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domingo, novembro 24, 2024

“É necessário que o poder público faça uma intervenção”, diz especialista sobre situação da estiagem no AM

A seca acelerou o processo de estiagem na maior parte do estado

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A região Amazônica vem enfrentando uma das maiores secas dos últimos anos, ocasionando a falta de água de boa qualidade para o abastecimento da população e trazendo dificuldades para a locomoção e o abastecimento da mesma. O efeito da seca pode ser visto em rios de grande e médio porte, como os rios Solimões, Madeira, Purus,  Juruá, Iça e Jutaí, como também em pequenos rios da região.

Fotos: Redes sociais e Fabrício Aguiar

No último dia 12 de setembro, o governador Wilson Lima assinou o decreto de Situação de Emergência Ambiental em municípios das regiões Sul do Amazonas e Metropolitana de Manaus. Ele também apresentou o plano de ação da Operação Estiagem 2023, envolvendo 30 órgãos da administração direta e indireta do Governo do Amazonas, com o recurso estimado em R$ 100 milhões em ações.

Entre as medidas que já estão sendo tomadas, estão o apoio às famílias afetadas em áreas como saúde e abastecimento de água, bem como na distribuição de cestas básicas, kits de higiene pessoal, renegociação de dívidas e fomento para produtores rurais.

Segundo levantamento realizado pela Defesa Civil do Amazonas, por meio do Centro de Monitoramento e Alerta (Cemoa), e divulgado nesta terça, 15 municípios das calhas do Alto Solimões, Juruá e Médio Solimões estão em situação de emergência. Outros 40 estão em estado de alerta e cinco em atenção.

Ainda segundo a Defesa Civil do Estado, a previsão é que, devido à influência do fenômeno climático El Niño, que inibe formação de nuvens de chuva, a estiagem deste ano seja prolongada e mais intensa se comparada a anos anteriores, podendo ultrapassar 50 o número de municípios afetados.

Ações da prefeitura de Manaus

O prefeito de Manaus, David Almeida, ao lado do vice-prefeito e chefe da Casa Civil, Marcos Rotta, assinou, na manhã da quarta-feira, 28/9, o decreto que institui a situação de emergência no município em virtude da vazante do rio Negro, que vem causando prejuízos às zonas ribeirinha e rural da cidade. O ato aconteceu no Centro de Cooperação da Cidade (CCC), localizado na zona Centro-Sul da capital.

Nesta manhã, o rio Negro atingiu a cota 16,11 metros. Devido ao rápido e elevado ritmo da vazante, o chefe do Executivo municipal salientou a importância do decreto, uma vez que facilitará a realização de ações que busquem minimizar os danos à população, que mais vem sofrendo com essa situação.

“Nós já temos ações programadas. Por exemplo, amanhã, nós já vamos entregar 60 botes com motores para as comunidades que estão afetadas. A nossa estimativa é de furar uns 30 postos artesianos para levar água e essa estrutura ficar permanente nessas comunidades, independentemente da estiagem que nós temos aqui na nossa cidade. Vamos levar alimentos também, que essa é uma outra grande necessidade, inclusive os alimentos que nós vamos destinar no dia de amanhã e nos próximos dias são os alimentos que nós arrecadamos no #SouManaus”, enfatizou Almeida.

Municípios em atenção – 05

  • Calha do Purus: Lábrea, Canutama.
  • Calha do Negro: São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel do Rio Negro, Barcelos.

Municípios em alerta – 40

  • Calha do Baixo Solimões: Anamã, Anori, Caapiranga, Careiro, Careiro da Várzea, Codajás, Iranduba, Manacapuru, Manaquiri.
  • Calha do Negro: Manaus, Novo Airão.
  • Calha do Purus: Boca do Acre, Pauini, Tapauá, Beruri.
  • Calha do Madeira: Humaitá, Manicoré, Novo Aripuanã, Nova Olinda do Norte, Borba.
  • Calha do Juruá: Guajará, Carauari, Juruá.
  • Calha do Alto Solimões: Tabatinga.
  • Calha do Médio Solimões: Alvarães, Fonte Boa, Japurá.
  • Calha do Baixo Amazonas: Barreirinha, Boa Vista do Ramos, Nhamundá, Urucará, São Sebastião do Uatumã, Parintins, Maués.
  • Calha do Médio Amazonas: Rio Preto da Eva, Itacoatiara, Silves, Itapiranga, Urucurituba, Autazes.

Municípios em emergência – 15

  • Calha do Alto Solimões: Atalaia do Norte, Benjamin Constant, Amaturá, São Paulo de Olivença, Santo Antônio do Içá, Tonantins.
  • Calha do Juruá: Envira, Itamarati, Eirunepé, Ipixuna.
  • Calha do Médio Solimões: Tefé, Coari, Jutaí, Maraã, Uarini.

Especialista

O Convergente pediu ao engenheiro de pesca Tomás Sanchez que explicasse um pouco sobre tudo o que está acontecendo, “a estiagem nada mais é do que um longo período com ausência de chuva, o que é comum aqui na nossa região nesse período de junho, julho até novembro. A quantidade de chuva normalmente é reduzida, então esse fenômeno é comum, ciclo hidrológico, o período de cheias, enchentes, cheia, vazante e seca, porém esse ano a gente está tendo uma estiagem atípica, né? Uma seca atípica influenciada pelos fenômenos El Ninõ e La Ninã. Periodicamente, a gente está tendo grandes cheias e, esse ano, uma grande seca. E, no caso essa seca, essa estiagem afeta diretamente os ribeirinhos, né? Já se tem os dados da Defesa Civil que são mais de 100 mil famílias já impactadas, sobretudo porque temos muitos municípios onde o principal transporte são os rios, através de embarcação, então essa grande seca afeta a logística de transporte e vai influenciar diretamente no abastecimento, na alimentação, o custo, né? Isso tudo aumenta o preço dos itens que chegam de fora dos municípios e isso vai influenciar também na questão do abastecimento de água, enfim é um impacto muito grande que é necessário que as autoridades, o poder público faça uma intervenção ao ponto de suprir esse abastecimento e as demandas mais urgentes nesse momento.”

Sobre as mortes dos peixes, Sanchez falou: “no caso da fauna aquática dos rios, também é impactada, a gente tem situações em que alguns lagos fica com o nível da água muito baixo, perde sua conexão com o rio principal, então a quantidade de água, as suas nascentes também são reduzidas e, com isso, aquela quantidade de peixe que tem em determinado ambiente acaba entrando em um espaço menor, e aí também não tem água nova entrando, produção de oxigênio, e aí o peixe passa a consumir bastante e chega num momento crítico e outro fator também que influencia é a temperatura. Como a profundidade desses ambientes fica comprometida, então essa água esquenta bastante, o oxigênio fica menos solúvel, ele é inversamente proporcional, quanto mais esquenta a água, menos o oxigênio fica disponível para o peixe. Quanto às medidas, ao manejo, algumas ações ficam comprometidas por conta do difícil acesso até para pescadores terem acesso para fazer a captura fica ruim, porque essas embarcações pesqueiras não conseguem chegar nesses locais, então é algo muito complexo, é importante que o poder público possa mapear essas áreas para futuramente tentar pensar em algumas alternativas. Já se ouvem iniciativas de tentar fazer dragagem dos leitos desses rios, e aí vem também a questão que gera impacto ambiental, movimentando ali o ambiente.”

“No caso, em relação às mudanças climáticas futuras, é na verdade uma incógnita, a gente tem aí ocorrido uma amplitude muito grande, a relação a seca e a cheia, vemos aí nos últimos anos secas recordes, também enchente recordes, então tudo isso vem impactando em relação ao desequilíbrio”.

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Por July Barbosa

Revisão textual: Vanessa Santos

Foto: Divulgação / Ilustração: Marcus Reis

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