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sábado, maio 18, 2024

“Estejamos vigilantes e prontos para acolher”, diz epidemiologista sobre importância da atenção à saúde mental no setembro amarelo

Iniciada no Brasil em 2015, a campanha brasileira de prevenção ao suicídio busca popularizar a discussão, ajudando a identificar sinais de alerta

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De acordo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a cada 40 segundos, uma pessoa é vítima de suicídio em algum lugar do planeta. Ou seja, em um ano, mais de 800 mil pessoas perdem sua vida dessa maneira. Dados levantados pela instituição em 2016 também apontam que suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens com idades entre 15 e 29 anos.

Diante desse cenário, fica clara a necessidade de dar mais atenção ao tema, com campanhas de conscientização e debates que possibilitem a quebra do tabu sobre o problema e é essa a proposta do Setembro Amarelo.

Iniciada no Brasil em 2015, a campanha brasileira de prevenção ao suicídio busca popularizar a discussão, ajudando a identificar sinais de alerta.

Como surgiu?

Em setembro de 1994, nos Estados Unidos, o jovem de 17 anos Mike Emme foi vítima de suicídio. Ele tinha um Mustang 68 amarelo e, no dia do seu velório, seus pais e amigos decidiram distribuir cartões amarrados em fitas amarelas com frases de apoio para pessoas que pudessem estar enfrentando problemas emocionais.

A ideia acabou desencadeando um movimento de prevenção ao suicídio e até hoje o símbolo da campanha é uma fita amarela.

Inspirado no caso Emme, o “Setembro Amarelo” foi adotado em 2015 no Brasil pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).

Importância da campanha

Além de trazer esse tema à tona, as campanhas disponibilizam informações e opções de tratamento para o público, visando a redução do tabu que faz com que muitas pessoas evitem falar sobre suicídio e buscar ajuda.

O fato de muitos acharem que o suicídio é algo distante e que afeta poucas pessoas, o que a OMS mostra não ser verdadeiro, também prejudica discussões mais aprofundadas que seriam benéficas para quem precisa.

Causa-relação na pandemia

Estudo sobre a relação entre a pandemia e o aumento de suicídios do Epidemiologista da Fundação Oswaldo Cruz desde 2006, graduado em Enfermagem, mestre em Saúde Pública e doutor em Epidemiologia, o pesquisador da Fiocruz Amazônia Jesem Orellana contribuiu informando dados de sua pesquisa:

“De acordo com o estudo, que foi aceito para publicação na “International Journal of Social Psychiatry”, tradicional periódico no campo da psiquiatria social, o segundo ano da pandemia foi o mais crítico, com 28% e 61% de suicídios além do esperado em mulheres com 60 anos e mais das regiões Sudeste e Nordeste, respectivamente, bem como 32% além do esperado em mulheres com 30-59 anos da região Norte e 16% de suicídios excedentes em homens do Nordeste. Importante ressaltar que, entre os meses de julho e outubro de 2021, houve 83% de excesso de suicídios em mulheres com 60 anos e mais do Nordeste.

O estudo reforça que países severamente atingidos pelos efeitos diretos da pandemia, como o Brasil, foram mais propensos aos seus efeitos indiretos sobre outras causas de morte, como o suicídio e as mortes maternas, por exemplo.

O suicídio já era um desafiador e crescente problema de saúde pública no Brasil, antes da pandemia, pois, de acordo com o Ministério da Saúde, haviam indícios de aumento em suas taxas, especialmente entre homens e de 2016 em diante. Infelizmente, nosso estudo mostrou um agravamento do problema, sobretudo entre as mulheres. No entanto, entre os mais jovens ou naqueles entre 10-29 anos, o número de suicídios foi menor do que o esperado ao longo dos dois primeiros anos de pandemia no Brasil, tanto em homens como em mulheres.

Por este motivo, é fundamental que trabalhadores de saúde, pesquisadores, população em geral, gestores e tomadores de decisão, não apenas sigam monitorando os possíveis efeitos residuais da pandemia de COVID-19 sobre os suicídios e se preparando para novas emergências sanitárias, como também promovam o fortalecimento da Rede de Atenção Psicossocial.

Pensando no que cada um de nós pode fazer para contribuir na prevenção desta que é uma das mais antigas tragédias da humanidade, o suicídio, estejamos vigilantes e prontos para acolher, escutar e conversar com pessoas que apresentam sinais de tristeza, solidão ou evidente sofrimento físico e mental, buscando alternativas para situações adversas ou mesmo sugerindo à busca imediata por atenção especializada. Não podemos simplesmente normalizar o sofrimento humano ou dar às costas, temos sim é que valorizar esses episódios e, com isso, contribuir à prevenção do suicídio. Ao demonstrar a substancial ocorrência de suicídios além do esperado em mulheres de 30-59 anos e homens idosos, especialmente nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, o estudo contribui para o planejamento mais realista de ações voltadas para mitigação dos efeitos da epidemia de COVID-19, especialmente em subgrupos e regiões mais vulneráveis, além de confirmar os efeitos indiretos da pandemia, especialmente no segundo ano, o qual coincidiu com o momento de pior gerenciamento da epidemia de COVID-19 no país.”

Disk ajuda

O Centro de Valorização da Vida (CVV) promove apoio emocional e prevenção do suicídio, com atendimentos gratuitos a qualquer pessoa. O centro garante sigilo total e atende por telefone, e-mail e chat 24 horas por dia, nos sete dias da semana, pelo telefone 188.

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Por July Barbosa com colaboração Jesem Orellana

Revisão textual: Vanessa Santos

Foto: Divulgação / Ilustração: Marcus Reis

 

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