A poucos meses da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada em Belém (PA), a Câmara Municipal de Manaus (CMM) abriu espaço para um debate essencial: como enfrentar os desafios do desenvolvimento sustentável a partir da Amazônia. Na manhã desta terça-feira (8 de julho), o auditório Zany dos Reis, na Casa Legislativa, recebeu autoridades, especialistas, ambientalistas, estudantes e representantes da sociedade civil para o Seminário COP30: Os Desafios do Desenvolvimento Sustentável na Amazônia.
Promovido pela Escola do Legislativo Vereadora Léa Alencar Antony, com apoio do presidente da Casa, David Reis (Avante), e de comissões temáticas da Câmara, o evento destacou a importância de discutir as mudanças climáticas com base nas peculiaridades da região amazônica. A diretora-geral da CMM, Elane Alves, fez a abertura do seminário oficial e ressaltou o papel do Parlamento Municipal como mediador entre sociedade e instituições.
“Este é um momento histórico para a Amazônia. A COP30 coloca nossa região no centro das atenções globais, e a Câmara cumpre seu papel ao promover um debate que busca soluções a partir da nossa realidade, ouvindo quem conhece e vive os impactos ambientais diariamente”, afirmou.
Responsável pela organização do seminário, o diretor da Escola do Legislativo, Edilson Rhasiley, enfatizou que o evento é uma oportunidade para promover conscientização e mobilização social.
“A COP30 vai discutir o clima globalmente, mas aqui nós discutimos a partir da nossa realidade. Estamos trazendo especialistas que nos ajudam a refletir sobre o que é possível fazer no cotidiano. São ações simples, mas com impacto real, como o descarte correto do lixo ou o consumo consciente. Se hoje já sentimos as consequências de eventos extremos, como secas e enchentes, precisamos agir com urgência. A Câmara dá esse pontapé inicial, e queremos sair daqui mais conscientes e preparados para contribuir com as transformações necessárias”, completou.
Um dos destaques da programação foi a participação do diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Dr. Henrique Pereira. Em sua palestra, ele abordou o mecanismo REDD+ (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal), considerado estratégico para o financiamento climático.
“A conservação das florestas tropicais precisa ser compensada por quem mais contribuiu historicamente para o aquecimento global. O Brasil foi pioneiro ao criar o Fundo Amazônia, em 2008, e precisa continuar liderando esse debate. Não há mais tempo para adiar decisões”, destacou.
O diretor do INPA também fez um resgate histórico da participação do Brasil nas negociações climáticas, desde a ‘Rio 92’ até a próxima ‘COP’, em Belém. Para ele, sediar o evento na Amazônia representa uma grande responsabilidade.
“É a primeira vez que a COP acontece aqui, e precisamos estar preparados. O mundo estará olhando para nós. Não é uma conferência do Amazonas ou do Brasil, é da humanidade. As decisões que forem tomadas podem mudar o rumo da história ambiental do planeta”, afirmou o diretor do INPA.
A procuradora-chefe do Ministério Público do Trabalho no Amazonas e Roraima (MPT/AM-RR), Alzira Melo Costa, também integrou o grupo de palestrantes. Ela trouxe para o debate a necessidade de aliar desenvolvimento sustentável e inclusão social.
“Quando falamos em sustentabilidade, precisamos pensar também nas pessoas. Os catadores de materiais recicláveis, por exemplo, são protagonistas invisibilizados da cadeia ambiental. Incluir esses trabalhadores nas políticas públicas é essencial para uma transformação justa e duradoura”, defendeu.
Outro tema relevante foi apresentado pelo professor da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Denison Aguiar, que abordou o bem-estar animal a partir de uma perspectiva amazônica, com ênfase na bioecologia dos peixes.
“É preciso pensar políticas públicas endógenas, feitas por e para a Amazônia. Importar leis de outros contextos não funciona aqui. Precisamos de uma legislação ambiental que respeite a nossa realidade e nossos saberes”, afirmou.
A visão foi reforçada pelo vereador Aldenor Lima (União Brasil), presidente da 25ª Comissão de Proteção e Bem-Estar Animal da CMM. Segundo ele, o seminário representa um passo importante para transformar a atuação legislativa em instrumento de defesa da fauna, da floresta e das populações tradicionais da região.
O desembargador Flávio Pascarelli, do Tribunal de Justiça do Amazonas (TJ-AM), também participou da programação e destacou a importância do debate jurídico na pauta ambiental.
“A Câmara tomou uma iniciativa relevante ao antecipar esse debate. A minha participação tem como foco a questão processual, os direitos ecológicos e como o direito pode colaborar com soluções. Nós estamos aqui para dar sugestões, mas, sobretudo, para ouvir. Espero que todos saiam daqui mais informados e, com isso, também mais preparados para contribuir”, afirmou Pascarelli.
A programação contou com palestras e rodas de conversa que envolveram temas como mudanças climáticas, reciclagem, conservação da biodiversidade e os impactos das políticas públicas no cotidiano da população. O público presente teve a oportunidade de interagir diretamente com os especialistas, tornando o evento um espaço plural de troca de saberes e construção coletiva.
Com a COP30 se aproximando, a realização do seminário em Manaus mostra que a capital amazonense está pronta para contribuir de forma ativa nas discussões globais. Ao tratar de questões complexas com base na vivência local, a iniciativa reafirma o protagonismo da Amazônia não apenas como cenário, mas como agente estratégico na luta contra a crise climática.
Fotos: Cleuton Silva/Dicom-CMM