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sexta-feira, julho 26, 2024

“Falta efetivar mais e falar menos”, comenta analista sobre falas sobre Amazônia da comitiva do governo Lula na COP28

Na COP28, o presidente Lula destacou as ações contra o desmatamento, por exemplo, apesar de Manaus ficar encoberta por fumaça de queimadas ilegais por meses

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Embora os discursos sobre proteção da Amazônia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e da ministra do Meio Ambiente Marina Silva sejam destaques na 28ª Conferência do Clima das Nações Unidas (ONU), a COP28, uma série de eventos marcou o ano de 2023, quando se trata da ajuda do governo federal aos problemas ambientais na Amazônia.

Durante o evento que reúne líderes mundiais para abordarem temas referentes ao meio ambiente, a comitiva do governo federal fez análises sobre a queda do desmatamento na Amazônia, além de usar a seca história do Amazonas como exemplo da crise climática e as ações do governo para minimizar os impactos.

Apesar disso dos discursos de Lula na COP28, enquanto o Amazonas enfrentava a pior seca já registrada na história e Manaus estava encoberta por fumaça há semanas, o presidente Lula usava as redes sociais para falar sobre o conflito no Oriente Médio.

Como noticiou O Convergente, o governo federal demorou para visitar o Amazonas e ver de perto o cenário da seca. A estiagem do rio teve início no final do mês de agosto e foi piorando a cada dia, com o rio chegando a perder mais de 30 centímetros por dia. O governo federal só visitou Manaus para acompanhar a situação em outubro, quando mais de 50 dos 62 municípios decretaram situação de emergência.

Além de enfrentar a pior seca da história, Manaus ainda passava por um período em que a fumaça tomava conta da cidade na maior parte do dia. A nuvem de fumaça era oriunda de queimadas ilegais e, por semanas, o governo federal não tomou iniciativas para tentar ajudar no combate às queimadas.

Quando o problema passou a ser notório no cenário nacional, artistas como o comediante Whindersson Nunes questionaram o presidente Lula sobre a fumaça em Manaus, no momento em que o chefe da República só falava sobre o conflito entre Israel e Hamas.

Quando o governo federal se prontificou em auxiliar no combate às queimadas ilegais e em minimizar os impactos da estiagem, a ministra Marina Silva alegou que, apesar da ajuda das autoridades, a população é quem precisa compreender que não pode atear fogo, uma vez que fica difícil a atuação do governo.

“Nesse momento, é preciso a ação do governo, estadual, federal, municipal, a ação das várias instituições, Ibama, ICM-Bio, e todos os demais parceiros, mas principalmente da população. Porque se a população não compreender que não pode atear fogo todos ao mesmo tempo agora, numa situação de extrema estiagem, fica muito difícil a gente fazer esse combate”, disse.

Além disso, durante o período que o Amazonas sofreu com a crise climática, também entrou em debate as obras da BR-319. Para os políticos do Amazonas, a rodovia federal auxiliaria os amazonenses isolados por conta da seca dos rios, e, por isso, cobraram ações do governo Lula, principalmente da ministra Marina Silva, sobre a retomada das obras, porém, até o momento, nada foi feito.

Recentemente, a ministra Marina Silva foi alvo de novas moções de repúdio dos políticos do Amazonas por alegar que a rodovia não poderia servir apenas “para passear”. Um dos pontos defendidos pelos parlamentares é de que o Estado deixaria de ficar isolado com a construção da BR-319, auxiliando na logística de receber insumos, por exemplo, e na qualidade de vida dos amazonenses.

Negligência

No mesmo evento que Lula estava, no domingo (28), o deputado federal Amom Mandel (Cidadania) expôs uma denúncia sobre a negligência do Estado Brasileiro diante do colapso da qualidade do ar na Amazônia, durante a COP28. O documento deve ser entregue às principais autoridades internacionais das Nações Unidas.

“O que nós esperamos com esse relatório é que, ao invés de buscar culpados individuais, porque sabemos que não há um único culpado, que outros países e as pessoas que se importam com essa pauta possam se juntar para evitar esse desrespeito aos direitos humanos, tanto falado em conferências como essas nas Nações Unidas. Que esses direitos humanos deixem de ser palavras escritas no papel e passem a ser algo concreto”, explicou.

Em seu discurso, o parlamentar também ressaltou que o documento aponta problemáticas cometidas por todas as esferas de governo, diante de omissões na atuação em favor do meio ambiente e no combate ao ar tóxico inalado pela população da Amazônia, como no Amazonas e no Pará, nos últimos meses.

Especialista comenta

Ao O Convergente, o analista político Helso Ribeiro afirmou que o presidente Lula, assim como toda sua comitiva, levou um discurso para a COP28 sobre tentar “dar o recado” do que gostaria que fosse feito, no entanto, seria necessário a efetivação do discurso na prática.

“É claro, ao ir numa COP, todos os membros vão tentar dar o recado do que gostariam de ter feito. Acho que foi isso que o presidente Lula fez. Eu diria que ele não está isolado nesse direcionamento de falar muito e fazer pouco, outros também seguiram isso”, analisou sobre a participação de Lula na COP28.

Para Ribeiro, a imagem do Brasil melhorou bastante com o presidente Lula, uma vez que tinha sido desgastada com o ex-presidente Jair Bolsonaro, que fazia declarações contrárias ao meio ambiente e instituições voltadas para o assunto.

“Nos últimos 4 anos, o ex-presidente Bolsonaro se tornou uma espécie de patinho feio na questão ambiental no mundo. De certa forma, temos declarações do ex-presidente Bolsonaro dizendo que não gostava do Ibama, do ICMBIO. O que ocorre é que não houve um aumento de contingente desse pessoal e agora estamos colhendo o que foi plantado”, afirmou.

O analista também apontou que, desde o acordo de Paris, os países têm deixado um pouco a desejar a questão ambiental, porém, a imagem do Brasil em relação ao assunto já melhorou, mas que são necessárias mais ações do governo Lula.

“Aqui na Amazônia já está menos ruim, ainda que o bioma do Pantanal esteja sofrendo bastante. O Brasil melhora um pouco a imagem internacional, que ficou degradada com o ex-presidente Bolsonaro, e agora o presidente Lula falta efetivar mais e falar menos”, pontuou.

Em relação à ministra Marina Silva na participação na Conferência, ele pontuou que o discurso da ministra foi “mais do mesmo”, bem como das demais autoridades. “Tentando mostrar uma tendência de controlar desmatamento, de controlar o descaso do meio ambiente”, disse.

Apesar disso, Ribeiro pontuou que os comentários da ministra em relação a BR-319 são infelizes, mas que ela não é a única culpada pela rodovia não ter sido entregue. “O que eu noto é que antes da Marina ser ministra do primeiro governo Lula, passaram cerca de 9 ministros e nenhum deles fez nada pela BR-319”, disse.

“Até um ex-vice-presidente [Hamilton Mourão], aqui em Manaus, falou que comeria boina dele, caso não asfaltasse a BR-319, e não asfaltou”, comentou. “Parte das autoridades locais, vejo até um pouco de misoginia, querem criticar a Marina por conta de travar a BR-319”, completou.

Ele ainda afirmou que os parlamentares também deveriam ter feito cobranças aos demais políticos e ministros sobre o assunto. “Tem muitos críticos que apontam o dedo no rosto dela por pura covardia, por se tratar de uma mulher, aí para um homem que não fez nada, depois dela, tiveram 8 ou 9. Antes dela, tiveram 15, e ninguém apontou dedo”, destacou.

Leia mais: Estudo aponta rápida evolução da urbanização na Amazônia nos últimos 50 anos

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Por Camila Duarte

Revisão textual: Vanessa Santos

Ilustração: Giulia Renata Melo

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