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segunda-feira, dezembro 30, 2024

Garimpeiros abrem estrada clandestina para explorar ouro e cassiterita em terra Yanomami

Exploração ilegal dentro da reserva indígena avançou 3.350% entre os anos de 2016 a 2020, segundo relatório “Yanomami sob ataque”, divulgado em abril deste ano pela Hutukara Associação Yanomami, a mais representativa organização desse povo

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Uma estrada clandestina com 150 quilômetros de extensão feita por garimpeiros ilegais dentro da Terra Yanomami, no Sul de Roraima, foi descoberta por fiscais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), durante a realização da operação Guardiões do Bioma, em conjunto com a Polícia Federal, para combater a ação de criminosos na Amazônia.

A Terra Yanomami é a maior reserva indígena do país e fica próxima à região onde eles vivem isolados. A estrada dá acesso às áreas de exploração de ouro onde são usadas até retroescavadeiras.

No local, foram apreendidos pelos fiscais quatro retroescavadeiras e aviões usados para acessar o local, que foram destruídos. Além de combustível de aviação e armamentos usado pelos criminosos.

O Fantástico, à convite do Greenpeace, acompanhou o sobrevoo que flagrou a existência da estrada. Do alto, foram registradas imagens dos longos trechos da estrada entrecortada por entre as árvores.

Maior reserva indígena do Brasil, a Terra Yanomami tem quase 10 milhões de hectares. Geograficamente, é um território de difícil acesso onde vivem quase 30 mil indígenas – ameaçados pela presença de 20 mil garimpeiros que exploram e degradam a floresta em busca de minérios como o ouro e a cassiterita.

No sobrevoo foram flagradas uma das inúmeras consequências da estrada: três retroescavadeiras em plena atividade, a serviço do garimpo na região do Rio Catrimani, um dos mais poluídos por mercúrio dentro da reserva. Essas e uma outra máquina pesada foram destruídas pelo Ibama.

A cena nunca antes vista no território Yanomami, para o membro da campanha da Amazônia do Greenpeace Brasil, Danicley de Aguiar, revela o enorme potencial de destruição ambiental dos invasores.

“Infelizmente o que a gente presenciou na Terra Indígena Yanomami nesse momento é o garimpo indo para um patamar diferenciado. A chegada das escavadeiras hidráulicas dá um poder de destruição muito maior a esses garimpeiros. Nós estamos falando de um legado de destruição enorme que agora chega à Terra Indígena Yanomami”, disse.

A exploração ilegal dentro da reserva avançou 3.350% entre os anos de 2016 a 2020, segundo relatório “Yanomami sob ataque”, divulgado em abril deste ano pela Hutukara Associação Yanomami, a mais representativa organização desse povo.

O estudo revelou que ao menos 56% da população Yanomami sofre algum impacto causado pelo garimpo. Entre os problemas, a saúde é a principal mazela. A exploração ilegal de minérios está diretamente ligada ao casos de malária e desnutrição severa que assola o povo Yanomami. Ano passado, o Fantástico revelou cenas dramáticas do abandono nas comunidades rodeadas por garimpos ilegais.

“Eles estão tomando água suja, água contaminada. Então, por isso, a população Yanomami está doente, as crianças desnutridas, as crianças com febre. Porque estão bebendo água com lama, com gasolina, com mercúrio. Essas comunidades estão com um problema muito grave, situação da saúde de desnutrição”, conta o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami, Júnior Hekurari Yanomami.

A líder indígena e deputada federal eleita Sonia Guajajara (PSOL) também estava na comitiva do Greenpeace. Ela tem acompanhado a situação do povo Yanomami frente ao avanço do garimpo na reserva e afirma que o mais grave é o impacto na vida dos indígenas.

“É uma exploração, não só do território, mas da vida, a destruição da vida dos Yanomami. Que dependem desse território protegido, preservado, para garantir a sua própria sobrevivência.”

Flagrantes da operação – Durante a operação Guardiões do Bioma, além das quatro retroescavadeiras, fiscais do Ibama também destruíram aviões usados pelos garimpos para acessar a reserva, apreendeu combustível de aviação e armamentos usado pelos criminosos.

Na avaliação do analista ambiental e um dos fiscais do Ibama à frente da operação em Roraima, Hugo Loss, atualmente, pela forma como se comportam os garimpeiros ilegais, pode-se dizer que eles têm relação com facções. Em um dos dias da operação, com a chegada dos fiscais, os criminosos soltaram fogos como forma de sinalizar que havia operação naquela região.

“Hoje, ali na [terra] Yanomami, a gente pode dizer com certeza que existe uma relação estreita entre o garimpo e as facções criminosas ali dentro. Assim que a presença da polícia se fez lá no rio a gente observou que eles começaram a soltar fogos. Então, esse é um sinal de alerta que eles dão, típico de facção criminosa. Para poder avisar que existe ali a presença da polícia”, afirmou Loss.

Além do sinal sonoro, garimpeiros também se comunicam via redes sociais. Pelo celular, eles avisam aos comparsas sobre as fiscalizações da PF e Ibama, e mantém contato diário.

A estrutura dos garimpos é tanta que a polícia já encontrou acampamentos com TV a cabo, internet, energia elétrica, locais de prostituição e até mercados – tudo para suprir atividade ilegal.

“Vieram baixinho, rasteiro”, diz um garimpeiro em um grupo de WhatsApp. “É bom dar uma aquietada, hein. Circula essa informação porque vai queimar trem aí”, alerta outro, em áudios interceptados pela polícia.

O fiscal Hugo Loss, considera que, para impedir o avanço de garimpeiros ilegais da reserva, é necessário que o governo federal implante fiscalização contínua – e não mais somente ações pontuais. .

“Tem que existir também uma ação permanente de fiscalização dentro da Terra Indígena. Com uma ação permanente para coibir todo o garimpo que está lá dentro e também toda a estrutura logística de fora, que dá apoio para o garimpo dentro da [terra] Yanomami.

“”Enquanto não existir uma fiscalização permanente, por um período de tempo longo, não haverá como tirar os garimpeiros de dentro da [terra] Yanomami”, frisa o fiscal do Ibama.

Frente ao enorme aparato e estrutura dos garimpeiros ilegais, o superintendente regional da PF em Roraima, delegado José Roberto Peres, acredita ser necessário o envolvimento de todos os poderes no combate aos crimes cometidos por eles na Terra Yanomami.

“Nós precisamos de um apoio maior dos poderes legislativo e judiciário, no sentido de aplicar penas mais severas e duras contra todos os atores que estão destruindo a floresta Amazônica em busca dessa ganância, desse lucro fácil. Extraindo o ouro das raízes da floresta amazônica”, pontua.

A operação Guardiões do Bioma ainda está em curso. Até então, foram destruídas cinco aeronaves, mais de 2500 litros de combustível, minérios, armas de fogo, munições, e maquinários usados para cometer os crimes ambientais, bem como a infraestrutura de suporte às atividades ilegais.

 

Da Redação com informações g1

Fotos: Divulgação / Ibama

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