Críticas, ameaças, apoios, divergências políticas e o andamento da CPI da Covid no retorno dos trabalhos da comissão no próximo mês no Senado foram alguns dos temas destacados pelo senador Omar Aziz (PSD-AM) no quadro “Debate Político”, do Portal O Convergente, desta segunda-feira, 26/7. Durante a entrevista, Omar Aziz disse não temer os reflexos que presidir a comissão pode ter para sua vida política e garantiu que a CPI vai trazer esclarecimentos à população.
No Amazonas desde que os trabalhos da CPI entraram em recesso, Aziz tem tido uma agenda extensa de entrevistas para falar sobre o andamento da comissão, mesmo em recesso parlamentar. Ele confirmou que serão convocados representantes das plataformas Facebook, Instagram e YouTube já no retorno dos trabalhos da CPI para prestar esclarecimentos.
As convocações têm como objetivo discutir a propagação de Fake News, principalmente, quanto a divulgação do tratamento precoce no combate à Covid-19. O que, para o senador, deveria que ter sido barrado pelas plataformas digitais uma vez que se tratavam de informações mentirosas acerca do uso do chamado “kit covid”.
“Um medicamento é exposto nas suas redes sociais dizendo que aquilo salva vidas. Uma Fake News! E eles não tomaram providências e tem responsabilidades sobre isso. Uma propagação de uma mentira tem resultados muitos ruins e sérios para quem faz essa propagação. Imagina propagar um medicamento que, em vez de ajudar, mata. Só para que os laboratórios possam vender mais. Então tanto o Facebook, quanto o Instagram, como o YouTube tem responsabilidade com isso”, afirmou Aziz.
Crime contra vida – O senador também falou com indignação sobre a testagem de rebanho aplicada na população do Amazonas durante o ápice da segunda onda da pandemia, em janeiro deste ano.
“Nós temos provas sobre isso. Em janeiro deste ano em vez de trazer oxigênio trouxeram um tipo de tratamento com medicamentos sem eficácia comprovada. Isso ai é crime contra a vida, crime de pessoas que prescreveram o medicamento não comprovado cientificamente. Era uma experiência. O Amazonas serviu de cobaia para um tratamento que não existe, que não tem comprovação científica nenhuma. Estamos trabalhando para que possamos ter dados suficientes para que as pessoas que foram responsáveis por isso sejam penalizadas conforme manda a lei”, garantiu ao informar que o tema será mais aprofundado no retorno dos trabalhos da CPI.
Confiança – No decorrer da entrevista, o senador falou também sobre a desconfiança da população quanto aos resultados da CPI, sobre sua atuação à frente da comissão, bem como os resultados já adquiridos na primeira etapa dos trabalhos.
“Toda CPI começa na desconfiança. Essa CPI é diferente, está na residência de cada brasileiro. É uma CPI em que as pessoas querem saber o que está acontecendo. E creio que no trabalho que estamos fazendo muitas coisas estão sendo esclarecidas, principalmente porque que o Brasil deixou de comprar vacina no momento certo”, destacou.
Questionado sobre a contundência das provas e o possível indiciamento de algumas pessoas, entre elas o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), Aziz deixou os embates políticos de lado e disse que não pode ser precipitado quanto a isso.
“Sobre isso, o que vai dizer para a gente são os fatos que estamos investigando. Fazer alguma conclusão agora seria precipitado da minha parte e seria de muita irresponsabilidade dizer qualquer coisa que possa vir a sair no relatório final. Temos que ter um pouco de paciência. Estamos investigando. Quem quer que seja responsável pelo o que aconteceu no Brasil, a omissão, a irresponsabilidade, seja de presidente, governador, prefeito, ministro, essas pessoas estarão no relatório final”, garantiu.
Embates políticos – Sobre os embates internos ocorridos durante a condução da CPI no Senado e também fora, com posicionamentos contrários as ações da comissão, Omar imputa os comportamentos como sendo próprios do cenário político.
“Aquilo é uma casa política e é lógico que tem divergência. Isso é normal. Em todo lugar onde você trabalha, com diversas pessoas e pensamentos, há um embate. Mas, tem que ser um embate respeitoso em cima de teses que você pode defender ou acusar, mas com base em alguma coisa. O que não podemos é baixar o nível”, opinou.
Sobre os impactos dos embates na condução da CPI, o senador disse que sempre existe quem seja contra ou a favor, mas o foco é investigar o que levou o país a não comprar vacinas quando podia ter feito, por exemplo.
“Aquilo ali é uma casa política. Tem gente a favor e contra, mas o fato é que nós chegamos a 550 mil mortes no Brasil. Poderia não ter isso hoje se tivesse tomado a vacina, mas infelizmente o Brasil não comprou a vacina. Deixou de comprar a vacina a dez dólares para negociar com uma empresa que estava vendendo a quinze para que algumas pessoas fossem beneficiadas com isso. E é contra isso que a CPI se propõe. Esse trabalho de esclarecimento para a população acho que a CPI está fazendo muito bem”, opinou.
Redes sociais – Ativo nas redes sociais, o senador Omar falou também sobre os impactos que as plataformas, que os usuários têm no andamento da CPI. “Tem gente que apoia, tem gente que é contra. A democracia é isso. Os fatos estão sendo apresentados, as verdades estão sendo apresentadas e se sobrepõem a qualquer versão. As vezes isso deixa algumas pessoas com raiva, te agridem. Encaro com normalidade. Já estou há muitos anos na política, já vi muita coisa, tenho experiência suficiente para saber que a gente tem que ter o equilíbrio e a cautela necessária para não cometer injustiça”, afirmou.
O que, segundo o senador, não ocorre em muitos casos, principalmente em ações relacionadas ao presidente Jair Bolsonaro. “É muito fácil você agredir, xingar, destratar, o difícil é construir. Muita gente tem dificuldade de fazer isso. O próprio presidente tem. O presidente fala em Deus, mas não age como Deus manda. As agressões que ele joga ali no cercadinho dele não estão colando mais. Se fosse isso há quatro cinco meses atrás, nenhum de nós teríamos sobrevivido, teríamos sido cancelados já. Hoje não. Existe um embate. As versões que eles deram estamos provando que são mentirosas e os fatos vão se sobressair sobre isso. As pessoas vão discutir e perceber quem está falando a verdade ou não”, opinou ao se referir aos ataques que a CPI e ele vem sofrendo por parte do presidente e de apoiadores.
Bastidores e retorno – Em relação as consequências para sua vida política após presidir a CPI da Covid, Omar afirmou não temer danos a sua imagem, negou que tenha dado um “tiro no pé” ao se envolver na comissão e afirmou que está fazendo sua obrigação como parlamentar.
“Acho que é minha obrigação como senador da República investigar, principalmente o que aconteceu no estado do Amazonas. O Estado é um caso clássico de omissão muito grande em relação a falta de oxigênio. Nós não estamos falando aí em ‘tiro no pé’. Você é eleito pelo povo para assumir responsabilidades, não para se omitir. Como um parlamentar não quer saber o que está acontecendo no Brasil hoje? Qual a função do parlamentar? Se for ruim eleitoralmente, politicamente paciência. Deus sabe o destino de cada um de nós. Estou com a consciência tranquila, fazendo o meu trabalho e investigando. Estou e vou continuar fazendo”, afirmou.
Conforme o senador, tudo na CPI está sendo feito com cautela e com o objetivo de dar um bom resultado ao povo brasileiro naquilo que a comissão se propôs a fazer. “É um empenho muito grande para que a verdade venha à tona e que essas pessoas que foram responsáveis por omissão, prevaricação ou por terem cometido crime contra a vida e a saúde pública sejam penalizadas. O resultado vai ser positivo. A população vai ter o esclarecimento e saber quem foi quem nesse processo. Tenho certeza que Deus irá nos ajudar a fazer com que essa CPI tenha resultados positivos, que ajude a população”, finalizou.
Confira a entrevista na íntegra:
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Por Izabel Guedes
Ilustração: Marcus Reis