Faltando pouco mais de um ano para as eleições municipais, alguns vereadores já começaram a traçar os planos para assegurar as cadeiras na Câmara Municipal de Manaus (CMM). Atualmente, a CMM possui uma estrutura favorável aos partidos de centro-direita, além do apoio pela Prefeitura de Manaus, conforme apontou a pesquisa do Laboratório de Estudos Geopolítico da Amazônia Legal.
As alianças feitas pelo prefeito David Almeida, no decorrer das eleições de 2020, permitiram que ele conquistasse um grande número de cadeiras na Câmara. Apesar disso, a liderança do partido do prefeito foi alcançada e agora divide o ‘protagonismo’ na Casa Legislativa, mas as ideias de centro-direita prevalecem.
Sendo feito do prefeito ou não, a análise mostra que existe uma escassa incidência de partidos de esquerda como representantes no parlamento amazonense, mesmo com a popularidade do governo Lula nos dois primeiros mandatos ou com Serafim Corrêa (PSB) sendo eleito prefeito de Manaus, entre 2004 e 2008.

Conforme foi explicado, a eleição dos vereadores de centro-direita para a Câmara Municipal é considerada uma “realidade eleitoral”, por conta do predomínio de partidos com essas ideologias em Manaus.
Anteriormente, o Avante tinha a maior bancada de vereadores, além de ter um representante como presidente da CMM. Porém, após a incorporação do PSC ao Podemos, esse cenário mudou. Agora, o Podemos tem Caio André, presidente da CMM, além de ser a maior bancada da Casa, com os vereadores Allan Campelo, Daniel Vasconcelos, Roberto Sabino e Rodrigo Guedes. Ambas as bancadas possuem a mesma característica: ideologias de centro-direita.
Distribuição de cadeiras
Da antiga formação de cadeira da CMM à atual, mesmo com a fusão e troca de partidos, o cenário não mudou muito em relação às ideologias defendidas por cada parlamentar.
Seguido do Podemos e Avante, há quatro partidos com três vereadores cada. O Republicanos, com Capitão Carpê, João Carlos e Márcio Tavares; União Brasil, que tem como vereadores Diego Afonso, Everson Assis e Professora Jaqueline; Patriotas, representado por Dione Carvalho, Ivo Neto e Joelson Silva; e PMN com Kennedy Marques, Eduardo Alfaia e Rosinaldo Bual.
Quatro partidos possuem apenas dois representantes na Câmara, são eles: PL, Progressistas, Democracia Cristã e PSDB. Os partidos Solidariedade, Agir, PTB, Cidadania e PRTB têm somente um representante. Os vereadores Wallace Oliveira e Gilmar Nascimento não estão filiados a nenhum partido, segundo o site da CMM.
Predominância centro-direita
Com os movimentos dos bastidores políticos, os vereadores foram mudando de partido e, assim, o cenário da CMM foi mudando. No entanto, o que fica claro são as ideologias e os posicionamentos partidários dos parlamentares, uma vez que o prefeito de Manaus se aliou aos partidos de centro-direita.
A pesquisa do Laboratório de Estudos Geopolítico da Amazônia Legal aponta a predominância dos partidos de centro-direita na CMM. Vale lembrar que somente quatro partidos considerados de esquerda e centro-esquerda, PT, PV, PSB e PCdoB, atuam na Câmara, ambos com um representante.
Conforme analisou a pesquisa, essa predominância se explica em dois motivos. O primeiro é a ascensão do bolsonarismo do ex-presidente Jair Bolsonaro eleito em 2018. O outro representa as alianças feitas pelo próprio prefeito David Almeida para atrair um eleitorado mais conservador.
Apesar da grande predominância, a pesquisa mostra que esses partidos sempre lideraram na CMM. De 2004 até as eleições de 2020, as siglas centro-direita tinham uma grande vantagem no número de cadeiras na Casa.
Essa amplitude só foi diminuir nas eleições de 2016, quando o protagonismo dos partidos de centro-direita diminuiu e as silgas de centro e esquerda ganharam força na Câmara Municipal de Manaus.
Porém, como explicou a análise, a força do bolsonarismo fez com que o cenário mudasse nas eleições de 2020, deixando uma enorme diferença entre os partidos de direita e esquerda.
Reflexo nas eleições municipais
Em conversa com o cientista político Carlos Santiago, ele explicou que, no momento em que a Justiça Eleitoral autorizar que os vereadores possam mudar de siglas, vai ser possível notar o tamanho da bancada de cada partido e se o apoio ao prefeito David Almeida permanecerá.
“A partir de março do ano que vem, tudo isso pode mudar, ou muda pra fortalecer a base política eleitoral do prefeito ou muda para diminuir a sua bancada de apoio”, disse.
O cientista político ainda explicou para O Convergente que, para se reelegerem, os políticos precisarão não só dialogar com os evangélicos que estão presentes na Câmara, mas também com outros grupos que estão fora do parlamento.
“Tem que conversar com grupos sociais como os mototaxistas, os que trabalham com aplicativo, com pequenos comerciantes, os que promovem atividade cultural na cidade, os trabalhadores do transporte público, da saúde”, afirmou.
Ele ainda destacou que a candidatura do prefeito David Almeida é forte, mas que o cenário ficará claro no ano eleitoral, “seja qual for o cenário de uma bancada, forte e com consistência de apoiadores ou um número reduzido de apoiadores no parlamento municipal”.
___
Por Camila Duarte
Dados: Laboratório de Estudos Geopolítico da Amazônia Legal
Revisão Textual: Vanessa Santos
Ilustrações: Marcus Reis