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sábado, outubro 5, 2024

Brasil: Levantamento aponta que desinformação e ataque contra mulheres jornalistas serão desafiadores no processo de liberdade de imprensa

Segundo pesquisa lançada pela Gênero e Número (GN) e a Repórteres sem Fronteiras (RSF), oito de dez jornalistas entrevistadas informaram que tiveram que mudar seus comportamentos nas redes sociais e 15% declararam que tiveram problemas de saúde mental após ataques

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Uma pesquisa inédita, que revela a percepção de mulheres jornalistas e jornalistas LGBTQIA+ sobre os efeitos da desinformação e da violência on-line no seu exercício profissional e vida pessoal, foi lançada nessa segunda-feira, 2/5, pela Gênero e Número (GN) e a Repórteres sem Fronteiras (RSF). Os dados foram disponibilizados por meio de um relatório on-line, e apontam que estes fenômenos contribuíram e muito, com a ampliação da hostilidade e da desconfiança contra a imprensa, operando direta e indiretamente como mecanismos de censura e silenciamento.

De acordo com o levantamento, para 93% das jornalistas a desinformação é um fenômeno muito grave, e 55% avaliaram que a desinformação tem um impacto cotidiano em suas rotinas profissionais. Além disso, 86% das entrevistadas avaliaram, ainda, que a violência on-line contra a imprensa é um efeito diretamente relacionado à desinformação.

O levantamento aponta também que em oito de cada 10 jornalistas afirmaram ter mudado seu comportamento nas redes sociais nos últimos anos para se proteger de ataques, mais de 50% afirmaram que a proliferação de ataques nas redes contra a imprensa impactou sua rotina profissional e 15% relataram ter desenvolvido algum tipo de problema de saúde mental em decorrência dos ataques sofridos. Um quarto dos jornalistas que foram alvos de violência na internet afirmaram ter precisado fechar suas contas em redes sociais, ainda que temporariamente, para se proteger.

Violência no exercício da profissão – Metade dos jornalistas que responderam à pesquisa afirmam já terem sofrido algum tipo de violência devido ao exercício da profissão, e oito em cada 10 afirmaram já terem presenciado alguma situação desse tipo com algum outro colega. Para dois terços dos que testemunharam violência contra colegas ou conhecidos há a percepção de que um episódio de violência resulta em novos ataques.

Entre os tipos de violência mais presentes, conteúdos com xingamentos ou palavras hostis aparecem em primeiro lugar (35%), seguido por ataque ao trabalho (34%) e desqualificação do trabalho realizado (33%). O terceiro grupo de violações mais frequentes são ataques misóginos ou com conotação sexual (19%), nos quais a agressão é direcionada diretamente à mulher jornalista, com objetivo de intimidar, desqualificar e gerar dano à sua reputação. Ameaças à reputação profissional e pessoal, à integridade física e uso indevido de imagens ou fotos também aparecem como crimes recorrentes contra jornalistas, mas em menor quantidade. Assim como doxxing, spoofing ou ataque devido à identidade de gênero ou orientação sexual, racismo e ameaças a familiares.

Políticos, entre eles, presidente da República, ministros, governadores, prefeitos, deputados, senadores e vereadores representam 8% dos casos de agressões reportadas pelos jornalistas vítimas de violência on-line na pesquisa. Apesar de parecer pequeno, este percentual reflete estudos que apontam para um cenário de institucionalização da violência contra jornalistas no Brasil, em que a hostilidade contra a imprensa é perpetrada desde o topo do poder executivo federal e é reproduzida por parte da sociedade.

Sem cobertura – De maneira geral, os efeitos da violência on-line na rotina profissional se concretizam como outras formas de violações, impactando o direito de se expressar e desenvolver suas habilidades profissionais. 14% dos jornalistas que relataram ter sofrido algum tipo de ataque, passaram a evitar produzir conteúdos sobre determinados assuntos e 7% informaram que deixaram de cobrir algum tema ou editoria temporariamente.

Invisíveis – Outro tipo de impacto observado é a invisibilização da própria identidade autoral. Com o objetivo de se proteger, 6% dos jornalistas expostos à violência on-line admitiram evitar se dar crédito ou assinar conteúdos com seu próprio nome. 8% dos jornalistas começaram a ter medo ou receio de recorrer a algumas fontes de informação e 3% informaram que fontes se recusaram a conceder entrevistas. Nesses casos há um duplo cerceamento do trabalho da imprensa como forma de evitar consequências dos ataques sofridos: por um lado, jornalistas evitam contatar fontes para se proteger – o que pode significar também deixam de fazer questionamentos relevantes para a sociedade para evitar ser atacado novamente -, por outro lado, para não ser alvo de ataques ou em retaliação aos jornalistas, fontes deixam de atender à imprensa.

Impacto na vida pessoal – Entre as pessoas que informaram terem sofrido violência on-line, 45% reconheceram os impactos disso em sua vida pessoal. A maioria informou dois ou mais efeitos em sua rotina fora do trabalho. Quase um quarto (24%) percebeu estar mais inseguro ou ansioso desde o episódio de violência vivido. Esse tipo de impacto está diretamente ligado ao bem-estar emocional do indivíduo e também seu direito à liberdade de expressão.

Sobre a pesquisa – A pesquisa, realizada por meio de questionário on-line entre os dias 9 de agosto e 6 de setembro de 2021, reúne dados da população de jornalistas de todas as regiões do Brasil, mais especificamente do grupo que dispõe de algum equipamento digital com acesso à internet. O levantamento de dados contou com 237 participantes e foi estruturado a partir de três eixos: Desinformação, Violência On-line e Proteção e Plataformas.

 

Da Redação com informações Repórteres Sem Fronteiras

Fotos: Divulgação / Ilustração: Marcus Reis

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