Durante a sessão que aprovou o texto da reforma tributária na Comissão do Senado Federal, nessa terça-feira (7), o senador Flávio Bolsonaro (PL) fez duras críticas à Zona Franca de Manaus (ZFM), o que gerou uma onda de comentários negativos a respeito da fala dele. No entanto, a bancada federal do Amazonas se dividiu entre escolher o silêncio e repercutir as falas do filho do ex-presidente Jair Bolsonaro.
A crítica ao modelo econômico amazonense ocorreu após o senador Eduardo Braga (MDB), relator da reforma, rejeitar uma emenda do senador.
“Manaus tem que ser o novo Vale do Silício, e o resto do Brasil uma Argentina, já que as indústrias de todo o País vão para a Zona Franca de Manaus por causa do custo baixo de produção ou serão incentivadas a adquirir matérias-primas no Amazonas”, disparou.
Não demorou muito para que as falas do senador bolsonarista viralizassem nas redes sociais, trazendo diversos comentários negativos em relação ao senador Flávio Bolsonaro e ao seu posicionamento a respeito da ZFM.
Apesar de os internautas reagirem, a bancada federal do Amazonas não seguiu o mesmo caminho. O Convergente pesquisou as redes sociais dos políticos que compõem a bancada e constatou que muitos não falaram sobre Flávio Bolsonaro e as críticas à ZFM, diferente do que aconteceu quando os mesmos cobraram ações da ministra Marina Silva a respeito da BR-319.
Até às 9h20 desta quarta-feira (8), o único parlamentar que falou diretamente sobre o assunto nas redes sociais foi o deputado Saullo Vianna (UB). Outros deputados e senadores aproveitaram para comentar sobre a feira de sustentabilidade do Polo Industrial de Manaus que, por coincidência, acontece em Brasília.
O deputado Saullo Vianna, no X (antigo Twitter), afirmou que é “ignorância” o senador Flávio Bolsonaro comparar a ZFM com outro modelo econômico e que o mesmo precisa fazer a lição de casa.
“É lamentável ver o senador Flávio Bolsonaro fazendo comparações tão desinformadas sobre a Zona Franca de Manaus durante sessão no Senado! Criticar o modelo, chamando-o de desigual em relação a outras regiões, é um erro grave. Comparar a Zona Franca a qualquer coisa que não seja um modelo único e valioso é ignorância. A ZFM é um pilar do desenvolvimento do Amazonas e do Brasil, gerando empregos, impulsionando a economia e contribuindo para a preservação do meio ambiente. O senador deveria fazer a lição de casa antes de fazer afirmações desse tipo. Na Reforma Tributária, a Zona Franca deve ser protegida e valorizada!”, disse.
Apesar da repercussão das falas do senador bolsonarista, os demais membros da bancada federal não emitiram opinião pública a respeito. O deputado federal Alberto Neto (PL), por exemplo, chegou a falar sobre os benefícios da Zona Franca de Manaus em uma publicação na feira de sustentabilidade da ZFM, mas não rebateu as falas do senador bolsonarista.
“O nosso polo industrial é o principal pilar da preservação ambiental no Amazonas. Conservamos 96% da floresta amazônica, além da manutenção de aproximadamente 86 mil empregos diretos”, escreveu na publicação.
Já o senador Omar Aziz (PSD) foi outro parlamentar que participou da mesma feira e fez comentários em defesa da Zona Franca, mas sem falar diretamente sobre os comentários de Flávio Bolsonaro.
“Para quem está em Brasília, muito importante que venha visitar e conhecer mais a qualidade dos produtos fabricados em Manaus. A Zona Franca é importante para Manaus, mas também é um patrimônio do Brasil”, disse.
Os demais parlamentares que compõem a bancada federal, os deputados Amom Mandel (Cidadania), Sidney Leite (PSD), Átila Lins (PSD), Adail Filho (Republicanos), Fausto Jr (UB), Silas Câmara (Republicanos) e os senadores Eduardo Braga (MDB) e Plínio Valério (PSDB) não falaram publicamente sobre o assunto.
Críticas a Marina Silva
A BR-319, que seria uma opção para ligar os amazonenses ao resto do Brasil por meio de rodovias, tem sido um grande dilema há décadas. Isso porque a estrada não possui uma boa condição de trafegabilidade, faltando a conclusão de alguns trechos, além de reparos que não são feitos há anos.
Em um vídeo publicado nas redes sociais, o deputado Alberto Neto discursa na tribuna da Câmara dos Deputados e relembra quando o Amazonas precisou de oxigênio, que não conseguiu chegar rapidamente por conta da dificuldade de logística de transporte.
“Hoje o nosso povo padece, ministra Marina, padeceu na pandemia, vocês viram as imagens, os horrores dos caminhões tentando chegar na cidade de Manaus e muitos morreram por causa disso. Muitos morreram por causa dessa política ambiental, desmedida, xiita que tem isolado o povo do Amazonas”, disparou.
Outro parlamentar que teceu críticas à ministra foi o senador Omar Aziz (PSD). Apesar de ser aliado do governo Lula, o parlamentar disparou que a “culpa” cairia sob a responsabilidade de Marina Silva, caso os amazonenses passassem fome no período de estiagem.
“Pois eu declaro que, se algum amazonense passar fome, a culpada é a senhora ministra Marina Silva, que por vaidade não permite a recuperação da BR-319 e sentencia o Amazonas ao isolamento”, escreveu nas redes sociais.
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Por Camila Duarte
Revisão textual: Vanessa Santos
Ilustração: Marcus Reis