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segunda-feira, março 10, 2025

Áudio vazado atribuído a Anne Moura acusa comitês de Cultura de beneficiar aliados de Lula nas Eleições

As supostas declarações foram feitas durante um encontro com áudio divulgado nesta segunda-feira, 10. Em nota ao O Convergente, Anne Moura disse que desconhece a transcrição de gravação

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A secretária Nacional de Mulheres do Partido dos Trabalhadores (PT), Anne Moura, teria acusado os comitês culturais criados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pela ministra da Cultura Margareth Menezes, de beneficiar aliados políticos nas eleições 2024. As supostas declarações foram feitas durante um encontro com áudio gravado e divulgado nesta segunda-feira, 10, pelo jornal Estadão.

O Programa Nacional de Comitês de Cultura (PNCC), lançado em setembro de 2023, possui um orçamento de R$ 58,8 milhões, destinados à mobilização, apoio e formação de artistas no Brasil. Anne Moura, que tem base em Manaus, teria destacado que o ex-chefe do comitê local, Marcos Rodrigues, deveria ter usado a estrutura do grupo em sua campanha para vereadora na cidade, na qual ela acabou derrotada.

Veja também: Após encontro com Lula, Anne Moura desiste da pré-candidatura em apoio a Marcelo Ramos nas eleições

Em uma suposta gravação de setembro do ano passado e registrada em cartório, de acordo com o jornal, Moura teria afirmado estar insatisfeita com a ausência de suporte do comitê, classificando a falta de apoio como um “absurdo”. Anne Moura também expressa insatisfação com a seleção de artistas para atividades culturais sem considerar alianças políticas, cujas preocupações foram levadas diretamente a um secretário do Ministério da Cultura.

Em uma nota pública enviada ao O Convergente nesta segunda-feira, 10, Anne Moura chamou as declarações de distorcidas e que têm a única finalidade de macular a imagem dela perante a opinião pública. Na nota, a ativista social e política disse que desconhece a transcrição de gravação onde supostamente conversa com o ex-presidente do IAJA.

“Desconheço, a transcrição de gravação onde supostamente converso com o ex-presidente do IAJA. Reuni com este senhor, mas nunca no sentido de interferir na condução administrativa do Comitê de Cultura”, diz trecho da nota.

“O ex-presidente tratou o projeto de forma personalista e inconsequente, tomando decisões sem consultar os demais membros do IAJA e do próprio Comitê de Cultura, não se reportou ao Conselho Fiscal, sendo por isso questionado pelos associados e por mim, particularmente, sem que em nenhum momento tenha reivindicado qualquer tipo de benefício pessoal e muito menos ilegal”, continua outro trecho da nota. (Confira a íntegra da nota abaixo da reportagem).

A ONG

O PNCC contrata ONGs e entidades culturais para coordenar ações nos estados, com o objetivo de aplicar os recursos destinados à cultura. No caso do Amazonas, o Instituto de Articulação de Juventude da Amazônia (IAJA), ONG fundada por Anne Moura, foi escolhido para coordenar o comitê local, com previsão de receber R$ 1,9 milhão em dois anos, segundo o jornal Estadão.

Conforme a reportagem, Anne Moura teria sugerido que sua ONG foi favorecida devido à pressão política que exerceu.

Cultura

Em resposta às denúncias de falta de apoio, ainda segundo o jornal, o Ministério da Cultura informou que iniciou uma investigação sobre o caso, suspendendo temporariamente as atividades do programa e bloqueando os recursos enquanto a apuração está em andamento.

A pasta afirmou ao jornal que a seleção das ONGs para o programa foi feita com base na capacitação técnica e na qualificação profissional das entidades, sem qualquer ingerência política.

O Ministério da Cultura, por sua vez, reiterou que, ao contrário do que foi indicado na gravação, Anne Moura não teve qualquer tipo de conversa com os servidores da pasta sobre a escolha da ONG IAJA para coordenar o programa.

Com o episódio, segundo o Estadão, o relacionamento entre Anne Moura e Marcos Rodrigues teria se deteriora. Rodrigues deixou a presidência do IAJA em dezembro de 2024 após um rompimento político com Moura, que o acusou de calúnia e difamação.

Outro lado

O Convergente entrou em contato com o Ministério da Cultura pedir um posicionamento sobre o episódio. A reportagem também não localizou os contatos de Marcos Rodrigues para pedir esclarecimentos, mas informa que o espaço segue aberto para devida manifestação.

Confira, na íntegra, a nota de Anne Moura:

“Verdade dos fatos

Venho a público esclarecer declarações distorcidas com a única finalidade de macular a minha imagem perante a opinião pública, desmerecendo minha vida pública voltada às causas sociais e luta por dias melhores para a população brasileira, em especial a do Amazonas, estado onde nasci e onde atuo intensamente em causas direcionadas para grupos prioritários.

O IAJA é uma instituição, que há mais de 10 anos, executa inúmeros projetos sem nunca terem sido apontada conduta ou prestação de contas irregulares. Esse histórico de ações contínuas e eficientes a credenciou para concorrer ao edital dos Comitês de Cultura.

Os Comitês de Cultura têm desempenhado um papel importante na qualificação, na divulgação e no apoio à projetos de trabalhadores

Desconheço, a transcrição de gravação onde supostamente converso com o ex-presidente do IAJA. Reuni com este senhor, mas nunca no sentido de interferir na condução administrativa do Comitê de Cultura.

1) Muitas pessoas colaboraram para a construção da política pública que resultou na criação dos Comitês. No caso do Amazonas, artistas comprometidos com o acesso democrático da população às atividades e bens culturais. Estes atores, independentemente de preferência política ou partidária, deveriam, a nosso ver, ter protagonismo nas atividades do Comitê. Isso foi exposto e não imposto como foi ventilado pelo ex-dirigente;

2) O ex-presidente tratou o projeto de forma personalista e inconsequente, tomando decisões sem consultar os demais membros do IAJA e do próprio Comitê de Cultura, não se reportou ao Conselho Fiscal, sendo por isso questionado pelos associados e por mim, particularmente, sem que em nenhum momento tenha reivindicado qualquer tipo de benefício pessoal e muito menos ilegal;

3) Esse tipo de comportamento foi apenas um dos motivos que levaram o ex-presidente a ser destituído do cargo, além de não ter prestado contas ao Conselho Fiscal e ter acumulado denúncias de assédio moral a membros associados e colaboradores de projetos, fatos registrados em boletins de ocorrência e em procedimento interno que resultou em sua exclusão.

Tenho mais de 20 anos dedicados à luta do povo e nunca estive ligada a prática de nenhuma ilicitude. Adotarei os caminhos legais para comprovar a lisura de meus atos e de cobrar a punição para pessoas que estão descompromissadas com a verdade e focadas apenas em projetos pessoais de poder”.

Confira, na íntegra, a nota do Ministério da Cultura:

Nota à imprensa – Ministério da Cultura
Em resposta às supostas declarações realizadas em reunião privada pela secretária nacional de Mulheres do PT, Anne Moura, sobre o Comitê de Cultura do Amazonas, o Ministério da Cultura (MinC) informa: 
Falta de “ajuda” ao Comitê 
A Secretária dos Comitês de Cultura do MinC, Roberta Martins, desconhece as alegações pois a conversa nunca ocorreu. Portanto, as informações fornecidas são todas inverídicas. Anne Moura não é membro do Comitê de Cultura do Amazonas, nunca integrou sua equipe e não participou de qualquer processo relacionado ao Ministério da Cultura ou à seleção do edital de projetos. A secretária Roberta Martins informa, ainda, que adotará as providências jurídicas cabíveis em face dos envolvidos na imputação dos referidos fatos.
Sobre a afirmação de que “a gente faz política” 
Os comitês foram instruídos pelo MinC, de forma clara e expressa, a não se envolver com processos e campanhas eleitorais. A CONJUR/AGU e a Secretaria dos Comitês de Cultura do MinC promoveram seminários com as OSCs para informar acerca das vedações relativas ao período eleitoral. Prova disso é que na suposta declaração de Anne Moura que foi gravada, ela reclama justamente de uma falta de apoio do Comitê de Cultura do Amazonas à sua campanha eleitoral. 
Além disso, os Comitês são constantemente incentivados a ampliar o perfil e a diversidade dos grupos culturais com os quais interagem. A composição dos comitês é plural e participativa, com representantes de diferentes segmentos culturais e cidadãos, garantindo um processo democrático e transparente.
Vale ressaltar, ainda, que o MinC repudia a tentativa de envolver o presidente Lula e a senhora Janja Lula da Silva a partir da criminalização do Programa Nacional dos Comitês de Cultura, que tem como objetivo ampliar o acesso às políticas públicas de cultura em todo o país, fortalecendo a democracia e a participação popular e cidadã no âmbito das políticas socioculturais e do Sistema Nacional de Cultura (SNC).
Providências tomadas
Ao tomar conhecimento de tensões políticas no Comitê de Cultura do Amazonas, o Ministério da Cultura determinou a imediata apuração sobre a gestão de recursos públicos. A partir da primeira semana de fevereiro, o MinC iniciou uma investigação sobre a execução do plano de trabalho da parceria, incluindo a análise técnica das atividades realizadas e a prestação de contas preliminar. A análise preliminar das denúncias e da execução das ações no estado resultou na recomendação de suspensão temporária das atividades e no bloqueio de recursos enquanto a apuração está em andamento. Até o momento não foram identificadas irregularidades, mas a apuração prossegue. Medidas serão implementadas nos próximos dias com o objetivo de assegurar a transparência e a boa gestão dos recursos públicos, além de garantir que as atividades do comitê ocorram de forma impessoal, eficaz e eficiente.
Sobre um suposto favorecimento de “artistas parceiros” 
O MinC e a Secretaria dos Comitês de Cultura não exercem qualquer ingerência na escolha de artistas ou profissionais contratados para os projetos do Programa Nacional de Comitês de Cultura (PNCC). A seleção dos grupos culturais para os projetos é realizada de forma autônoma pelos comitês estaduais, respeitando a diversidade cultural de cada território e as especificidades regionais. 
A Lei n. 13.019/2014, regulamentada pelo Decreto n. 8.726/2016, deixa evidente o aspecto de autonomia e natureza privada, ao indicar que as contratações realizadas pelas OSCs seguirão métodos usualmente utilizados pelo setor privado, e estabelecer a responsabilidade exclusiva da OSC pelo gerenciamento administrativo e financeiro dos recursos recebidos, tais regras são refletidas nas cláusulas do Termo de Colaboração.
Às relações estabelecidas pela OSC com particulares, em regra, não se aplicam as restrições típicas de direito público, devendo-se adotar, nesse âmbito, os métodos usualmente utilizados pelo setor privado, cuja variedade, formato e pertinência estão no âmbito da autonomia da organização. 
Sobre a legislação e a atuação das OSCs 
O Tribunal de Contas da União (TCU), em seu Acórdão 2358/2024, reconheceu que, pela legislação afeta ao PNCC e pelo edital de convocação, não há óbice legal para casos em que a proposta vencedora em chamamento público do PNCC pertença à ONG dirigida por um candidato a cargo político ou pessoa filiada a qualquer partido político, desde que não envolvam membros de Poder ou servidores públicos responsáveis pelo edital. O modelo do PNCC fortalece o controle social e a fiscalização cidadã, afastando riscos de instrumentalização partidária. 
O Ministério da Cultura reitera seu compromisso com a promoção de uma política cultural democrática, transparente e voltada à participação popular, e continua atuando para assegurar  que o Comitê de Cultura do Amazonas opere em conformidade com os princípios da boa gestão pública.
Seguimos à disposição! 

 

 

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