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terça-feira, julho 29, 2025

Após supostas ameaças de morte a indígenas, MPF apura denúncia de invasão garimpeira em aldeia no Vale do Javari, no AM

Segundo denúncia recebida pela Procuradoria da República no município de Tabatinga, os invasores teriam utilizado ameaças de morte e coação contra os indígenas aldeados

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O Ministério Público Federal (MPF) instaurou um procedimento administrativo para acompanhar a investigação de uma suposta invasão por garimpeiros à Aldeia Jarinal, localizada na Terra Indígena Vale do Javari, no Amazonas. Segundo denúncia recebida pela Procuradoria da República no município de Tabatinga, os invasores teriam utilizado ameaças de morte e coação contra os indígenas aldeados.

A medida foi formalizada por meio da Portaria nº 23/2025, assinada pelo procurador da República Gustavo Galvão Borner e publicada no Diário Oficial na segunda-feira, 28 de julho. O procedimento tem como objetivo fiscalizar a instauração de inquérito policial requisitado na Notícia de Fato nº 1.13.000.000819/2025-20.

“[O procedimento tem o] objetivo de acompanhar a instauração de inquérito policial requisitado sobre a notícia de suposta invasão por garimpeiros à Aldeia Jarinal, localizada na Terra Indígena Vale do Javari, com a utilização de coação e ameaças de morte aos aldeados”, diz trecho do documento.

De acordo com o MPF, a instauração do procedimento atende às funções institucionais do órgão, que incluem a proteção de interesses sociais e individuais indisponíveis, como os direitos dos povos indígenas e a defesa do território tradicionalmente ocupado por eles. A medida também visa garantir o cumprimento dos princípios constitucionais da legalidade, moralidade e probidade administrativa.

A Aldeia Jarinal, onde vivem os povos Kanamari, está situada em uma das regiões mais sensíveis e isoladas do Brasil, o Vale do Javari, território com histórico de conflitos envolvendo exploração ilegal de recursos naturais, especialmente o garimpo. A região também abriga o maior número de povos indígenas isolados do mundo.

O procedimento terá prazo inicial de um ano para conclusão, podendo ser prorrogado. As diligências iniciais foram determinadas no despacho PRM-TAB-AM-00009140/2025 e serão acompanhadas pela 6ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF, que trata de populações indígenas e comunidades tradicionais.

O MPF ressaltou que o uso do Procedimento Administrativo, conforme previsto na Resolução nº 174/2017 do Conselho Nacional do Ministério Público, permite o monitoramento de políticas públicas e investigações que envolvam direitos coletivos sensíveis, mesmo sem a instauração imediata de inquérito civil.

A Procuradoria, contudo, não divulgou detalhes sobre os responsáveis pelas ameaças ou o estado atual de segurança dos indígenas da Aldeia Jarinal.

A reportagem entrou em contato com a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) para obter posicionamento sobre o caso, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.

Garimpo

Vale lembrar que o garimpo ilegal tem sido uma pauta recorrente na Amazônia, especialmente, em territórios isolados como o Vale do Javari. Segundo mostrou O Convergente no início de julho, MPF chegou a firmar um Termo de Compromisso pioneiro com a Starlink para prevenir e combater o uso irregular de internet em áreas de garimpo ilegal na região.

Esse foi o primeiro acordo formal da empresa com autoridades brasileiras. A iniciativa estabelece medidas concretas de rastreabilidade, controle e bloqueio de usuários que utilizam o serviço da empresa para viabilizar atividades criminosas em áreas sensíveis da floresta, especialmente em terras indígenas e unidades de conservação.

Pelo acordo, a Starlink exigirá, a partir de janeiro de 2026, dados de identificação e comprovante de residência dos novos usuários como condição para ativação dos terminais na região da Amazônia Legal. A medida permitirá que as autoridades brasileiras monitorem com maior precisão o uso dos equipamentos.

Veja também: Acordo entre MPF e Starlink prevê coibir uso da internet no garimpo ilegal

Internet

A medida ocorreu após uma investigação, conduzida pelo MPF no Amazonas, revelar que quase todos os pontos de garimpo ilegal na Amazônia contam com acesso à internet via satélite fornecida pela Starlink, empresa do bilionário Elon Musk e pertencente à SpaceX. Segundo denúncias, o uso da tecnologia tem permitido a comunicação entre garimpeiros, favorecendo atividades criminosas como a exploração ilegal de minérios em áreas protegidas, especialmente terras indígenas.

Veja também: Investigação aponta que quase todos os pontos de garimpo ilegal na Amazônia possuem internet Starlink

A presença da internet Starlink em garimpos ilegais é considerada um fator que dificulta as ações repressivas das autoridades. Segundo o MPF, os garimpeiros estão utilizando o serviço para articular fugas, planejar contrainteligência criminosa e ocultar provas. O acesso à internet tem viabilizado também a rápida disseminação de informações, como a movimentação de equipes de fiscalização, impactando negativamente a preservação ambiental e a segurança das comunidades indígenas.

Confira o documento:

Por: Bruno Pacheco
Foto: José Rosha, do Cimi Norte I
Revisão Jurídica: Letícia Barbosa

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