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sábado, maio 4, 2024

Dia Internacional das lutas das Mulheres: Sem rosas!

É imprescindível que façamos uso de nossa voz e voto para pressionar os governantes, porque a grande maioria dos feminicídio, segundo os dados anunciados, em mais de 70% dos casos são cometidos pelo companheiro ou ex-companheiro da vítima

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“Quando pensei em escrever sobre o Dia Internacional da Mulher, veio à mente as incontáveis portas que já abrimos e entramos, que antes nos eram negadas até imaginarmos bater e pedir licença ou perguntar se podíamos entrar, porque a história das lutas femininas por direitos e liberdades percorre séculos no tempo e no espaço em seus inúmeros significados.

São muitas as nossas pautas e conquistas, que hoje desfrutamos graças à luta de tantas mulheres desbravadoras, inconformadas e provocadas em romper com o que o sociólogo Pierre Bourdieu (2005) chama de dominação simbólica, que a define como a produção de disposições inconscientes, resultado de um sistema de estruturas devidamente inscritas nas coisas e nos corpos, que impõem aos dominados limitações nas suas possibilidades de pensamentos e de ação, dominação essa que se estendia ao simbolismo representado pela dicotomia da existência de espaços femininos e masculinos.

Como temos muito a agradecer às mulheres, reconhecidas, conhecidas e desconhecidas que vieram antes de nós, derrubando portas para que pudéssemos entrar, e as que hoje se recusam a se submeterem às limitações impostas por uma sociedade patriarcal, em busca de tomar o poder sobre sua própria vida e escolhas, evidenciando suas potencialidades e capacidades, ou seja, mulheres empoderadas. Porém… O caminho ainda é longo pela frente e muitas portas precisam ser abertas, ainda enfrentamos retrocessos e aumento do número de casos.

Infelizmente! Porque infelizmente no dia anterior à comemoração (07/03/2024), ficamos de luto diante dos números alarmantes divulgados na mídia pela Rede de Observatórios da Segurança, considerando ainda que esses dados referem-se apenas a oito estados monitorados pela Rede (BA, CE, MA, PA, PE, PI, RJ, SP), o qual aponta que no ano de 2023, pelo menos oito mulheres foram vítimas de violência doméstica a cada 24 horas, violências essas que vão desde torturas, ameaças e ofensas, assédio, agressões, espancamentos, culminando com o ápice da violência, o feminicídio.

Não dá para não pensar que esses números têm rostos, famílias, sonhos, projetos de vida… Não dá para não pensar que para muitas dessas famílias as rosas de hoje serão colocadas ao lado de um retrato. Não dá para não pensar que hoje é um dia da semana e probabilisticamente pelo menos oito mulheres sofrerão algum tipo de violência, porque não há cessar-fogo para mulheres vítimas de abusadores! E não dá para não pensar que nossa sociedade está em colapso.

Precisamos usar nossa voz e gritar ‘PAREM DE NOS MATAR!’

É imprescindível que façamos uso de nossa voz e voto para pressionar os governantes, porque tanta morte evidencia a ausência do Estado com políticas públicas de prevenção, cumprimento da Lei Maria da Penha, delegacias especializadas da mulher funcionando 24 horas, com profissionais preparados que saibam fazer escuta e tipificação dos casos de violência. Essa pauta sempre entra nas campanhas políticas (52,65% das pessoas aptas a votar são mulheres), mas depois cortam verbas e negligenciam esses números que massacram vidas de meninas e mulheres todos os dias.

Estamos desprotegidas nos espaços que justamente deveríamos nos sentir seguras, porque a grande maioria dos feminicídios, segundo os dados anunciados, em mais de 70% dos casos são cometidos pelo companheiro ou ex-companheiro da vítima. Larissa Neves, pesquisadora da Rede de Observatórios da Segurança, relata que, embora a maioria dos responsáveis pela violência sejam parceiros da mulher, familiares também cometem o crime. Acrescenta Neves: a ‘violência não é exclusiva de um relacionamento afetivo-sexual’. Importante ressaltar que entre os agressores também encontramos pais, irmãos, avôs, vizinhos, tios, os filhos, agentes do Estado, colegas de trabalho e até mesmo líderes religiosos”, pontua.

Precisamos falar sobre esse tema espinhoso que muito nos envergonha e deixa marcas para a vida toda na vítima, considerando que já se fala em epidemia de feminicídio no Brasil. Segundo o Mapa da Violência, estamos no 5º lugar do ranking mundial e ainda são dados subnotificados porque grande parte das mulheres não denuncia, e o caso fica abafado em família, como se houvesse um pacto de silêncio.

O caminho a ser trilhado pela vítima, em sua maioria extremamente fragilizada, vai desde a conscientização que sofreu violência de fato até a denúncia, é um longo caminho a ser percorrido no nosso país, que desqualifica a vítima, ainda lidamos com o descumprimento da lei Maria da Penha e um número insipiente de delegacias especializadas com acompanhamento, escuta qualificada e proteção. Mas não podemos desistir de nossas lutas se elas nos levarem ao caminho da liberdade.

Espero que este pequeno texto instigue homens e mulheres a buscarem ler o Relatório completo e como eu se indignem com o sofrimento de meninas e mulheres vítimas de seus algozes e se engajem nessa luta diária por liberdade de ter liberdade.

Por: Katherine Benevides

Ilustração: Marcus Reis

Leia mais: Em discurso em alusão ao Dia Internacional da Mulher, ministra do STF diz que mulheres continuam em desvalor profissional e social

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