Um confronto armado entre tropas da Tailândia e do Camboja na manhã desta quarta-feira (24) resultou na morte de ao menos 11 pessoas, reacendendo um antigo conflito territorial entre os dois países. O embate ocorreu na região fronteiriça entre a província tailandesa de Surin e a província cambojana de Oddar Meanchey, próxima ao templo Prasat Ta Muen Thom, área historicamente disputada. Ambos os lados se acusam de iniciar os ataques.
Segundo o governo cambojano, tropas tailandesas teriam invadido seu território, forçando uma resposta armada em legítima defesa. Já a Tailândia afirma que seus vizinhos dispararam primeiro, utilizando artilharia pesada e foguetes que atingiram áreas civis em solo tailandês, incluindo um mercado na província de Sisaket, que foi consumido pelas chamas. A resposta tailandesa incluiu bombardeios aéreos com caças F-16, que atacaram alvos militares cambojanos.
Vítimas civis e evacuação em massa
Pelo menos 11 mortes foram confirmadas na Tailândia, incluindo crianças e estudantes. As províncias mais afetadas foram Sisaket (8 mortes), Surin (2) e Ubon Ratchathani (1). Cerca de 40 mil civis foram evacuados de 86 aldeias em uma faixa de 50 km ao longo da fronteira. Imagens que circulam nas redes sociais mostram o pânico de moradores e edifícios destruídos.
As autoridades cambojanas ainda não divulgaram o número oficial de vítimas no país, mas reconhecem que unidades militares foram atingidas pelos bombardeios tailandeses. Diante do agravamento da situação, o Camboja fechou postos de controle, suspendeu importações tailandesas e expulsou diplomatas de Bangcoc.
Disputa secular e agravamento recente
A região do conflito abriga templos antigos, como Preah Vihear e Ta Muen Thom, que são alvo de disputas fronteiriças há mais de um século. O local também é estratégico do ponto de vista militar e simbólico. A tensão aumentou desde maio, após a morte de um soldado cambojano em confronto na tríplice fronteira com o Laos. Em julho, minas terrestres feriram dois soldados tailandeses, o que aprofundou o clima hostil entre os vizinhos.
A Tailândia afirma que os explosivos são de fabricação russa e foram instalados recentemente pelo Camboja. Phnom Penh, no entanto, culpa os conflitos passados, como a guerra civil, pela presença das minas.
Reações diplomáticas
O primeiro-ministro cambojano, Hun Manet, classificou os ataques como “premeditados” e apelou ao Conselho de Segurança da ONU para uma reunião de emergência. O país também rebaixou oficialmente suas relações com a Tailândia.
Em resposta, o governo interino tailandês, liderado por Phumtham Wechayachai, negou provocação e afirmou estar apenas defendendo sua soberania. A embaixada tailandesa em Phnom Penh pediu que seus cidadãos deixem o país, e o governo suspendeu serviços de eletricidade e internet em cidades fronteiriças cambojanas.
A China, que mantém laços diplomáticos com ambos os países, declarou “profunda preocupação” e pediu diálogo urgente para conter o avanço do conflito.
Crise política interna agrava quadro
A instabilidade política na Tailândia também contribui para o agravamento do cenário. A primeira-ministra Paetongtarn Shinawatra foi suspensa no início do mês após o vazamento de uma conversa polêmica com o ex-premiê cambojano Hun Sen, em que criticava a atuação do próprio Exército tailandês. O episódio minou a credibilidade do governo e inflou o discurso nacionalista de alas militares.
Este é o pior confronto entre os dois países desde 2011, quando um conflito na região do templo Preah Vihear deixou pelo menos 20 mortos e milhares de deslocados. Com a nova escalada, cresce o temor de que o Sudeste Asiático enfrente mais um capítulo violento em sua conturbada história geopolítica.