O programa Debate Político, do portal O Convergente, recebeu o analista político e mestre em Direito, Helso Ribeiro, na última terça-feira (16). A entrevista, conduzida pela jornalista Letícia Barbosa, foi exibida pelo canal 8.2 da TV aberta e pelo YouTube da Rede Onda Digital. O programa vai ao ar semanalmente às terças-feiras, às 20h30.
O especialista em política Helso Ribeiro destacou, em entrevista, a singularidade do julgamento realizado recentemente no Brasil, que analisou uma tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito e um possível golpe de Estado. Segundo ele, casos desse tipo são raríssimos no contexto global.
“Se você for olhar para todas as cortes do mundo, elas julgaram homicídio, tortura, roubo, latrocínio, questões familiares, mas tentativa de golpe do Estado com outros crimes, eu garanto que não. Isso suscitou curiosidade no Brasil inteiro e no mundo inteiro”, afirmou Ribeiro.
Ribeiro ressaltou o rigor das investigações e a força das provas apresentadas, comparando metaforicamente a situação a um crime em que as evidências são contundentes. “Os alunos que analisaram o inquérito comentaram que as provas eram muito fortes, mas lembrei que é preciso ouvir a defesa para garantir o contraditório e a ampla defesa”, disse.
O especialista também destacou a postura da defesa dos réus durante o julgamento. “Foram oito réus, nove advogados, e nenhum deles questionou a competência do Judiciário. Pelo contrário, elogiaram ministros como Alexandre de Moraes, Carmen Lúcia e Zanin. Isso reforça a seriedade técnica do processo”, explicou.
Impacto do julgamento no marketing político
O especialista em política Helso Ribeiro avaliou que o recente julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro terá desdobramentos que vão além do campo jurídico, podendo ser explorados como ferramenta de marketing nas eleições de 2026.
Segundo Ribeiro, a forma como o julgamento foi conduzido mostra um esforço técnico e equilibrado por parte da defesa e do tribunal, sem ataques diretos à instituição. “Se eu fosse do lado do ex-presidente Jair Bolsonaro, eu iria falar que é uma ditadura do Judiciário, que é uma caça às bruxas – o que nenhum advogado falou durante a defesa. Eles tentaram ser técnicos”, destacou.
O analista ressalta que, no entanto, o marketing político pode explorar diferentes narrativas. “Vamos ver muito do lado do marketing um grupo tentando enaltecer o comportamento não aplausível de Bolsonaro, e do outro lado alguém tentando imacular a Justiça”, explicou.
Helso Ribeiro também comentou que divergências de interpretações dentro do próprio Judiciário podem gerar percepções ambíguas. “Um juiz falou que o caminho é esse, outro juiz falou que o caminho é aquele. Elas enfraquecem o direito? Pelo contrário, geram tolerância, dúvidas sobre o tema e podem levar, posteriormente, a uma síntese comum. Mas, no marketing eleitoral, esse cenário será usado para reforçar narrativas”, disse.
O especialista finalizou apontando que o julgamento pode ser interpretado como um “jogo de torcida”, no qual apoiadores e críticos exaltam ou minimizam aspectos do caso conforme suas preferências. “Quando a pessoa está analisando um julgamento como quem torce pelo seu time de futebol, ela acaba não vendo as virtudes do processo e enaltecendo apenas as virtudes do seu time. É isso que vai ser explorado no marketing eleitoral do ano que vem, não há dúvida”, concluiu.
Brasil VS EUA
O analista político Helso Ribeiro destacou a importância de uma atuação mais estratégica da diplomacia brasileira em questões comerciais e diplomáticas, especialmente em relação aos Estados Unidos.
“Adoraria ver a diplomacia brasileira entrar em campo. Adoraria que o presidente Lula falasse menos. O Itamaraty é uma instituição de excelência”, afirmou.
Ribeiro comparou a postura do presidente Lula à de seu antecessor, ressaltando o impacto nas relações internacionais. “O presidente Lula não se cala, muito parecido com o presidente Bolsonaro. Os Estados Unidos têm uma relação diplomática com o Brasil de mais de 200 anos, foi um dos primeiros países que reconheceu nossa independência”, disse.
O especialista também destacou a importância de manter boas relações comerciais entre os dois países. “A relação sempre foi muito boa, os EUA são um excelente parceiro comercial do Brasil e gostaria que continuasse sendo, e que esse tarifaço – que às vezes é inexplicável – tivesse diálogo para chegarmos a um denominador comum”, concluiu.
Eleições 2026
O analista político Helso Ribeiro avaliou o atual cenário eleitoral no país, destacando a dificuldade da oposição em apresentar um nome capaz de suceder o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“Não consigo ver alguém que suceda o presidente Lula no PT. Na eleição de 2022, deu empate, foi empate técnico entre Lula e Bolsonaro. O país está dividido e eu não vejo nenhum nome capaz de arrebatar massas – e isso é diferente de voto”, afirmou.
Ribeiro comentou também sobre os possíveis candidatos da oposição, como Tarcísio de Freitas, Eduardo Leite e Michelle Bolsonaro, ressaltando que pesquisas mostram ao mesmo tempo um desgaste do presidente Lula, mas ainda indicam sua preferência pelo eleitorado. “A mesma pesquisa que mostra um desgaste do presidente Lula também mostra a preferência pelo presidente Lula”, disse.
O especialista destacou ainda que o julgamento envolvendo o ex-presidente Bolsonaro pode ser explorado pela oposição como narrativa política, mas alertou para possíveis repercussões internacionais. “Acho que a oposição, com esse julgamento, vai reforçar a ideia de caça às bruxas. Adoraria que a oposição não insuflasse o governo dos EUA a aplicar mais multas contra o Brasil”, concluiu.
Confira a entrevista na íntegra:
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