De feirante a milionário. O vice-candidato a prefeito de Manaus e ex-secretário municipal, Renato Junior (Avante), declarou ter mais de R$ 3 milhões em bens para a Justiça Eleitoral. O que chama atenção é que esse valor milionário não foi declarado por ele nas últimas eleições que concorreu, em 2018. Ou seja, em seis anos, o vice na chapa de David Almeida (Avante) conseguiu saltar os seus bens, que antes eram de R$ 30 mil.
As informações públicas podem ser acessadas na plataforma do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o Divulga CandContas. Dados da plataforma apontam que somente os bens declarados por Renato Junior em 2018 representam 1% dos bens que foram declarados por ele em 2024.
Em 2018, Renato Junior declarou ter bens de R$ 30 mil, referente a ‘quotas ou quinhões de capital’. Vale destacar que, na época, ele não informou na plataforma do TSE o nome da empresa, bem como também não informou o CNPJ da mesma que estava declarando.
Além do novo valor em bens do candidato chamar a atenção, outro ponto que também pode ser observado é o crescimento em um curto espaço de tempo, de apenas 6 anos, sendo a maior parte desse enriquecimento durante os três e meio da gestão do prefeito David Almeida.
Em apenas seis anos, o ex-feirante conseguiu triplicar o seu patrimônio, de acordo com a plataforma do TSE. Em 2024, Renato Junior declarou à Justiça Eleitoral ter um total de R$ 3.155.906,37 (três milhões, cento e cinquenta e cinco mil, novecentos e seis reais e trinta e sete centavos) em bens.
Antes de ser escolhido para ocupar o posto de candidato a vice na chapa de David Almeida, Renato Junior atuou em duas secretarias durante a gestão atual. A primeira foi quando assumiu a Secretaria Municipal de Agricultura, Abastecimento, Centro e Comércio Informal (SEMACC). Em 2022, até os primeiros meses de 2024 antes de ser exonerado, Renato Junior esteve no comando da Secretaria Municipal de Infraestrutura.
Em ambas as pastas, o salário mensal do candidato a vice era mais de R$ 10 mil, porém, apesar de ser uma alta quantia, ainda assim não chegaria ao valor de bens que o mesmo possui nos dias atuais. Pela SEMACC, Renato Junior recebia uma remuneração de R$ 11.199,18. Já pela SEMINF, o candidato recebia pouco mais de R$ 14 mil por mês.
Vale destacar que os valores citados referente aos salários do ex-secretário Renato Junior são de uma remuneração líquida, ou seja, sem desconto de impostos. Os dados são públicos e podem ser acessados no Portal da Transparência de Manaus.
De 30 mil para 3 milhões
Como já explicado pelo O Convergente, o ex-secretário construiu um patrimônio milionário durante 6 anos. O número 6 foi o mesmo de patrimônios que ele declarou para a Justiça Eleitoral, conforme mostra a plataforma Divulga CandContas.
O maior valor declarado por ele foi de R$ 1,4 milhão em ‘quotas ou quinhões de capital’, o que ele explicou ser empresa 49% capital social. O candidato a vice também declarou outra empresa com capital social de R$ 500 mil.
Além disso, o candidato também afirmou ter R$ 60 mil em outros créditos e poupança, R$ 92,1 mil em aplicação de renda fixa, R$ 180 mil em terreno de Marinas e uma casa financiada em Manaus de mais de R$ 900 mil.
Todos os bens declarados não constam mais informações, principalmente as empresas declaradas por ele. Da mesma forma que em 2018, Renato Junior não expôs no Divulga CandContas os nomes e os CNPJs das empresas que possui em seu nome.
Em uma pesquisa avançada feita pelo O Convergente, a equipe de reportagem encontrou uma empresa que possui ligação com Renato Junior. A empresa está inscrita no CNPJ de nº 07.491.126/0001-55, identificada na Receita Federal como ‘OLIMAG LTDA’, que tem como principal atividade econômica a instalação e manutenção elétrica.
empresa-renatoA empresa foi aberta em julho de 2005 e a situação cadastral é de dezembro de 2018. Renato Junior aparece como sócio da empresa, que possui um capital social de R$ 2,9 milhões, conforme informações da Receita Federal. Outras duas pessoas também integram o quadro de sócios.
O que chamou a atenção da equipe de reportagem foi que o mesmo CNPJ foi cadastrado em uma empresa chamada ‘RENATO FROTA MAGALHAES HORTIFRUTIGRANJEIROS – ME’, a qual possui a mesma data de abertura da ‘OLIMAG’, conforme informações da plataforma Empresas do Brasil.
O endereço dessa empresa estava associada a um box na Feira da Manaus Moderna, mesma feira em que Renato Junior já afirmou trabalhar com os pais antes de investir na carreira de engenharia civil, conforme relatado pelo candidato nas redes sociais.
Na plataforma da Receita Federal não foi possível identificar quando foi feita a troca do nome da empresa.
Outras ligações
O Convergente também encontrou duas outras empresas que possuem relação com Renato Junior, mas que não consta o nome do candidato no quadro de sócios.
A primeira empresa tem como sócia a esposa de Renato Junior, Symonne Magalhães. A empresa TOTAL MIX OBRA DE URBANIZACAO LTDa, inscrita sob o CNPJ 36.942.370/0001-95, possui um capital social de R$ 2,1 milhões e tem como principal atividade econômica o suporte técnico, manutenção e outros serviços em tecnologia da informação.
A empresa foi criada em abril de 2020 e já conseguiu firmar contratos de quase R$ 5 milhões durante esses anos. O Convergente constatou que a empresa teve contratos com a Prefeitura de Autazes para serviços como reforma do prédio da prefeitura, instalação de academias ao ar livre e construção de prédio para a guarda municipal.
Na plataforma da Receita Federal consta o nome de Symonne Magalhães como solteira. No entanto, O Convergente fez uma busca nas redes sociais da sócia da Total Mix, bem como também nas redes sociais de Renato Junior, e apontou que ambos seguem a página da empresa.
A segunda empresa que possui ligação com Renato Junior tem como sócias a irmã dele, Rosemary Frota Magalhães, e a mãe, Maria do Livramento Frota Magalhães.
Ambas gerenciam a empresa FROTA SERVICOS COMBINADOS LTDA, inscrita sob o CNPJ 34.494.682/0001-58, com um capital social de R$ 100 mil. A principal atividade econômica da empresa é de serviços combinados de escritório e apoio administrativo.
De acordo com a Receita Federal, a data de abertura da empresa foi em março de 1989 e a situação cadastral foi atualizada em novembro de 2018.
Portal da Transparência
O Convergente tentou buscar informações sobre as empresas no Portal da Transparência de Manaus, e se já houve contratos firmados entre elas e a Prefeitura, tanto na atual gestão como em outras gestões.
No entanto, a equipe de reportagem teve dificuldades em acessar a plataforma, uma vez que o carregamento não era concluído. Principalmente nas abas ‘licitação’, ‘contratos administrativos’ e ‘despesas’, a equipe de reportagem teve dificuldades em conseguir informações.
O Convergente buscou informações sobre o acesso à plataforma com a Prefeitura de Manaus e notificou que o site apresentava instabilidade. A equipe também questionou se o mesmo estava sendo atualizado e, por essa razão, apresentou dificuldades no carregamento. Não houve retorno do órgão.
A dificuldade em acessar o Portal da Transparência de Manaus não condiz com a Lei de Acesso à Informação, estabelecido pela Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011, em que aponta que todos os documentos públicos devem ser divulgados para conhecimento e direito do cidadão.
Outro lado
O Convergente entrou em contato com todas as partes citadas nesta matéria. A equipe de reportagem entrou em contato com o jurídico responsável pelo tratamento de dados do candidato Renato Júnior, conforme divulgado no portal da Justiça Eleitoral.
Para o candidato, foram questionados o motivo pelo qual não foi informado o CNPJ e o nome das empresas em seu nome, além de: “Como o candidato conseguiu sair de 30 mil para 3 milhões em um curto período de tempo? O candidato possui contratos com alguma prefeitura? Com relação a empresa da esposa do candidato, ele faz alguma participação como sócio ou recebe algo dessa empresa?”.
Para as demais empresas citadas na matéria – OLIMAG, TOTAL MIX e FROTA SERVIÇOS -, a equipe de reportagem questionou se há ligação com o candidato a vice Renato Junior, bem como se o mesmo recebe alguma quantia específica ou se participa do fechamento de contratos. O Convergente também questionou as empresas se há contratos firmados com órgãos municipais e estaduais.
Até o fechamento desta matéria, não houve retorno de ambas as partes. O espaço segue aberto.
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Da Redação
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