Longe dos holofotes, vem sendo travada uma batalha entre pastores de denominações evangélicas pela próxima vaga de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), a ser aberta com a aposentadoria de Marco Aurélio Mello.
Jair Bolsonaro comprometeu-se a indicar um “terrivelmente evangélico” para o posto, o que fez até o católico Augusto Aras procurar lideranças do segmento em busca de apoio como um defensor das causas evangélicas, mesmo sem ser um.
Será difícil, entretanto, Aras barrar o favoritismo do advogado-geral da União, o presbiteriano André Mendonça, e do presidente do Superior Tribunal de Justiça, o adventista Humberto Martins.
Ao lado do desembargador federal e batista pentecostal William Douglas, são os três candidatos realmente evangélicos com mais chances.
Mas algumas denominações, como a Universal e a Assembleia de Deus, não desistiram de tentar emplacar um nome seu.
E nomes do Judiciário que nunca divulgaram a filiação religiosa agora ostentam Bíblias nas antessalas de seus gabinetes e passaram a encaixar citações bíblicas em discursos. “Não dá para negar que Bolsonaro é um mito. Nunca vi um católico levar tantas pessoas ao Evangelho como ele está fazendo. Gente que nunca citava a Bíblia agora é crente desde criancinha”, provocou um jurista evangélico de São Paulo, sob sigilo.
Num meio em que a laicidade é um dever, assumir-se evangélico sempre teve um custo. Misturar a religião com o direito sempre foi (e ainda é) malvisto entre togados, procuradores e advogados. Tudo mudou quando Bolsonaro comprometeu-se a ser o primeiro presidente a nomear um “terrivelmente evangélico” para o STF.
Preferidos – Os juízes e juristas em geral que não traziam a religião para os livros de Direito passaram a divulgar que são evangélicos. E as denominações passaram a trabalhar ativamente por seus nomes.
Na Assembleia de Deus do Belenzinho, a maior das Assembleias de Deus, o candidato preferido é o juiz José Wellington Bezerra da Costa Neto, neto de José Wellington Bezerra da Costa, líder das Assembleias de Deus no Brasil. Na Igreja Universal, o nome é o deputado Marcos Pereira, advogado.
André Mendonça não será atacado em público, mas, nos bastidores, sua possível escolha tem sido criticada. Mendonça é presbiteriano, igreja vista como uma das mais progressistas entre os evangélicos, com muitos fiéis de esquerda. E nunca se posicionou em público como um religioso — até surgir a possibilidade de chegar ao STF menos pelo currículo e mais por causa da religião.
Já Martins enfrenta críticas por ser adventista, vertente tida por alguns evangélicos como uma seita e não uma igreja de fato. E Aras, embora católico, tem sido apontado como alguém que estaria mais disposto que os dois a defender as causas do segmento.
O avivamento espiritual no Judiciário promete seguir quente até julho, quando Marco Aurélio se aposenta. Até lá, a religião vai seguir importando mais que o notório saber como critério de escolha.
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Com informações Revista Época