A insatisfação com o resultado das eleições presidenciais é algo que vem sendo evidenciado desde o segundo turno do pleito, ocorrido em outubro deste ano, quando o ex-presidente e agora presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), venceu seu adversário, o ainda presidente, Jair Bolsonaro (PL). Porém, nas últimas semanas a situação fez a capital do país ficar em alerta após tentativas de invasões as Casas Legislativas e judiciais e até atentados com artefatos explosivos motivarem algumas prisões em Brasília.
Os atos, mais uma vez dividiram opinião na internet, mostrando que a “disputa eleitoral” não teve fim ainda entre os eleitores dos dois candidatos. Sejam por apoiadores de Bolsonaro ou “pessoas infiltradas” em meio a esses apoiadores, como dizem alguns aliados do presidente, os atos de “vandalismo” e ” terrorismo” fizeram com que as autoridades reforçassem a segurança para a cerimônia de posse de Lula, marcada para o dia 1º de janeiro.
Nesta quarta-feira, 28/12, por exemplo, o Ministério da Justiça autorizou o uso da Força Nacional de Segurança Pública para atuar, em apoio à Polícia Rodoviária Federal (PRF), nas atividades de escoltas da posse presidencial.
O próprio Ministério, inclusive, acionou a Polícia Federal (PF) para acompanhar as investigações da Polícia Civil do Distrito Federal sobre uma bomba montada na estrada Parque Aeroporto, próximo ao Aeroporto Internacional de Brasília, no sábado, 24/12. Até então, dois homens foram identificados como suspeitos de cometer o crime. O delegado que investiga o caso solicitou da Justiça que seja decretado o sigilo da investigação.
Já no domingo, 25/12, a Polícia Militar do Distrito Federal encontrou, após denúncia, artefatos explosivos em uma mata na região do Gama, a cerca de 30 km do Centro de Brasília. No local foram encontrados coletes balísticos, capas de coletes e material que aparentava ser explosivo. Ao confirmar a informação, o Batalhão de Operações Especiais isolou a área e destruiu o material por meio de uma detonação controlada. A polícia investiga se os dois casos tem ligação.
Também no domingo, 25/12, um grupo de indígenas furou o bloqueio e entrou em uma área de acesso proibido do Supremo Tribunal Federal (STF). O grupo queria pedir a soltura do cacique José Acácio Serere Xavante, apoiador do presidente Bolsonaro, preso por ordem do ministro Alexandre de Moraes devido a atos considerados antidemocráticos.
Motivação – Os casos, entre outros ocorridos desde o fim das eleições como os bloqueios de rodovias federais, foram, segundo o cientista político Helso Ribeiro, motivados por uma série de fatores, como a polarização política o descontentamento com o resultado das urnas, entre outras coisas.
“Eu diria que os fatores que levam essa violência são múltiplos, são fatores heterogêneos. Não é um só. É claro que a própria eleição foi extremamente acirrada e esse acirramento já se deu de quatro anos atrás, quando o presidente Bolsonaro ganhou as eleições e falou que as minorias iriam se submeter à vontade da maioria que o tinha eleito. Eu vejo que não é por ai. Eu vejo que em uma democracia as vontades das minorias não podem ser suprimidas assim por que uma determinada pessoa ganhou. Tem que governar para todos”, opinou o especialista.
“É claro que essa visão maniqueísta, de quem está do lado de um está do lado do bem e de quem esta do outro está do lado do mal, acaba aumentando a violência. Existe um termo que a gente chama legitimidade do eleito. Que quanto mais avantajada for à vitória, mais legitimidade ele vai ter. Que é aquela legalidade acrescida de uma concordância. E como o resultado foi muito apertado, o mais apertado da história recente, então isso acaba gerando principalmente da parte dos perdedores uma certa revolta”, acrescentou.
O que segundo ele, muitas vezes precisa ter uma intervenção do poder público, visto os riscos que isso pode causar de um modo geral, como os que vêm ocorrendo em Brasília.
“O Estado é quem detém o poder de utilizar a força, ele deve primar à conduta deles com o cidadão através do diálogo, mas tem momentos que tem que ter repressão. Você não pode permitir que pessoas tentem explodir um carro tanque de gasolina, que vândalos quebrem o espaço público. Isso ai é inadmissível”, concluiu Ribeiro.
Reforço segurança – Além do uso da Força Nacional, o Distrito Federal (DF) mobilizará todo seu efetivo de policiais civis e militares para a cerimônia de posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.
A decisão, tomada pelo o governador do DF, Ibaneis Rocha, foi anunciada após uma reunião da qual participaram também os futuros ministros da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, e da Defesa, José Múcio.
A Secretaria de Segurança Pública usará drones e também terá policiais infiltrados em meio ao público que deve comparecer ao avento. Outros detalhes sobre o plano de segurança pública para a posse presidencial ainda estão em elaboração. O que não foi divulgado até então.
— —
Por Izabel Guedes com informações da assessoria
Fotos: Divulgação/ Capa: Marcus Reis