Estudioso do cenário epidemiológico e voz ativa na difusão de informações referentes ao comportamento do coronavírus no país, o epidemiologista e pesquisador da Fiocruz/Amazônia, Jesem Orellana participou nesta quinta-feira, 10/6, do quadro “Erica Lima Conversa”, do Portal O Convergente. O atual contexto epidemiológico e as projeções da epidemia causadas pela Covid-19 no Amazonas foram os temas debatidos.
Durante a entrevista, Jessem destacou que o momento epidemiológico em que o Estado está passando ainda é de muita insegurança. “Manaus é o termômetro da epidemia no Amazonas, que ainda está enfrentando um momento difícil. Nós estamos há mais de cinco semanas seguidas com aumento no número médio de internações por Covid e suspeitas de Covid nos hospitais de Manaus. Também tivemos aumento na positividade dos testes na cidade, então nós temos uma situação que está, ameaçadoramente, preocupante”, disse Jessem.
Mesmo cenário de 2020 – O pesquisador lembrou que nos meses de setembro e outubro de 2020, a capital estava praticamente com mesmo cenário epidemiológico que se encontra atualmente e na ocasião, segundo ele, as autoridades competentes negaram que haveria uma segunda onda da doença no Amazonas.
“Na ocasião, o governo e a Fundação de Vigilância e Saúde do Amazonas (FVS-AM) negaram a segunda onda, mesmo já estando nela, agora tentam emplacar a narrativa de que a epidemia já estaria na terceira fase. Na verdade, nós sequer saímos da segunda onda. Neste momento podemos dizer, com um certo grau de segurança, que Manaus se encontra na retomada dos contágios e a variante Delta, a da Índia, ou até mesmo a P1, podem ainda causar algo igual ou pior do que ocorreu no Estado no início deste ano”, pontuou.
Ao longo do bate-papo, Jessem ressaltou que a Covid-19 veio para mostrar não só para os brasileiros, mas para a humanidade, que é um vírus muito versátil e que está disposto a se manter entre nós. Ele foi enfático ao destacar que é preciso parar de desacreditar no coronavírus e achar que a epidemia está controlada.
Para finalizar a entrevista, a apresentadora do programa, a pesquisadora Erica Lima pediu para que o epidemiologista explanasse, conforme sua visão pessoal, sobre a estratégia de distanciamento entre a primeira e segunda doses das vacinas.
Jessem explicou que o método tem sido utilizado por vários países, entretanto, no caso do Brasil seria uma boa estratégia se o país tivesse um cenário parecido com o do Reino Unido, com baixa transmissão comunitária e grande disponibilidade de doses de vacina, entretanto, de acordo com o epidemiologista, o Brasil não tem essas condições.
“Ainda nesse cenário todo, temos um agravante. É inacreditável ter uma epidemia totalmente mal administrada no país, ter problemas em tentar controlá-la e ainda o país é aberto para a organização de um evento, como a Copa América, porque, mesmo sendo sem público, um evento como esse vai mobilizar vários sistemas e é claro que vai fazer o vírus circular”, finalizou Jessem Orellana.
Ouça parte da conversa com o pesquisador Jessem Orellana:
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Por Lana Honorato
Ilustração: Marcus Reis