A menos de três meses das eleições no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro (PL) é um dos líderes com menor aprovação popular na América Latina. Entre os chefes de estado, Bolsonaro goza de 26% de apoio, à frente dos mandatários de Equador e Paraguai (Guillermo Lasso e Mario Abdo Benítez, respectivamente), ambos com 17%, e do Peru (Pedro Castillo), que tem 22%.
Em média, os mandatários latino-americanos reúnem 40% de apoio na sociedade, mostram dados reunidos pela consultoria Prospectiva em 14 países da região com base em pesquisas domésticas de institutos como o Datafolha, no Brasil, e o Cadem, no Chile.
Considerada mediana por analistas, a cifra expressa os efeitos de uma crise multidimensional catalisada pela pandemia de Covid, avalia a cientista política Maria Villarreal, professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Como resultado desse processo, houve um alargamento da insatisfação.
“Há uma forte rejeição ao que pode ser nomeado como ‘democracias capturadas’, com a percepção de que os governantes não trabalham levando em conta as desigualdades e a pobreza que caracterizam as sociedades latino-americanas”, diz ela, que também leciona na Unirio.
Flavia Freidenberg, pesquisadora da Universidade Nacional Autônoma do México (Unam), vê a perda de um consenso estruturado ainda nos anos 1980, quando muitos países da região passaram pela redemocratização pós-ditaduras militares. “Acordamos que conviveríamos democraticamente, mas tem havido uma perda do pluralismo e um aumento da intolerância.”
Os regimes ditatoriais de Cuba, Venezuela e Nicarágua, onde não há dados confiáveis de pesquisas de popularidade, ficam de fora do levantamento. Também não foi possível considerar os governos de Haiti, El Salvador e Honduras.
Diferenças entre os países também são esperadas porque as pesquisas nacionais têm metodologia, amostras e margens de erro distintas.
Mas os números mostram alguns cenários opostos. Se figuras como Bolsonaro estão sob pressão, líderes como o esquerdista Andrés Manuel López Obrador, presidente do México, vivem uma situação mais tranquila -mesmo em meio a uma guinada autoritária, AMLO, como é conhecido-, tem 62% de aprovação, segundo os dados mais recentes.
A alta cifra reflete a expansão de benefícios sociais, em especial na região sul do país, onde o partido governista Morena predomina nos legislativos estaduais, mas também expressa a força do presidente no Congresso e entre correligionários, segundo Thiago Vidal, gerente de análise política para a América Latina da Prospectiva.
AMLO apresenta hoje cerca de 55% de apoio no Legislativo, de acordo com análise da consultoria que calcula a porcentagem de congressistas que apoiam o governo -em sistemas bicamerais-, considera-se apenas a Câmara dos Deputados. No Brasil, o índice para Bolsonaro é de 68%, um dos maiores da região.
Soma-se a isso o fato de o Congresso mexicano ter uma fragmentação relativamente baixa, ou seja, um número menor de partidos dividindo as cadeiras, o que diminui a necessidade de o líder costurar amplas negociações para fazer aprovar sua agenda.
Por fim, AMLO tem liderança expressiva em sua legenda, diferente do que se dá, por exemplo, na Argentina, com Alberto Fernández, onde a figura da vice-presidente Cristina Kirchner prevalece. Pesquisas recentes apontam uma média de 30% de aprovação do peronista, que tende a cair com a agravada crise econômica e protestos recentes.
O chileno Gabriel Boric conta com 36% de aprovação -tinha 50% quando assumiu-, em março deste ano. Em parte, de acordo com os analistas, a queda se deve à alta expectativa criada, fruto de eclosões sociais, mas também à dificuldade do jovem líder de aprovar propostas em um Congresso onde menos da metade o apoia. Nesta semana, o governo anunciou um pacote de ajuda para conter os efeitos da pior inflação em três décadas e do inverno rigoroso, que deve abarcar 7,5 milhões de pessoas -40% da população- e pode ajudar a atenuar a baixa popularidade.
No Brasil, de olho nesses índices e nas eleições, Bolsonaro obteve a aprovação de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) apelidada de Kamikaze, que atropela leis de contas públicas para permitir ao governo turbinar benefícios sociais até o fim do ano.
Outro cenário que chama a atenção é o da Colômbia. O levantamento da Prospectiva compilou dados de aprovação a Gustavo Petro, eleito em junho e que tomará posse em agosto: hoje, 64% dos colombianos dizem aprovar sua figura, mais do que os 50% que o elegeram. Os índices, por óbvio, expressam a expectativa em relação ao governo, mas também estão ligados à base que se desenha no Legislativo. Pelos arranjos que se desenham, o futuro presidente tem a fatia de 46%.
“Ele está conseguindo criar um clima de confiança porque tem sido muito pragmático”, analisa Vidal. “Está criando uma coalizão heterogênea, com partidos de vários espectros ideológicos, e tem se encontrado com muitos ex-presidentes, conseguindo conter em partes o receio que havia de uma polarização maior.”
Para efeito de comparação, o atual presidente, Iván Duque, deixará o cargo com aprovação próxima de 27%, segundo o instituto Invamer, bem abaixo das cifras de seus cinco antecessores antes de saírem da Casa de Nariño.
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Da Redação com informações da assessoria de imprensa
Foto: Alan Santos / PR