Nas últimas semanas um tema ganhou espaço em todo o Brasil que é a questão da anistia partidária que tramita na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, por meio da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) Nº 9/2023. A anistia nada mais é que um cancelamento, negociação ou um perdão de dívidas, no caso em questão, dos partidos que deixaram de cumprir algumas cláusulas ou regras junto à Justiça Eleitoral.
A PEC pede mudanças quanto à questão de sanções aplicadas principalmente sobre o cumprimento da cota de candidaturas femininas estabelecida em 30%, em que os partidos que não cumpriram ou não repassaram valores mínimos em razões de sexo e raça em eleições sejam “perdoados” na Suprema Corte Eleitora (TSE).
“Altera a Emenda Constitucional nº 117, de 5 de abril de 2022, quanto à aplicação de sanções aos partidos que não preencheram a cota mínima de recursos ou que não destinaram os valores mínimos em razão de sexo e raça em eleições, bem como nas prestações de contas anuais e eleitorais”, diz a ementa da proposta.
O documento encaminhado à Câmara dos Deputados já conta com a assinatura de 184 parlamentares, dentre esses o líder do governo, deputado José Guimarães (PT-CE) e integrantes da oposição, como Zé Trovão (PL-SC), apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), conforme lista da Câmara.
Partidos beneficiados
O cientista político e advogado Helso Ribeiro destacou que a proposta tem um único viés e se aprovada pelo Congresso Nacional, as legendas partidárias, que mesmo deixando de cumprir regras eleitorais, vão ser as maiores beneficiadas, tendo o “perdão” de suas dívidas.
“Eu digo o seguinte: a população em geral não é muito satisfeita com a representação política, isso em geral. Há um desgaste muito grande da democracia representativa porque a gente pega lá o Jean-Jacques Rousseau, já lá no século XVIII, ele dizia em duas obras “Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens e O Contrato Social”, ele dizia que as leis são úteis e boas para quem tem posses e elas acabam sendo nocivas para quem nada têm. É claro que essa proposta que está hoje na pauta da Câmara e depois vai para o Senado, ela beneficia os partidos políticos. Quais? Todos. Então você vai ver direita, esquerda, centro, os extremos dando as mãos porque serão beneficiados”, pontuou Helso Ribeiro sobre a anistia partidária.
Ribeiro também pontuou que a anistia partidária vai apagar os erros das legendas, principalmente ao não cumprirem cláusulas femininas, bem como de gênero, de raça, o que resultou em sanções para muitas das legendas.
“Claro que se a população soubesse desses detalhes se enojaria disso, uma grande anistia de dívidas, de descumprimento de cláusulas femininas, de cláusula de gênero, de raça, enfim, é isso. A anistia é botar um esquecimento em tudo que houve. Eu vejo que a larga maioria que apoia o presidente Lula é a mesma larga maioria que apoiava o ex-presidente Bolsonaro, que apoiava anteriormente o Temer, a Dilma, o centrão e os demais partidos e aí vai de esquerda a direita”, disse Helso Ribeiro complementando que a PEC tem grandes possibilidades de ser aprovada e que a mesma também é um “julgamento em causa própria”, uma vez que o benefício é somente aos partidos.
“Eles têm interesse nisso, porque eles erraram em algum momento. Então eles serão beneficiados. Então, o pessoal tem o domínio, está podendo e aí se auto beneficiar. Eu acho que tem forte possibilidade de aprovação que vai beneficiar todos os partidos. A população é quem fica meio frustrada quando ela vê os partidos utilizando de um privilégio que eles têm, eles que decidem, de advogar em causa própria, vamos dizer assim”, finaliza Ribeiro.
Leia mais: Decisão do STF retira sistema de cota da UEA para estudantes do Amazonas
—
Por Edilânea Souza
Foto: Divulgação / Ilustração: Marcus Reis
Revisão textual: Érica Moraes
Colaboração: Helso Ribeiro