas de 1970 e 1980, buscavam uma data para promover uma reflexão mais profunda sobre o racismo e a importância da população negra na formação cultural e histórica do país.
“Vale destacar que o dia 20 de novembro, Dia de Zumbi dos Palmares, é uma celebração que nasce de uma luta do Movimento Negro Brasileiro. É uma resposta ao 13 de maio e a abolição inacabada. Zumbi foi essa liderança grandiosa, que esteve à frente de Palmares na luta pela liberdade e que resistiu bravamente. É uma história que precisa ser contada em sua plenitude, até como forma de honrar todos que, assim como ele, se insurgiram à perversidade colonial”, reforçou a advogada Luciana Santos.
Em 2003, o dia 20 de novembro foi incluído no calendário escolar nacional, e, em 2011, a data foi oficializada como feriado em alguns estados e municípios do Brasil.
“A mensagem de reflexão que precisamos fortalecer é a de que o racismo é um problema de todos. Enfrentá-lo requer educação, empatia e a disposição de transformar as estruturas sociais para que a igualdade deixe de ser um ideal distante e se torne uma realidade. Essa data é um chamado para o respeito, para a valorização das histórias e culturas diversas e para o compromisso com a inclusão e a justiça social”, concluiu Michelle Andrews.