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sábado, novembro 23, 2024

Ministério cria grupo para avaliar documentos sigilosos após STF determinar ampla transparência as emendas de relator

Comissão criada pelo Ministério do Desenvolvimento Regional será responsável por liberar emendas do relator poderá decidir quais informações serão divulgadas. Entre os documentos gerados e mantidos pela pasta, pedidos e despachos sobre direcionamento de verbas bilionárias para bases eleitorais de parlamentares

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O Ministério do Desenvolvimento Regional criou um grupo para avaliar documentos internos da pasta e eventualmente classificá-los como sigilosos, após um mês da determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) para que o governo dê ampla transparência à execução das emendas de relator, base do orçamento secreto. A comissão terá papel de orientar quais informações não poderão ser divulgadas. Entre os documentos gerados e mantidos pela pasta, pedidos e despachos sobre direcionamento de verbas bilionárias para bases eleitorais de parlamentares.

O histórico da pasta e do governo, com negativas de acesso a documentos em que parlamentares direcionaram recursos do orçamento secreto, preocupa especialistas. Eles apontam que o grupo criado pelo ministério de Rogério Marinho terá o poder de facilitar ou dificultar o acesso a informações de interesse público.

O Ministério do Desenvolvimento foi responsável por liberar recursos do orçamento secreto, estratégia montada pelo governo de Jair Bolsonaro para destinar bilhões de reais a um grupo de parlamentares em troca de apoio no Congresso. No ano passado, a pasta chegou a suspender contratos para a compra de máquinas agrícolas a pedido de deputados e senadores após a Controladoria-Geral da União (CGU) apontar sobrepreço de R$ 142 milhões. O ministério dizia não ter registro dos direcionamentos, mas a reportagem teve acesso e publicou ofícios e planilhas.

A chamada Comissão Permanente de Avaliação de Documentos Sigilosos (CPAD) é prevista pela legislação desde o decreto que regulamentou a Lei de Acesso à Informação (LAI), em 2012. Outros ministérios e autarquias, como Agricultura, Relações Exteriores, Justiça e Controladoria-Geral da União (CGU), já haviam instituído suas respectivas comissões no passado.

De acordo com a portaria da pasta de Marinho, a presidência da comissão caberá ao ouvidor do ministério, função exercida pelo servidor Pedro Batelli. Representantes das secretarias do ministério também serão membros.

O diretor executivo da ONG Transparência, Manoel Galdino, vê com ressalvas a iniciativa. Ele destaca que um decreto do governo Bolsonaro, de 2019, já havia ampliado o leque de servidores com poder para classificar informações como secretas ou ultrassecretas. Agora, a comissão, presidida pelo ouvidor, pode ampliar o que já tinha sido considerado um retrocesso em termos de transparência.

“A norma está atribuindo a uma série de servidores públicos o poder de revisar a classificação de informações. Pelo decreto que regulamenta a LAI, só podem classificar informações como ultrassecretas e secretas os ministros de estados e chefes de autarquias e estatais. Não pode ter uma comissão presidida pelo ouvidor do órgão ajudando ou determinando como deve ser essa classificação de informações”, afirmou.

O advogado Walter Capanema, professor de Direito digital e diretor da Smart3, também faz ressalvas ao fato de o ouvidor presidir a comissão. Ele destaca ainda que a portaria menciona a aplicação da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Embora aplicável à esfera pública, a norma costuma ser usada como justificativa para negar documentos de caráter público.

“Essa comissão, no papel, parece buscar a transparência e a publicidade que a Constituição exige. Contudo, é preciso ver, na prática, se efetivamente os deveres ali estabelecidos serão executados e cumpridos”, disse.

A falta de transparência sobre documentos que comprovaram a liberação de verbas para aliados por critério político criou constrangimento e pressão judicial sobre a pasta. Após o Estadão revelar o esquema do orçamento secreto, Marinho e o presidente Jair Bolsonaro disseram que tudo era público e poderia ser consultado no site do ministério. Meses depois, a pasta admitiu que não era verdade e reconheceu que os documentos não estavam disponíveis.

Procurado pela reportagem, o ministério de Marinho informou que documentos relacionados à execução de emendas de relator não poderão ser classificados pela nova comissão. Além disso, negou que a criação do colegiado tenha relação com decisões do STF. Seria somente uma “atualização” de portaria que existia na época do extinto Ministério da Integração Nacional. Também frisou que a transparência da execução das emendas de relator se dará conforme o decreto de Bolsonaro, de dezembro, que estabeleceu regras específicas. O ministério também informou, em nota, que o colegiado é “mais um instrumento de governança” e que servirá para “apoio aos gestores e dirigentes quanto aos melhores procedimentos no tratamento de informações classificadas”.

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Da Redação com informações do Estadão

Foto: Dida Sampaio/Estadão

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