Acusada pelo governador de Goiás, Ronaldo Caiado (UB) de criar uma “concorrência desleal”, a medida do governo Lula para zerar tarifas de importação alimentos não deve ter efeito imediato, é o que avalia especialista consultada pelo O Convergente.
Pressionado pelo aumento da inflação dos alimentos, o governo federal anunciou a isenção do Imposto de Importação para nove produtos nessa quinta-feira, 7, em pronunciado do vice-presidente Geraldo Alckmin. A medida em vigor nos próximos dias após serem aprovadas pela Câmara de Comércio Exterior (Camex).
Para a economista Denise Kassama, do Conselho Federal de Economia (Cofecon), apesar de haver a expectativa de que esses alimentos importados sejam ofertados a um preço mais acessível, os efeitos não devem surgir agora.
“O aumento da oferta de alimentos de uma forma geral opera para o mercado reduzir os preços, então, o agro, ao competir com esses itens importados, também vai se ver na necessidade de reduzir os preços para poder competir. Nisso, você consegue um cenário de redução de uma forma geral. Mas, é evidente que isso não é agora, pois depende de item para item. Mas no médio prazo, a tendência é comece a enxergar os efeitos dessas medidas”, afirmou a economista.
A proposta sobre as tarifas tem objetivo de reduzir os preços para o consumidor, ampliando a oferta no mercado nacional. Segundo o governo, entre os alimentos que terão os tributos zerados, estão o azeite (antes 9%), o milho (antes 7,2%), o óleo de girassol (antes até 9%), itens como a sardinha (antes 32%), café (antes 9%), carnes (antes até 10,8%) e açúcar (antes até 14%).
Criticada
A decisão sobre as tarifas foi duramente criticada pelo governador de Goiás, Ronaldo Caiado. Caiado chamou o governo petista de desgoverno e disse que a medida representa uma “concorrência desleal e predatória” contra os produtores brasileiros.
“Mais uma notícia desastrosa do governo Lula. Essa medida penaliza os produtores e a indústria brasileira. É um governo que gasta sem freio e sempre cobra a conta do contribuinte e do trabalhador. Está provado: quando é pra governar, a esquerda é um zero à esquerda!”, afirmou Caiado, em uma publicação no Twitter.
#DESGOVERNO. O governo federal acaba de zerar a tarifa de importação para alguns alimentos, em mais uma ação desastrosa do governo Lula. Essa medida penaliza os produtores e a indústria brasileira. É um governo que gasta sem freio e sempre cobra a conta do contribuinte e do… pic.twitter.com/Dkv5C0auDO
— Ronaldo Caiado (@ronaldocaiado) March 6, 2025
Raízes
O anúncio de zerar tarifas de importação para nove alimentos ocorreu após uma reunião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de Alckmin com ministros e empresários, no Palácio do Planalto.
Para o vice-presidente, a medida não prejudicará os produtores nacionais, apesar da concorrência com o alimento importado.
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A economista Denise Kassama explicou que o aumento dos preços tem raízes em eventos climáticos extremos e na valorização do dólar.
“Tivemos muitos problemas climáticos em 2024, como cheias no Rio Grande do Sul, secas no Amazonas, queimadas no Centro-Oeste e no Norte do país. Isso afetou a produção agrícola e pecuária, encarecendo os custos para os produtores”, explicou.
Além disso, a desvalorização do real frente ao dólar estimulou as exportações, reduzindo a oferta de alimentos no mercado interno. “Com menos produção e um dólar alto, muitos produtores preferiram vender para o exterior, o que impactou ainda mais os preços no Brasil”, destacou Kassama.
Impacto da isenção de impostos
Apesar de pontuar que os efeitos podem não ser imediatos, a especialista avalia que a medida do governo pode ter resultados no médio prazo, ao aumentar a oferta de alimentos e estimular a concorrência com o setor agropecuário nacional.
“A desoneração facilita a entrada de produtos importados, o que pode tornar os preços mais acessíveis. Além disso, o aumento da oferta faz com que o agronegócio brasileiro também precise reduzir seus preços para competir”, explicou.
Por: Bruno Pacheco
Ilustração: Marcus Reis
Revisão Jurídica: Letícia Barbosa