Com uma configuração diferente, o quadro Debate Político do Portal O Convergente dessa terça-feira, 23/8, abordou temas relacionados às Eleições Gerais de 2022, com a presença dos articulistas do O Convergente, o cientista político Helso Ribeiro do Carmo e do jurista Christian Rocha. O debate foi mediado pela pesquisadora e apresentadora do portal, Erica Lima. Durante o bate-papo, foram discutidas às candidaturas pretas e temas relacionados à representatividade da causa negra nos espaços de poderes, além de candidaturas femininas e de indígenas.
Neste ano, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) registrou um total de 4.202 mil candidaturas pretas, o que equivale a 13,96% do total geral de registros, que foi de 28.717. Já no Amazonas, a quantidade de candidaturas de pessoas pretas chegou a 43 registros, o que equivale a 6,79% dos registros.
Para a mediadora do debate, Erica Lima, esses números, embora poucos, já foram um avanço em relação a eleições anteriores. Já Christian Rocha, disse que o que lhe surpreendeu não foram as candidaturas de pessoas pretas, mas o número de candidatos que se declararam pretos e negros, que em pleitos anteriores não haviam se autodeclarado desta forma. O articulista disse ver um oportunismo dessas pessoas em torno da causa negra ou preta.
“Eu fiquei pasmo com o número de pessoas que se declararam negras e em outras campanhas se declararam brancas. Então, eu percebo que existe sim, aflorou, mesmo que ainda com essa pequena força, essa vontade de reconhecer e de se legitimar em prol de uma causa, mas ao mesmo tempo eu vejo um oportunismo, eu vejo uma coragem sem medida, de pessoas que tomam como assalto essa luta”, pontuou Rocha afirmando que tem pessoas que não são pretas, mas que militam pela causa, assim também como tem pessoas pretas que estão aquém da causa e que se apropriam da luta pelo fato dos privilégios de uma candidatura de pessoa preta.
Outro ponto debatido no quadro foi quanto à autodeclaração de cor e de raça, que para o cientista político Helso Ribeiro, essa questão está relacionada muito com a forma de como o indivíduo se identifica. Ponderando a questão de oportunismo apontada por Rocha, Ribeiro disso que teve oportunismo, mas que a aceitação vai muito além da cor da pele.
“Hoje tem um certo critério de vagas para negros. Eu deixo uma ponderação e um questionamento: qual o percentual dessas pessoas que se declararam negras agora? E eu até acredito que tem alguns oportunistas, mas essa questão da identidade racial, da identidade de cor, a pessoa adquire com uma maturidade. As pessoas antes negavam sua negritude e agora estão aceitando. Hoje você já consegue ver camisas e pessoas orgulhosas de participarem de movimento negro”, ponderou Riberio falando que essa afirmação ainda não ocorre no Amazonas, quanto a questão da identificação indígena, que segundo ele é de 100% de índio, e que parece ser “vergonhoso assumir essa identidade”.
Christian Rocha explanou uma questão em que ele afirma que não há interesse no Amazonas em estudar as etnias e nem as origens dos negros. Ele deu exemplo do país africano Cabo Verde, que têm negros com cabelos lisos. Christian Rocha também apresentou dados de institutos, como os do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) desse crescimento dos negros e pretos. Segundo ele, entre 2002 a 2005, apenas 16 mil pessoas se declaravam negras ou pretas no Estado, já entre 2015 a 2021, já são mais de 200 mil negros no Amazonas.
“Então, está existindo uma espécie de conscientização e eu louvo isso, porque antes mesmo da palavra pardo, estava o moreno, onde as pessoas assumiam a ‘morenisse’ e negavam a negritude. Mas nós ainda encontramos pessoas que desconhecem um pouquinho da origem, tanto da negra, quanto da indígena. E em pleno o século que nós estamos vivendo, as pessoas ainda se espantam com o descobrimento de terras quilombolas”, esclareceu Christian Rocha.
Indígenas – Sobre a questão indígena, Erica Lima pontuou que há muitos estudos sobre questões raciais “engavetados” nas universidades e que é necessário uma discussão mais profundas nos espaços educativos por ainda haver muita negação em torno do racismo estrutural, racismo esse, que segundo ela, afeta também a busca dos indígenas pelos espaços de poderes, o que é mostrado no registro de candidaturas destes povos, que foram de apenas 181, o que não chega a um por cento do universo das candidaturas gerais.
Quanto às candidaturas indígenas, os especialistas divergiram em alguns pontos. Enquanto Rocha defendeu a criação de partidos por negros e indígenas, Ribeiro se declarou contra, devido à grande quantidade de legendas existentes no Brasil, que chega ao número de 32, e que essas legendas precisam agregar negros, indígenas e mulheres.
Candidaturas femininas – Quanto às candidaturas femininas, o TSE registrou um total de 9.618 mil (33,49%) do pleito de 2022. No Amazonas, esse número é de 217 candidatas (34,28%), de um total de 633 registros. O jurista Christian Rocha levantou um debate sobre o racismo estrutural partidário, pontuando que as legendas colocam mulheres porque são obrigadas, por conta de uma cota de 30% de participação feminina nos pleitos eleitorais. “Coloquem as mulheres para preencher a cota. Não têm compromisso com a causa da mulher, não têm compromissos com os indígenas e nem com os negros”, ressaltou Rocha.
Helso Ribeiro também pontuou a questão de já haver um partido que deveria atender à causa feminina, mas que na sua maioria registrou candidaturas masculinas, que é o caso do Partido da Mulher Brasileira (PMB).
A discussão também permeou temas como as cotas raciais nas legendas partidárias, realidade e inclusão social de negros, mulheres e indígenas, e sobre mudanças no sistema de concorrência por uma vaga dentro das legendas partidárias que poderiam mudar esse processo, entre outros temas.
Confira a entrevista na íntegra:
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Por Edilânea Souza
Fotos: Marcus Reis