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sexta-feira, julho 5, 2024

Aprovado na Câmara dos deputados, gastos irregulares de partidos podem ser perdoados pela PEC da Anistia

Em processos de prestação de contas analisados pelo GLOBO, constam desde gastos com aeronaves acima do que é desembolsado em uma campanha presidencial

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Aprovada na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados com apoio suprapartidário, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Anistia poderá liberar os partidos de pagarem à União multas aplicadas em razão dos excessos de políticos e dirigentes partidários nos últimos anos.

Em processos de prestação de contas analisados pelo GLOBO, constam desde gastos com aeronaves acima do que é desembolsado em uma campanha presidencial até o mesmo carro sendo abastecido com diesel e gasolina, não há no mercado veículo capaz de rodar com os dois combustíveis.

Apresentada em março, a PEC, que agora vai ser votada no plenário da Câmara, prevê que não serão aplicadas sanções aos partidos que descumpriram a cota mínima de recursos para candidaturas de negros e mulheres. Também os livra de multas nas prestações de contas até a aprovação do projeto. A controvérsia fez a deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP) acionar o Supremo Tribunal Federal (STF) para barrar a tramitação. O ministro Luís Roberto Barroso abriu prazo para a Câmara se manifestar.

Como o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) demora, em média, cinco anos para julgar as contas, as análises mais recentes são de 2018. Naquele ano, o PSL fez reembolsos de R$ 61 mil a um político que abasteceu um carro com gasolina e diesel. No processo, o TSE questionou a sigla, que não rebateu a irregularidade. O GLOBO procurou o União Brasil, partido que resultou da fusão do PSL com o DEM, também sem retorno.

Abastecimento suspeito

Já o Democracia Cristã (DC) desembolsou, em 2018, R$ 64 mil com combustível, valor pago ao Centro Automotivo Caminho Certo. Segundo a legislação, os partidos precisam comprovar que as viagens realizadas têm ligação com a atividade partidária, o que não foi feito.

Gastos no posto, que tem como sócio o presidente do partido, José Maria Eymael, já tinham sido alvo nas prestações de contas de 2013 a 2015. Procurado, o DC alegou que o posto pratica preços de mercado e que não houve “vantagem escusa” para qualquer parte.

No mesmo ano, o PROS, depois incorporado ao Solidariedade, foi condenado a devolver R$ 134 mil pela compra de 3,7 toneladas de carne. A legenda também teria usado o fundo partidário para beneficiar seu presidente, Eurípedes Jr., cedendo R$ 328 mil para um projeto de piscina e área de churrasco.

Segundo o colunista Lauro Jardim, do GLOBO, ao menos punições deste tipo seguirão válidas: líderes dos partidos fizeram acordo para retirar da proposta o perdão da dívida a irregularidades não consideradas partidárias e eleitorais.

Outros valores são alvos do Ministério Público Eleitoral. O DEM gastou quase R$ 1 milhão com fretamento de aviões, valor maior que o pago em 2022 pelos presidenciáveis Soraya Thronicke (R$ 875 mil) e Ciro Gomes (R$ 822 mil) pelo serviço. O partido alegou que as locações ocorreram na campanha de Rodrigo Maia à presidência da Câmara, mas não convenceu.

Salários acima da média do mercado também chamaram a atenção. Sediado num edifício corporativo, o PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro, teve gastos de R$ 8 mil mensais, pagos a uma empresa pelo serviço de portaria, considerados irregulares. Segundo o ministro Benedito Gonçalves, a firma só tinha um empregado registrado, como porteiro, com salário de R$ 1.221,97. Assim, conclui, “registram-se indícios de ato antieconômico” na declaração do PL de que pagou oito vezes mais pelo serviço contratado. Procurado, o partido não comentou.

Da mesma forma, em 2022, o tribunal cobrou do PTB de Roberto Jefferson uma verba mensal de R$ 33,8 mil que o partido lhe pagava. Destacou que a legenda não deliberou sobre repasses ao presidente da sigla, o que é praxe, e que o valor pago está acima do teto do funcionalismo público.

Sobre a PEC

A PEC 9/23 pretende proibir a aplicação de sanções aos partidos que tiverem descumprido a cota mínima de recursos para as candidaturas femininas até as eleições de 2022 ou por irregularidades na prestação de contas anteriores a 5 de abril do ano passado, data em que o Congresso aprovou a Emenda Constitucional 117, destinando uma cota de recursos partidários no percentual mínimo de 30% do fundo partidário para a candidatura de mulheres e para a promoção da inclusão feminina na política.

Partidos beneficiados

O cientista político e advogado Helso Ribeiro destacou que a proposta tem um único viés e se aprovada pelo Congresso Nacional, as legendas partidárias, que mesmo deixando de cumprir regras eleitorais, vão ser as maiores beneficiadas, tendo o “perdão” de suas dívidas.

“Eu digo o seguinte: a população em geral não é muito satisfeita com a representação política, isso em geral. Há um desgaste muito grande da democracia representativa porque a gente pega lá o Jean-Jacques Rousseau, já lá no século XVIII, ele dizia em duas obras “Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens e O Contrato Social”, ele dizia que as leis são úteis e boas para quem tem posses e elas acabam sendo nocivas para quem nada têm. É claro que essa proposta que está hoje na pauta da Câmara e depois vai para o Senado, ela beneficia os partidos políticos. Quais? Todos. Então você vai ver direita, esquerda, centro, os extremos dando as mãos porque serão beneficiados”, pontuou Helso Ribeiro sobre a anistia partidária.

Leia mais: Maduro desembarca em Brasília para reunião com Lula nesta segunda-feira

Por informações do O Globo

Foto: Divulgação

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