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quinta-feira, novembro 21, 2024

Em reunião com Putin, Dilma defende transações sem dólar e nega dinheiro à Rússia

Cerca de US$ 300 bilhões (R$ 1,5 trilhão) em reservas internacionais da Rússia foram congelados em bancos no exterior devido às sanções

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Durante uma reunião com o líder russo, Vladimir Putin, em São Petersburgo nesta quarta-feira (26), a chefe do banco do Brics e ex-presidente Dilma Rousseff (PT) fez críticas à hegemonia do dólar em transações internacionais. O chefe do Kremlin e Dilma Rousseff (PT) defenderam o uso de moedas locais, como o yuan chinês, para facilitar as trocas entre os países emergentes representados pelo acrônimo Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

Apesar disso, antes da reunião, Dilma negou a especulação sobre o banco do Brics realizar novos empréstimos a Moscou, considerando as sanções internacionais impostas ao país devido à sua invasão da Ucrânia em 2022.

“O NDB [Novo Banco de Desenvolvimento, na sigla inglesa do órgão] reiterou que não está considerando novos projetos na Rússia e que opera em conformidade com as restrições aplicáveis nos mercados internacionais”, afirmou a ex-presidente brasileira na plataforma X, como o Twitter foi rebatizado.

 

Discurso na Rússia

Dilma denunciou em uma palestra em Pequim, no começo do mês, que o discurso contrário ao dólar é uma “arma geopolítica” frequente entre países rivais dos Estados Unidos na Guerra Fria 2.0, como China e Rússia, e entre os que buscam não ser alinhados automaticamente, como o Brasil.

As motivações variam. As sanções levaram ao congelamento de cerca de US$ 300 bilhões (R$ 1,5 trilhão) em reservas internacionais da Rússia em bancos no exterior, e Putin tem esse exemplo caseiro.

O governo de Joe Biden percebe que Lula está buscando uma posição de maior autonomia em relação a Washington, o que é considerado uma possível ingratidão após o apoio dado à transição de governo no Brasil.

Putin, visivelmente enfastiado durante a declaração que deu ao lado de Dilma após o encontro, foi econômico. Criticou mais abertamente o uso do dólar como moeda internacional e não entrou nos detalhes da conversa com a brasileira. “Sabemos que há dúvidas sobre a liquidez do banco, que há algumas ideias de seu pessoal sobre isso, e vamos apoiá-los”, afirmou, sobre uma preocupação corrente no mercado. “As relações dos países do Brics estão se desenvolvendo em moedas nacionais, parece-me que o banco pode desempenhar um papel significativo.”

Dilma foi mais eloquente. Lembrou que o NDB tem como meta de 2022 a 2026 fazer 30% de suas captações em moedas locais. “Não há justificativa para que países em desenvolvimento não possam estabelecer trocas em moedas locais”, afirmou. Também defendeu outra bandeira de Putin, um “mundo mais multilateral e multipolar”, e elogiou Moscou como “grande parceira no Brics e no NDB”.

Em síntese ela ainda saudou a reunião com os países africanos. “É importante para todos que têm compromisso com o desenvolvimento do Sul Global”, disse, usando o jargão mais recente para os ditos emergentes.

 

Dilma não comunicou viagem à Rússia

Dilma participará da cúpula de Putin com 17 chefes de Estado africanos, e ela não comunicou a viagem ao governo brasileiro. No Itamaraty, os observadores viram o movimento como normal, considerando que ela pode estar alinhada com Lula e deve a ele sua indicação ao NDB, mas não trabalha para o petista.

Lula considera Kiev tão culpada quanto Moscou pelo conflito e já recebeu críticas de ucranianos, europeus e americanos por essa postura.

Na prática, é a posição tradicional brasileira de não alinhamento, que não dispensou a crítica à invasão em votações da ONU.

Em termos econômicos o Brasil só elevou seu elo com a Rússia desde então. Parceiros sul-americanos, como o chileno Gabriel Boric, entraram em colisão com Lula por isso.

Para o russo, mesmo sem dinheiro novo, a presença de Dilma amplia a sensação reduzida de apoio da cúpula. Na sua primeira edição, em 2019, havia 43 chefes de Estado. Um deles, presente nas duas reuniões, é o sul-africano Cyril Ramaphosa, que sediará no mês que vem a cúpula do Brics.

Já que Putin tem ordem de prisão ele participará apenas por vídeo. A ordem de prisão emitida por supostos crimes de guerra é aplicável na África do Sul.

Em suma Dilma falou sobre a reunião, dizendo ser a favor da expansão do bloco e do NDB.

O órgão já tem membros de fora do Brics. Em síntese é o caso do Egito.

Ninguém fez nenhum comentário sobre a pretensão da Belarus, ditadura aliada à Rússia, de ingressar no grupo.

Leia mais: Bolsonaro chama Lula de jumento e fala em ‘missão’ de voltar à presidência

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Edição: Hector Santana, com informações da Folha

Foto: Divulgação

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