A pré-candidata à prefeitura de Manaus, Anne Moura (IPT), disse com exclusividade ao O Convergente nesta segunda-feira (20) ter sofrido violência política de gênero ao ser pressionada por pré-candidatos do Partido dos Trabalhadores, na tentativa de tirá-la da disputa eleitoral deste ano.
“Quando outros homens colocam seus nomes só para dificultar a unidade em torno do meu, e depois retiram para o Marcelo sem debate nenhum, significa que eles nunca foram candidatos e que poderia ser qualquer pessoa, menos eu. E claro que o nome do Marcelo é um nome de peso, sem dúvida, mas o PT nos dá o direito ao diálogo interno e construção, mas antes do Marcelo chegar em Manaus e estar oficialmente filiado, já tinham retirado. É no mínimo estranho”, contou a secretária Nacional de Mulheres do partido.
A ativista já tinha planos de concorrer ao pleito municipal pela sigla. No dia 19 março deste ano, a primeira-dama Rosângela da Silva, conversou com Anne e reforçou que as candidaturas femininas poderiam contar com seu apoio da sigla no pleito.
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Questionada sobre a declaração de ‘Janja’, a pré-candidata afirmou: “Janja não é da direção do partido, ela não faz intervenção, tem sua opinião apenas, e neste caso de eleições, são instâncias internas”, pontou afirmando que sempre teve apoio de várias mulheres, mesmo sendo é secretária nacional de mulheres do PT.
Há mais de um ano, Anne Moura anunciou sua pré-candidatura e se deparou com uma situação desafiadora: uma articulação nacional, impulsionada pelo pedido do presidente Lula (PT), levou Marcelo Ramos a deixar o PSD e se filiar ao partido para concorrer à prefeitura. Enquanto outros pré-candidatos do PT em Manaus, todos homens, desistiram de concorrer para apoiar Ramos, Anne Moura permaneceu firme em sua decisão de seguir adiante com sua pré-candidatura.
“Desde o ano passado tenho me posicionado como pré-candidata e me apresentado ao partido e à sociedade. Acontece que quando meu nome começou a crescer nas pesquisas, e somente o meu nome aparecia nelas, cinco homens também se colocaram à disposição. Mesmo sabendo que alguns não seriam candidatos a prefeito, pois já tinham o desejo de concorrer como vereadores, deixaram seus nomes para dificultar a construção de unidade em torno do meu”, contou.
Durante uma entrevista no programa #DebatePolítico, no jogo das cartas, Marcelo Ramos foi questionado sobre se achava que Anne Moura estaria ressentida de alguma forma com sua pré-indicação para a prefeitura de Manaus. Ele respondeu que ela “entende o jogo político.”
A Anne é da política. Ela entende as coisas […] Dando muito ênfase a esse papel que a Anne tem não só local, como nacional. Ela sabe como está acontecendo o processo. Eu a tenho respeitado. Ela até deu uma declaração sobre isso que me deixou muito feliz e quero agradecer”, comentou o advogado durante a entrevista.
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A redação questionou o pré-candidato Marcelo Ramos sobre o posicionamento da colega de partido. Ramos disse que ‘a única declaração que Anne deu sobre mim foi que eu sou a pessoa que tratou a pré-candidatura dela com mais respeito e fraternidade’. Então, não tenho nada a comentar”, concluiu.
Anne, que também comanda o Projeto Elas por Elas, voltado a candidaturas femininas, descreveu que foi encurralada pelos pré-candidatos ao apresentarem seus nomes para o pleito. No entanto, no caso das eleições municipais, “a direção municipal conduz o processo, e eles não fizeram de forma correta, mesmo com pesquisa apontando que meu nome seria o melhor.”
Procuramos um posicionamento do diretório municipal do PT. A assessoria de comunicação informou que Valdemar Santana já havia “declarado a todos os pré-candidatos que vai obedecer à ordem do presidente Lula.”
Até o momento, o pré-candidato não foi definido pela sigla, e Anne vai manter seu nome no partido para a disputa eleitoral.
“Eles não podem me retirar da pré-candidatura, então estou dialogando dentro do tempo permitido que temos, mas logo definiremos o melhor para o partido e para disputar a prefeitura. Agora, ficar calada diante de tudo, não é uma opção”, finalizou.
Violência política
A criminalização da violência política contra mulheres foi estabelecida em agosto de 2021 com a sanção da Lei nº 14.192. Esta lei define violência política como qualquer forma de agressão física, psicológica, econômica, simbólica ou sexual direcionada a uma mulher, com o intuito de impedir ou limitar seu acesso e exercício de funções públicas, ou de influenciá-la a tomar decisões contrárias à sua vontade.
Foto: Marcus Reis