A Frente Parlamentar do Cooperativismo (Frencoop) e a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) compartilham membros, diretores e agendas no Congresso Nacional, revelando uma forte convergência de interesses entre 2019 e 2025. É o que aponta um estudo do Laboratório de Estudos Geopolíticos da Amazônia Legal (Legal), com 72% dos membros da Frencoop na atual legislatura também integrados a FPA. A convergência influencia a representação regional e a produção legislativa.
O levantamento foi conduzido pelos pesquisadores Matteo de Barros Manes, Bruno Marques Schaefer, João Feres Júnior e Fabiano Santos, da parceria entre a Universidade Federal do Acre (Ufac) e o Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). Nele, foi analisada a atuação da Frencoop e da FPA nas legislaturas de 2019-2023 e 2023-2027.
A pesquisa examinou a composição, a representatividade estadual e a produção legislativa das duas frentes. Na 57ª legislatura (2023-2027), a Frencoop conta com 325 membros, dos quais 72% (234) também assinam a FPA. Entre os diretores, a sobreposição é de 46,7% (14 de 30) em ambas as legislaturas, indicando um comprometimento significativo com agendas compartilhadas, especialmente ligadas ao agronegócio.
Desigualdade Regional
A análise revelou uma disparidade regional na Frencoop, com 40% dos diretores oriundos do Sul e 36,7% do Sudeste na atual legislatura, enquanto o Norte tem apenas 3,3% de representação. A FPA, embora também concentrada no Sul (26,1%) e Sudeste (26,1%), apresenta maior equilíbrio, com 13% de diretores do Norte. A baixa representatividade da Região Norte na Frencoop limita a defesa de interesses cooperativistas locais, como os de comunidades rurais e indígenas.

A convergência entre as frentes reflete-se, também, na produção legislativa. Entre 2019 e 2025, membros da Frencoop foram responsáveis por 70,1% das 848 proposições sobre agropecuária (601 projetos), sendo 59% de autoria conjunta com a FPA. Na área de meio ambiente, as duas frentes dominam 58,4% das 1.975 proposições, com 41,5% de autoria compartilhada.

No cooperativismo, das 126 proposições identificadas, 73,8% foram apresentadas por membros da Frencoop, com destaque para temas como finanças públicas (42,5%) e agricultura (23,8%). Apenas uma proposta, sobre cooperativas de crédito (PLP 27/2020), foi aprovada, refletindo o baixo sucesso legislativo. Diretores da Frencoop, apesar de representarem apenas 4,7% dos parlamentares, respondem por 25,4% das proposições cooperativistas, majoritariamente os que também integram a FPA.

Influência do Agronegócio
A forte sobreposição sugere que a Frencoop atua quase como uma extensão da FPA, alinhada à agenda do agronegócio, segundo os pesquisadores. “Enquanto existe uma grande gama de interesses compartilhados que possam ser perseguidos em conjunto, se houver uma dependência de atuação da Frencoop com a FPA, isso significaria que certas questões de interesse do setor cooperativista não encontrariam ressonância nesta organização”, destaca o artigo.
Na Região Norte, a sub-representação na Frencoop reforça a influência de estados como Paraná e Minas Gerais, onde o cooperativismo agropecuário é mais forte.
A Frencoop e a FPA compartilham uma agenda convergente, com membros e diretores em comum, dominando proposições sobre agropecuária e cooperativismo. Contudo, a desigualdade regional e a baixa aprovação de projetos cooperativistas apontam desafios para a representatividade e autonomia.
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