O governador Wilson Lima (PSC) informou no início da tarde desta sexta-feira, 16/4, em live semanal, que o Estado do Amazonas terá mais afrouxamentos nas restrições a partir da próxima segunda-feira, 19/4. As mudanças valerão por 15 dias. O afrouxamento, porém, vai de encontro ao que os especialistas indicam como mais adequado, neste momento, para o enfrentamento da Covid-19 no Estado.
Os estudiosos apontam a Europa como termômetro para o que pode acontecer no Amazonas nas próximas semanas, uma vez que, normalmente, o comportamento visto lá tende a ser replicado aqui num curto espaço de tempo. França, Alemanha e Reino Unido, por exemplo, aumentaram as restrições de circulação após o aumento no número de novas infecções nos países.
Crítico do descompasso do Governo do Estado com o que se observa no mundo, o epidemiologista da Fiocruz da Amazônia, Jesem Orellana reafirmou ao O Convergente, em live pelo Instagram na última quarta-feira, 14, que faltam estratégias eficazes no enfrentamento à Covid no Amazonas. O epidemiologista observa ainda que, com medidas ainda mais afrouxadas, o comportamento da população tende a tornar o cenário local mais vulnerável ao coronavírus e seus agravantes.
O Amazonas registra média diária de 815 novos casos de Covid-19, sendo a maioria, mais de 400 novos casos, registrada no interior do Estado, que não possui leitos de UTI. Com o novo decreto, os shoppings voltam a funcionar de domingo a domingo, práticas esportivas coletivas ao ar livre estão liberadas e atividades de visitação para contemplação em espaços públicos voltam a ser autorizadas.
Para o epidemiologista Jesem Orellana, a flexibilização do Governo do Amazonas nas medidas de prevenção ao coronavírus, em meio ao número diário ainda bastante alto de novos casos, reafirma o exemplo negativo que o Estado tem transmitido ao mundo.
“Esse plano de contingência é mais um dos planos que eles têm feito, mas que a gente pode classificar como letra morta, que é aquele texto que não serve para nada na prática, já que não se cumpre. É a mesma coisa dos protocolos para o retorno do ensino presencial. Alguém cumpre esses protocolos? As escolas têm infraestrutura para garantir o retorno seguro? Temos condições ambientais, por exemplo, dentro do transporte coletivo de Manaus para proporcionar o deslocamento seguro do estudante? Se você parar para ver, o que aconteceu na primeira onda, esses planos de contingência serviram só para fazer a mortalidade explodir”, criticou o epidemiologista.
Momentos importantes – De acordo com Orellana, Manaus passou em setembro do ano passado por dois momentos importantes que pediam lockdown, mas a medida não foi adotada. “Se nós tivéssemos ouvido o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio, que se mostrou apoiador à proposta de lockdown, se ele não tivesse sido alvo de chacota pelo presidente Bolsonaro, (que está enlouquecido com uma CPI no Senado), muito provavelmente não teríamos aquela quantidade de caso”, opinou.
Outro momento, conforme o epidemiologista, foi quando o Governo do Amazonas estava abrindo leitos de UTIs com o pretexto de se tratar de período sazonal das síndromes gripais, mas na verdade o interesse era esconder o primeiro pico de mortalidade e contágio da segunda onda de Covid-19 no Estado.
“Ele (governo) dava um sinal muito claro de que a epidemia começava a sair de controle naquele momento. Tudo isso, para esconder o primeiro pico de mortalidade e contágio da segunda onda de Covid-19. E hoje, Manaus está exatamente na mesma situação que nós estávamos em setembro de 2020”, explicou Orellana.
Para o especialista, Manaus ainda nem chegou a sair da segunda onda e segue a passos largos, principalmente, após os seguidos afrouxamentos rumo a um cenário incerto, mas com certeza muito preocupante tendo em vista a escassez de insumos, como o kit intubação, em todo o País e a velocidade lenta de aplicação de vacinas contra o coronavírus.
“O futuro da saúde manauara depende do comportamento das autoridades sanitárias e da população diante da epidemia. É preciso que um plano eficaz de contingenciamento seja colocado em prática imediatamente. Caso contrário, não saberemos para onde estamos seguindo e isso é muito preocupante”, advertiu.
Novo decreto – A restrição de circulação permanece da 0h às 6h. Está permitido o funcionamento de supermercados de 8h às 22h; estabelecimentos em geral de 8h às 19h, de segunda-feira a sábado, ficando fechadas aos domingos; postos de combustíveis de 6h às 22h. Os shopping centers poderão funcionar de 10h às 22h, de segunda-feira a sábado, aos domingos o funcionamento está permitido de 11h às 17h. As academias podem funcionar de segunda a sábado, de 6h às 21h.
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Por Juliana Freire
Foto: Divulgação