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quarta-feira, setembro 18, 2024

Falta de transparência, gastos duvidosos e investigações por abuso de poder marcaram gestão de Andreson Cavalcante, em Autazes

Na sétima série do Dossiê dos municípios do Amazonas, produzido pelo O Convergente, Autazes passou por polêmicas que envolveram suposto superfaturamento em contratos, além de gastos milionários

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Durante o período de 2021 a alguns meses de 2024, o prefeito de Autazes, Andreson Cavalcante (União Brasil), acumulou algumas polêmicas em sua gestão, que vão de gastos milionários em contratos a investigações por suspeita de abuso de poder econômico. Autazes, localizado a 111 quilômetros de Manaus, possui o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) de 0,577, de acordo com os dados de 2010 do IBGE.

No sétimo Dossiê dos municípios do Amazonas, O Convergente listou os principais debates em torno da gestão de Andreson Cavalcante no comando da Prefeitura de Autazes.

Andreson Cavalcante foi eleito prefeito de Autazes com 42,22% dos votos, obtendo 9.101 votos dos eleitores nas urnas. Desde que assumiu o posto, a gestão tem sido marcada por algumas polêmicas, que seguem meses antes do pleito.

Milhões em material didático

Logo nos primeiros meses de mandato, a gestão de Andreson Cavalcante se envolveu em uma polêmica. Isso porque a Prefeitura de Autazes gastou mais de R$ 3,5 milhões com material paradidático, embora as aulas estivessem ocorrendo de maneira remota devido à pandemia de Covid-19.

Na época, O Convergente noticiou o contrato, que apontou que a justificativa para a compra dos produtos foi para programas educacionais desenvolvidos para modernizar as escolas municipais e para atender à Secretaria Municipal de Educação de Autazes. Na ocasião, o valor global do contrato foi de R$ 3.556.175,00.

O contrato era para fornecer cinco unidades de 16 kits de materiais didáticos. Na ocasião, O Convergente ouviu os moradores de Autazes, que afirmaram que as aulas em escolas municipais não tinham sido retomadas.

Quando contatada, a Prefeitura de Autazes informou em nota que a aquisição dos materiais asseguraria práticas pedagógicas mediadoras de aprendizagem em ambientes coletivos, bem como promoveria a educação de forma lúdica. No entanto, a nota não esclarecia se já havia uma previsão para a retomada das aulas presenciais nas escolas municipais de Autazes, nem o número de escolas municipais que seriam beneficiadas com os materiais paradidáticos.

Publicidade milionária

Nos primeiros meses de 2021, a Prefeitura de Autazes gastou mais de R$ 3 milhões com placas de sinalização e de publicidade, enquanto as ruas do município estavam em situação precária, conforme relatos de moradores ao O Convergente na época.

Pelos valores descritos no extrato da homologação do Pregão Presencial (PP) 19/2021, a Prefeitura de Autazes gastou R$ 3.209.500,00 para adquirir 3,6 mil placas de sinalização de pedestres, velocidade e sentidos da via, como direita e esquerda.

Além disso, o contrato milionário também citava a compra de mais de 1.350 mil ferramentas de sinalização, como kits de identificação para nomenclatura de ruas, placas aéreas para sinalização turística, placas de advertência para logradouros públicos e placas em aço inoxidável para inauguração.

Na época, O Convergente buscou ouvir o relato da população de Autazes, que estranhou a licitação e apontou que grande parte das ruas não possuía pavimento e condições de tráfego.

‘Voltas ao mundo’

Já imaginou comprar combustível suficiente para dar mais de 200 voltas em torno da Terra? Em 2021, o prefeito Andreson Cavalcante homologou um contrato para compra de derivados de petróleo pelo valor aproximado de R$ 6 milhões. Só de combustíveis, entre gasolina comum e diesel, foram 890 mil litros, o que daria para circular por cerca de 8,9 milhões de quilômetros em um carro popular.

O Convergente, na época, fez o cálculo baseado em carros populares cujo consumo é de cerca de 10 quilômetros por litro de gasolina, não levando em consideração veículos abastecidos com diesel, que podem fazer até 25 quilômetros por litro.

Além de gasolina comum e diesel, a Prefeitura de Autazes também comprou óleos lubrificantes e gás de cozinha (GLP). As informações foram publicadas no Diário Oficial Eletrônico da Associação Amazonense dos Municípios (AAM).

Na época, a Prefeitura de Autazes esclareceu o motivo pela compra ‘exagerada’ de combustível. Em nota, a gestão afirmou que a quantidade de combustíveis seria para abastecer uma frota com mais de 100 veículos, incluindo embarcações, que atendiam às necessidades de todo o Executivo Municipal da cidade.

Gastos com o mesmo serviço

Ainda em 2021, Andreson Cavalcante desembolsou o total de R$ 23 milhões para fornecer equipamentos e máquinas “para atender às necessidades da Prefeitura de Autazes”, embora a empresa contratada já prestasse serviços para a Prefeitura de Autazes.

Além da semelhança de contratação dos serviços, ambos com validade de um ano cada, chamou a atenção do O Convergente que a vencedora do processo de R$ 23 milhões já recebia por outro contrato milionário.

As informações presentes no Extrato da Homologação do PP 41.2021, publicadas no Diário Oficial da Associação Amazonense dos Municípios (AAM), não descreviam como e onde a maquinaria seria utilizada.

Além disso, no mesmo período, o Governo do Estado havia iniciado uma série de obras de pavimentação no município de Autazes.

Do mesmo modo dos materiais anteriores, O Convergente, na época, tentou contato com a prefeitura, mas não houve retorno.

Indícios de superfaturamento

No segundo ano de gestão, O Convergente noticiou um contrato firmado entre a Prefeitura de Autazes e duas empresas para “aquisição de equipamentos, materiais e suprimentos de informática para atender às necessidades da Secretaria Municipal de Saúde” do município.

Porém, o que chamou a atenção na ocasião foi o contrato possuir uma série de produtos com indícios de preços superfaturados. O contrato foi firmado no valor superior a pouco mais de R$ 500 mil.

No contrato, firmado com as empresas, estava prevista a compra de produtos como impressoras, monitores, mouses, teclados, nobreaks, entre outros. Alguns, como 15 unidades de impressora do tipo multifuncional, modelo RICOH/M320, eram encontradas no mercado formal por até pouco mais de R$ 4 mil, porém a Prefeitura havia firmado o contrato para comprar o produto por R$ 6.190,00 cada. Só com essas impressoras foram gastos mais de R$ 92 mil dos cofres públicos.

Na ocasião, O Convergente pediu esclarecimentos à Prefeitura de Autazes, mas não houve retorno.

Favorecimento de aliados

Em 2022, O Convergente noticiou uma denúncia de que o prefeito Andreson Cavalcante teria beneficiado um vereador aliado de Autazes com recursos do Fundeb, que são destinados aos professores.

A denúncia foi protocolada no Ministério Público Federal (MPF) pelo Sindicato dos Servidores Públicos do Município de Autazes (SINSERPA) e apontou que o vereador aliado tinha um cargo público como professor em uma escola do município, mas não atuava na função.

De acordo com a denúncia, o vereador teria recebido o pagamento pela folha do Fundeb desde o início do seu mandato, em janeiro de 2021, sem nunca ter sequer comparecido ao local onde ‘lecionava’.

O vereador em questão também era membro do Conselho Municipal de Educação e representava a Câmara Municipal de Autazes no Conselho, além de ser vereador da base aliada do prefeito do município.

Na época, a Prefeitura de Autazes foi procurada, mas não deu retorno. Já o vereador em questão informou, na ocasião, que não havia sido notificado.

Quadra de R$ 20 milhões

A construção de apenas uma quadra poliesportiva e a reforma de duas escolas custaram mais de R$ 20,8 milhões aos cofres públicos de Autazes, em 2022.

Para as obras, duas empresas, uma sediada em Manaus e outra no estado do Acre, foram vencedoras das licitações. O que causou estranheza no acordo foi que uma das empresas já havia fechado contratos milionários com o prefeito de Autazes.

A empresa manauara recebeu o valor de R$ 4.304.454,59 (quatro milhões, trezentos e quatro mil, quatrocentos e cinquenta e quatro reais e cinquenta e nove centavos) para reformar e construir a quadra da Escola Estadual Raimundo de Sá na cidade.

A outra empresa levou o valor de R$ 16.501.875,58 (dezesseis milhões, quinhentos e um mil, oitocentos e setenta e cinco reais e cinquenta e oito centavos). Conforme noticiou O Convergente, a empresa do Acre teve o prazo de 300 dias para executar as obras.

Gráfica contratada para serviços de limpeza

No meio de 2022, a Prefeitura de Autazes contratou uma gráfica para executar serviços de limpeza de fossa e prestar serviços de higienização de ambientes nas repartições públicas do município. O valor estimado foi de R$ 4,7 milhões.

A gráfica foi contratada pelo valor milionário para “serviço de limpeza e esgotamento de fossas sépticas, caixas de gordura pelo sistema de sucção a vácuo, com caminhão limpa fossa” e “serviço de desentupimento, limpeza e desobstrução de rede de esgoto, retirada de terra e lavagem de fossas sépticas enterradas, galerias, rede pluvial, caldeiras, barracões, estacionamentos, etc.”

Conforme noticiou O Convergente, a gráfica contratada em Autazes tinha como atividade econômica principal a impressão de material para uso publicitário, conforme apontado na Receita Federal.

Shows no período de cheia

Após decretar situação de emergência em Autazes devido à cheia dos rios de 2022, Andreson Cavalcante gastou R$ 780 mil com os shows dos cantores nacionais de forró, Wesley Safadão e Dorgival Dantas, para se apresentarem durante a “24ª Festa do Leite 2022” em Autazes.

Além dos gastos com os cantores, o prefeito também contratou, por mais de R$ 2,9 milhões, uma empresa para fornecer estrutura para a organização de eventos, que, segundo a Prefeitura, eram itens que seriam usados para diversos eventos programados na cidade.

Na época, o próprio prefeito Andreson Cavalcante havia publicado o Decreto Nº 006/2022, que determinava situação de emergência devido à cheia, justificando que a população do município estava vulnerável por conta das chuvas que influenciavam a elevação do Rio Autaz-Açú e afluentes.

Em resposta ao O Convergente, a Prefeitura de Autazes afirmou que a contratação dos dois cantores não interferiu no orçamento do município, uma vez que a verba para a realização do evento era originária de emendas parlamentares.

Abuso de poder

O ano de 2023 começou com Andreson Cavalcante sendo investigado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-AM) por suposto abuso de poder econômico.

O documento apontava que “ante a manifestação do investigante, Andreson Adriano de Oliveira Cavalcante proceda à Secretaria do Cartório Eleitoral a redesignação da audiência para data oportuna”.

No final do ano, o caso voltou a repercutir no TRE-AM, que estipulou um prazo para que o prefeito se manifestasse sobre o assunto.

Em ambas as situações, o político foi procurado, mas não houve retorno para a equipe de reportagem.

R$ 2,5 milhões em peixes

A distribuição de peixes na Semana Santa é uma tradição no Amazonas e em todo o Brasil, por fazer parte da religião católica. Porém, Andreson Cavalcante pagou um valor milionário pela compra dos peixes para distribuir aos moradores do município.

Com a compra dos peixes, o município desembolsou o valor de R$ 2.590.000,00 (dois milhões quinhentos e noventa mil) com uma única empresa, contratada para fornecer 135 mil quilos de pescados, entre eles, tambaqui, curumim, pacu, jaraqui e pirarucu, no caso, a empresa Aurineth Siqueira Ferreira.

Na época, O Convergente realizou uma pesquisa no ‘Busca Preço‘ da Secretaria de Estado da Fazenda (Sefaz-AM), onde foi possível consultar o valor do quilo do tambaqui em Manaus, que, na época, variava entre R$ 14,99 e R$ 16 em diversos pontos da cidade. O site identificou apenas um registro de preço do tambaqui no município de Autazes, pelo valor de R$ 25, sendo o filé do peixe, na época.

Falta de transparência

Ainda em 2023, o Tribunal de Contas do Amazonas mirou a gestão de Autazes por falta de transparência em licitação. De acordo com o documento, o objetivo do TCE era apurar possíveis irregularidades a respeito do Pregão Eletrônico Nº 02/2023-cg.

Conforme noticiou O Convergente, a apuração do TCE focou na licitação que tratava da “Aquisição de uma retroescavadeira sobre rodas com carregadeira, tração 4×4, cabine fechada com ar condicionado, motor turbo, potência mínima de 79hp, peso operacional mínimo de 6.500kg, capacidade mínima da carregadeira de 0,95m³ e da retroescavadeira mínima de 0,20m³, profundidade de escavação máxima de 4,37m para atender às necessidades da Prefeitura Municipal de Autazes, conforme Termo de Referência”.

O TCE ainda apontou que “em vista da falta de publicação do Edital referente ao Pregão Eletrônico 002/2023 – Aquisição de Retroescavadeira Hidráulica. Até o presente momento, não obtivemos os documentos para análise. Solicitamos ajuda deste Tribunal de Contas com relação à falta de informação do município, ferindo assim a Lei de Transparência. Aguardamos seu retorno com as devidas penalidades.”

Impeachment

Entrando em 2024, O Convergente noticiou que o cargo do prefeito de Autazes está em risco devido a supostas polêmicas na gestão. Segundo bastidores, seis vereadores da oposição a Andreson na Câmara Municipal de Autazes possivelmente querem instaurar uma CPI ou um processo de impeachment devido às denúncias de corrupção contra Andreson Cavalcante.

De acordo com a reportagem do O Convergente, os parlamentares Diana Guedes, Ramon Campos, Cacau, Rene Melo, Bandeira Serrão, juntamente com o presidente da Câmara, Marcley Araújo, alegam estar sendo pressionados pela população para tomar providências. No entanto, para que o processo seja iniciado, depende das movimentações internas.

Ainda segundo informações, no fim do ano passado, o prefeito supostamente teria informado ao presidente da Câmara e ao vice-prefeito, Marcelo Tupinambá, que não os apoiaria nas eleições de 2024. Em resposta imediata, ambos passaram a fazer oposição ao prefeito. Diante desse cenário, significa que Andreson enfrenta possivelmente um caminho difícil, tendo rompido relações com seu vice e com o presidente do Legislativo.

O Convergente tentou contato com a Câmara de Autazes, mas teve dificuldades em encontrar o contato. Por meio da assessoria, o prefeito de Autazes informou que prioriza a transparência e a ética nas ações governamentais. Todas as denúncias de corrupção são levadas a sério e investigadas com rigor. Até o momento, não foi notificado pela Câmara de Vereadores de Autazes. Veja a nota na íntegra.

Cestas básicas

Por mais de R$ 2 milhões, Autazes fechou um contrato para o fornecimento de cestas básicas. O Pregão Presencial Nº 105/2023 da Comissão Geral de Licitação (CGL) escolheu uma empresa de papelaria que ofertou o menor preço para fornecer dez mil cestas básicas, no valor de R$ 205,00 cada. De acordo com o documento, os alimentos vão atender às necessidades da Secretaria Municipal de Assistência Social do município.

O que causou certa estranheza é que a empresa contratada pela Prefeitura de Autazes tinha como atividade principal ‘Comércio varejista de artigos de papelaria’, conforme cadastrado na Receita Federal.

Dentre as atividades secundárias, duas no ramo alimentício: ‘Fornecimento de alimentos preparados preponderantemente para consumo domiciliar’ e ‘Fornecimento de alimentos preparados preponderantemente para empresas’.

Insultos ao adversário

Em período pré-eleitoral, Andreson Cavalcante tenta a reeleição. Porém, uma reunião com apoiadores flagrou que o pré-candidato tem disparado insultos a adversários políticos, como o pré-candidato Thomé Neto.

“Não podemos entregar a prefeitura a um irresponsável”, disparou o prefeito durante o encontro. A situação gerou polêmica e está repercutindo no município.

Outro lado

Referente aos casos citados pelo dossiê do O Convergente, a equipe de reportagem buscou contato com a Prefeitura de Autazes para um posicionamento. Até a publicação deste material, não houve retorno. O espaço segue aberto.

Leia mais: Dossiê: Itacoatiara, o segundo maior PIB do Amazonas, marcado por escândalos e irregularidades na administração de Mário Abrahim

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