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sábado, julho 27, 2024

Médica defende a ciência e critica ‘discussão delirante’ de quem defende uso da cloroquina

A médica infectologista Luana Araújo é defensora da vacinação em massa e já declarou ser favorável as medidas restritivas e contra o “kit covid”. A médica já afirmou que “todos os estudos sérios” demonstram a ineficácia da cloroquina

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A médica infectologista Luana Araújo foi ouvida nesta quarta-feira, 2/6, na CPI da Covid no Senado. Ela ficou apenas dez dias como Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19, na gestão do ministro Marcelo Queiroga. Os senadores queriam saber o porquê de a médica ter recuado e pedido para sair do governo em tão pouco tempo.

Aos senadores, Luana Araújo disse que foi anunciada em 12 de maio como chefe da secretaria, mas que dez dias depois foi informada que sua nomeação não seria concretizada. Ela afirmou que ter sabido o motivo pelo qual não foi nomeada para o cargo, que exerceu informalmente.

Luana afirmou que não recebeu remuneração durante o período em que trabalhou no ministério, e custeou inclusive suas despesas de viagem.

Formada e com residência em infectologia pela UFRJ, e mestre pela Universidade de Saúde Pública Johns Hopkins, Luana disse que “atuar sob intensa pressão” é parte natural de seu trabalho.

A médica infectologista é defensora da vacinação em massa e já declarou ser favorável as medidas restritivas e contra o “kit covid”. A médica já afirmou que “todos os estudos sérios” demonstram a ineficácia da cloroquina, e que o uso da ivermectina para combater a Covid-19 é “fruto da arrogância brasileira” e “mal funciona para piolho”. Questionada, ela reiterou essa posição durante o depoimento.

O uso desses remédios foi defendido diversas vezes pelo presidente Jair Bolsonaro, pessoas do governo e aliados políticos desde o início da pandemia. Logo após o anúncio da saída de Luana, Queiroga negou pressão do Planalto, mas não informou o motivo da demissão.

“Não temos opinião, mas evidências, e elas são claríssimas, transparentes. Somos a favor de uma terapia precoce que exista. Quando ela não existe, não pode se tornar uma política de saúde pública”, disse.

Para Luana, o debate sobre o uso de cloroquina ou outros medicamentos sem comprovação científica para tratar covid-19 é “uma discussão delirante, esdrúxula, anacrônica e contraproducente”.

“Quando disse, há um ano atrás, que estávamos na vanguarda da estupidez mundial, eu, infelizmente, ainda mantenho isso em vários aspectos. Porque nós ainda estamos aqui discutindo uma coisa que não tem cabimento, é como se estivéssemos discutindo de que borda da Terra plana vamos pular. Não tem lógica”, declarou.

De acordo com Luana, o debate necessário é o que pode trazer soluções. “Precisamos desenvolver soluções, estratégias claras adaptadas ao nosso povo, ajudar o gestor a conseguir os resultados que ele precisa, porque desses resultados dependemos todos nós. E, ao invés disso, ficamos aqui discutindo algo que é ponto pacificado para o mundo inteiro. Esse é o perigo da nossa fragilidade e arrogância”.

Confira a galeria:

Imunidade de rebanho – A médica infectologista explicou o porquê de a estratégia da imunidade de rebanho, não ser possível na crise da pandemia da Covid-19.

“O vírus Sars-Cov-2 é de RNA, que é um tipo de material genético que tem tendências a sofrer mutações com muita facilidade. É e sempre será esperado que sofram mutações claras ao longo do tempo”, explicou. Novas variantes vêm surgindo no Brasil e no mundo desde o começo de 2021. A infectologista disse ainda que a imunidade de rebanho natural é impossível de ser atingida, e que ‘não é uma estratégia inteligente’”.

A única maneira de conseguir que o vírus pare de circular e que a pandemia arrefeça, frisou Luana, é a vacinação, e em um curto período de tempo – o que não é realidade no Brasil, que conta com pouco mais de 10% da população imunizada com as duas doses da vacina.

“É assim (com a vacinação) que a gente atinge uma imunidade de rebanho. Não posso imputar sofrimento e morte a uma população com uma imunidade de rebanho. Não tem lógica”.

Questionada pelo relator Renan Calheiros (MDB-AL) sobre a defesa do tratamento precoce pelo presidente Jair Bolsonaro, a infectologista enfatizou que há vários estudos que mostram que a mortalidade por Covid-19 aumenta com o uso de cloroquina e hidroxicloroquina, e que há impacto quando a preconização do medicamento se transforma em política pública. Para ela, não seria justo deixar apenas com os médicos a responsabilidade pelo uso de um “tratamento que não funciona”.

A infectologista disse, ainda, que insistir no chamado tratamento precoce seria um “iluminismo às avessas”, e que as pessoas se apegam a uma esperança de proteção com os remédios, em vez de medidas como uso de máscara e distanciamento social. “A partir do momento que vulnerabiliza as pessoas com informações incorretas, não podemos esperar resultado positivo”, declarou a médica sobre a divulgação do tratamento precoce.

Ela disse não saber se sua posição pública contrária ao uso da cloroquina em pacientes de Covid-19 foi o motivo de sua saída do Ministério da Saúde antes mesmo de sua nomeação, mas afirmou categoricamente ser contra o chamado tratamento precoce. “Não foi me dado nenhum tipo de justificativa, mas entendi que a coisa estava se arrastando e que não iria acontecer”, afirmou.

A médica explicou que, apesar de não ter tido uma explicação detalhada do motivo de sua dispensa pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou que seu “nome não passaria pela Casa Civil”, em uma referência direta de que não teria sido aprovada pelo Palácio do Planalto.

Ela ressaltou que não tem certeza se o problema ocorreu especificamente nessa pasta. “Eu falei Casa Civil porque é onde entendo que esse nome seja aprovado ou não, eu não sei se é esse o processo”, afirmou. Senadores opinaram que o nome dela não teria passado pelo crivo do presidente e de seu “gabinete do ódio”.

Luana também disse não saber se o seu nome barrado tem relação com o chamado gabinete paralelo de aconselhamento ao presidente Bolsonaro em assuntos da pandemia. “Não tive informações sobre aconselhamento paralelo, não conheci o presidente da República”, afirmou.

Em memória – Luana Araújo iniciou seu depoimento fazendo memória aos mortos pela Covid-19 no Brasil. “Trezentos e vinte dias. Esse seria o tempo que teríamos que ficar quietos para respeitar o um minuto de silêncio pela Covid no Brasil. É como se de ontem para hoje 12 aviões comerciais grandes tivessem caído no nosso território. Por isso estou aqui hoje”.

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Com informações O Estado de S.Paulo

Fotos: Leopoldo Silva, Waldemir Barreto, Jefferson Rudy/Agência Senado

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