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quinta-feira, novembro 21, 2024

Cobertura vacinal deficiente é principal desafio no enfrentamento à Covid-19

Conforme especialistas, o Estado precisa vacinar 90% da população, ou seja, aplicar em torno de 5 a 6 milhões de doses de vacinas em todo Amazonas para neutralizar os riscos de contaminação pelo coronavírus

Desde a disseminação do novo coronavírus no mundo, os cientistas entraram numa corrida desenfreada por imunizantes. O primeiro paciente com sintomas semelhante aos de Covid-19 foi registrado em Wuhan, na China, em 8 de dezembro de 2019. A origem do Sars-Cov-2 (nome do vírus da Covid-19) não foi completamente esclarecida. De acordo com o relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) o vírus tem naturalidade animal. Após diversas pesquisas da comunidade científica e bilhões de dólares de financiamento, as vacinas foram desenvolvidas.

A primeira aplicação da dose contra a Covid-19, fora de um ensaio clínico, aconteceu um ano após a suspeita do primeiro infectado, em 8 de dezembro de 2020, no Reino Unido. A primeira pessoa a receber a injeção foi a britânica, Margaret Keenan, de 90 anos. O imunizante aplicado na idosa foi desenvolvido pela farmacêutica Pfizer, em parceria com a empresa de biotecnologia BioNTeck. O país tornou-se o primeiro do ocidente a vacinar a população de forma massiva.

No Brasil, a enfermeira Mônica Calazans, de 54 anos, foi a primeira brasileira a ser vacinada contra o novo coronavírus. Ela recebeu a vacina no dia 17 de janeiro de 2021, na cidade de São Paulo. A funcionária da unidade de terapia intensiva recebeu a primeira dose da CoronaVac, no Hospital das Clínicas. Em janeiro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso emergencial da CoronaVac, do laboratório chinês Sinovav, em colaboração com o Instituto Butantan e a Astrazeneca/Universidade de Oxford, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Até agora existem no Brasil quatro vacinas autorizada pela Anvisa que podem ser usadas na população. A CoronaVac, imunizante do Butantan produzida em parceria com a biofarmacêutica chinesa Sinovac; a AstraZeneca; a Pfizer e a Janssen. No entanto, até o momento, a Janssen não está sendo utilizada no Programa Nacional de Imunização (PNI), do Ministério da Saúde (MS).

Cada imunizantes foi desenvolvido com técnicas diferentes, testados em locais, momentos e população com nível de exposição ao vírus diferente. De acordo com as empresas desenvolvedoras, há um rigor científico e dados que comprovem a segurança e eficácia. Até 23/5 foram aplicadas 62,6 milhões de doses de vacinas entre os brasileiros, de acordo com levantamento do consórcio de veículos de imprensa junto às secretarias de Saúde, sendo a CoronaVac correspondente a 47,2 milhões desse montante.

CoronaVac – A vacina do Butantan utiliza a tecnologia de vírus inativado (morto), que ao ser injetado no organismo, não é capaz de causar doença, mas de induzir uma resposta imunológica. Os ensaios clínicos da CoronaVac no Brasil foram realizados, exclusivamente, com profissionais da saúde.

AstraZeneca – Foi desenvolvida pela farmacêutica AstraZeneca em parceria com a universidade de Oxford. Produzida pela Fiocruz, usa a tecnologia empregada ao uso do chamado vetor viral. O adenovírus, que infecta chimpanzés, é manipulado geneticamente para que seja inserido o gene da proteína “Spike” (proteína “S”) do Sars-CoV-2.

Pfizer – A vacina da Pfizer e da BioNTech contra a Covid-19 é baseada no RNA mensageiro, que ajuda o organismo a gerar a imunidade contra o coronavírus, especificamente o vírus SARS-CoV-2. O RNA mensageiro sintético dá as instruções ao organismo para a produção de proteínas encontradas na superfície do novo coronavírus, que estimulam a resposta do sistema imunológico.

Janssen – O imunizante da Johnson é o único aplicado só uma vez. Ele foi aprovado para uso emergencial pela Anvisa no final de março, mas o Brasil ainda não tem a vacina à disposição. Assim como o imunizante da Astrazeneca, também se utiliza da tecnologia de vetor viral, baseado em um tipo específico de adenovírus que foi geneticamente modificado para não se replicar em humano.

Doses aplicadas – Segundo informações do Ministério da Saúde, até 30/5, o Brasil aplicou 67.088.046 doses de vacina. Conforme o MS, 96.954.279 doses foram enviadas para todo o país. Inicialmente, o Plano Nacional de Operacionalização da Vacina contra Covid-19, publicado pelo Ministério da Saúde, contemplava apenas os grupos de pessoas prioritárias, porém recentemente alguns estados começaram abrir a imunização para a população em geral.

Em todo o país, 45.079.934 pessoas tomaram a primeira dose da vacina. Outras 22.008.112 pessoas já tiveram acesso as duas doses do imunizante.

Regiões – Na região Norte do Brasil, o Acre alcançou o número de 191.571 vacinados; o Amapá 182.362; o Amazonas 1.061.194; o Pará 1.738.485; Rondônia 379.889; Roraima 139.823 e Tocantins 384.353. No Nordeste, Alagoas aplicou 967.692 vacinas; Bahia 4.303.979; Ceará 2.161.429; Maranhão 1.719.731; Paraíba 1.276.498; Pernambuco 2.413.209; Piauí 880.432; Rio Grande do Norte 1.039.545 e Sergipe 544.373.

Na região Centro-Oeste, Goiás vacinou, até o momento, 2.030.278 pessoas; Mato Grosso 885.163 e Mato Grosso do Sul 1.027.172. No Sudeste, o Estado do Espírito Santo vacinou 1.399.853; Minas Gerais 6.413.353; Rio de Janeiro 5.549.549 e São Paulo 14.425.633. Na região Sul, Paraná vacinou 3.675.339 pessoas; Santa Catarina 2.098.974 e Rio Grande do Sul 4.598.532.

Amazonas – A chegada das vacinas no Amazonas, que viu o sistema de saúde colapsar em janeiro de 2021, com hospitais superlotados, escassez de leitos clínicos e de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), além da grave falta de oxigênio que ocasionou o elevado número de mortes, aliada à desorganização em um primeiro momento da campanha de vacinação, fizeram com a aplicação de vacinas fosse suspensa por semanas tão logo a campanha teve início.

No primeiro momento, o Estado restringiu as vacinas aos grupos prioritários formados por médicos que estavam na linha de frente do combate à pandemia, idosos e pessoas com comorbidades. O Estado do Amazonas recebeu do Ministério da Saúde, conforme dados da transparência do ministério, mais de 2,2 milhões doses de vacinas até o dia 1º/6.

De acordo com dados da Saúde, em todo o Amazonas, 691.542 pessoas tomaram a primeira dose do imunizante contra Covid-19. Já tiveram acesso as duas doses o total de 387.613 amazonenses, conforme dados contabilizados até o dia 1º de junho.

Os municípios que não informaram os dados da vacinação ao Tribunal de Conta do Estado (TCE-AM) terão de prestar contas aos Ministérios Públicos Federal (MPF) e do Estado (MPE-AM), para as providências legais.

Conforme o Ministério da Saúde, o Amazonas recebeu R$ 2,6 bilhões para o enfrentamento à Covid-19.

Municípios – A chegada das primeiras doses de imunizantes levou esperança aos cidadãos, principalmente, aos amazônidas de municípios que ficam há quilômetros de distância da capital. Apesar do socorro, muitos municípios mais distantes ainda apresentam números inferiores de vacinados em comparação com os municípios próximos à capital Manaus.

Conforme a médica infectologista da Fiocruz Amazônia, Flor Martinez, o Estado ainda tem um longo caminho a percorrer para alcançar o nível de segurança no que se refere à imunização da população. De acordo com a médica, o Estado precisa vacinar 90% da população, ou seja, aplicar em torno de 5 a 6 milhões de doses de vacinas em todo Amazonas para neutralizar os riscos de contaminação pelo coronavírus.

“Essas doses têm sido aplicadas mais ou menos num intervalo de três a quatro meses, o que significa um ritmo lento quando comparado ao que estávamos acostumados em outras jornadas de vacinação no Estado. O Estado sempre teve coberturas satisfatórias, apesar da dispersão da população. Com esse ritmo, ainda temos um longo caminho para percorrer”, criticou a infectologista.

Dados parciais do Programa Nacional de Imunização, da FVS-AM (PNI/FVS-AM), apontam que 1.240.813 doses foram aplicadas em todo o Estado até a última segunda-feira, 31/5, sendo 781.947 de primeira dose e 458.866 de segunda dose.

Segundo a FVS o município de Japurá, a 904 quilômetros de Manaus, é a cidade que menos vacinou até o momento. Com população estimada de 7.326 habitantes, de acordo com o último Censo de 2010, o município aplicou 845 vacinas de primeira dose e 593 correspondem as duas doses o imunizante.

O município de Juruá, a 893 quilômetros da capital e com uma população estimada em 15.106 habitantes, de acordo o Censo de 2010, aplicou 1.087 da primeira dose e 742 as duas doses.

Maraã, a 914 quilômetros de Manaus, com população estimada em 18.261 pessoas, aplicou a primeira dose em 1.215 pessoas e as duas doses em 1.215 habitantes do município.
Guajará, a 2.050 quilômetros da capital e com uma população estimada de 13.974 habitantes, vacinou 1.795 pessoas com a primeira dose e 1.159 com a segunda.

Descuido da população – Tão ruim quanto a deficiência na cobertura vacinal em todos os municípios do Amazonas é o descuido da população em relação ao distanciamento social e aos cuidados sanitários básicos, o que tornam o quadro no Estado bastante preocupante.

“Não devemos esquecer que o Amazonas é um Estado que viveu duas grandes epidemias dentro desta pandemia. O Amazonas tem precedido os problemas que ocorrem no restante do país. O surgimento de nova cepa, a falta de adesão satisfatória a outras medidas de segurança, como o uso de máscaras e o isolamento social, nos levam a ter grande dependência da imunização. A vacinação precisa ser acelerada o mais breve possível para evitar o surgimento de novas variantes”, alertou a médica infectologista.

 

Saiba mais sobre a pandemia no Amazonas:

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Por Juliana Freire

Ilustrações: Marcus Reis

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