No episódio da nova temporada do programa “Debate Político”, O Convergente recebeu, nessa terça-feira (14), a delegada da mulher Débora Mafra (PSD), que falou sobre as ações de combate a violência contra a mulher e fez uma avaliação do cenário político amazonense. O programa foi apresentado pela CEO da empresa Érica Lima, e exibido pela TV Rede Onda Digital, através do canal 8.2, e pelo canal do Youtube da Rede Onda Digital.
Com mais de 20 anos de atuação, a delegada Débora Mafra é um nome de referência no Amazonas no combate a violência doméstica, feminicídio e pelo direito das mulheres em geral. No programa Debate Político, ela contou sobre sua atuação como delegada.
“Aquela mulher precisa ter uma delegada para defendê-la […], o que eu consigo é fazer Justiça, para que ela veja que, por mais que ela tenha sofrido aquela violência, a Justiça está sendo feita”, disse.
Ao falar sobre feminicídio, Mafra apontou que a Lei Maria da Penha é aplicada no Brasil para tentar combater os crimes contra a mulher, além de comentar também sobre o período que a mulher fica em vulnerabilidade de sofrer violência.
“Esse problema, por mais que tenha a Lei Maria da Penha, foi passando de geração para geração. O perigo do feminicídio é o término do relacionamento até um ano após o término, porque o homem as vezes não aceita receber um não […]. “Quando vem a Lei Maria da Penha, vem trazendo para o Brasil um enorme acolhimento para as mulheres que sofrem violência, tentando evitar o feminicídio”, comentou.
Ela ainda reforçou que cerca de 98% das mulheres vítimas de feminicídio são assassinadas dentro da própria casa. “A maioria das mulheres que morreram no Brasil, Amazonas ou Manaus, nunca foram denunciar o seu agressor. A maioria das mulheres morrem no Brasil dentro de casa nas mãos de conhecidos”, afirmou.
De acordo com ela, é necessário que os agentes públicos estudem os casos de feminicídio para poder combater o crime. “É um crime que temos que estudar e combater ao mesmo tempo, porque muitas mulheres morreram por isso, até por falta de informação. Como são ameaçadas, deixam de denunciar o agressor achando que é melhor do jeito que está do que denunciar e mexer nisso”, disse.
Denúncias
Durante o programa, a delegada ainda reforçou que é necessário que a mulher vítima de violência faça a denúncia para que a polícia possa atuar e tentar salvar a vítima de algo mais grave. Apesar disso, ela afirmou que algumas vítimas ainda têm medo de denunciar.
A delegada apontou que o meio mais seguro para o denunciante informar sobre a violência doméstica contra a mulher é através dos canais 180 ou 181, os quais a pessoa que ligar fará a denúncia anônima e a identidade não será revelada posteriormente.
“O meio mais seguro é a denúncia anônima. Pode ser por mensagem ou por ligação, é 24 horas por dia e a identidade de quem denunciou não é revelada”, explicou.
A delegada afirmou que as denúncias anônimas auxiliam no combate aos crimes de feminicídio, uma vez que algumas mulheres, além de não quererem denunciar, também não querem que outras pessoas acionem a polícia.
“Muitas mulheres estão doentes psicologicamente e a negação é muito grande, elas não aceitam que estão sofrendo violência e não querem que ninguém denuncie. Então, é o momento de chegar para elas, quando você mostra comove aquela mulher, é muito mais fácil resgatar por ajuda de outras pessoas que foram denunciar”, disse.
A delegada ainda pontuou que, caso uma pessoa esteja presenciando um crime contra a mulher, pode sim registrar, mas deve acionar a polícia em primeiro momento. “Se o fato está acontecendo naquele momento e você está vendo aquela mulher chorando ou gritando, pode filmar? Pode. Mas, use o telefone primeiro para ligar para a Polícia Militar”, afirmou.
Política
Nas últimas eleições, Débora Mafra colocou o nome à disposição para concorrer ao cargo de deputada federal. Apesar de ter cerca de 19 mil votos, a mesma não conseguiu ser eleita, ficando no cargo de primeira suplente.
Durante o Debate Político, ela comentou que resolveu entrar na política para incentivar outras mulheres. “Decidi entrar na política porque eu sou uma mulher que incentiva outras mulheres e também para incentivar outras mulheres a entrarem também. Muitas mulheres trabalham com vários nichos e necessitam dessas mulheres nos Parlamentos”, pontuou.
Em relação a representatividade feminina, Débora Mafra afirmou que essa representatividade ainda não é forte no Parlamento, além disso, ela também pontuou que é necessário que as mulheres ocupem esses espaços de poder, uma vez que conhecem a realidade uma das outras.
“A maioria do eleitorado brasileiro são mulheres, e não temos essa representatividade de acordo com o eleitorado feminino. Isso que necessitamos hoje, termos mulheres que representem outras mulheres […]. Sou delegada e muitas vezes sinto falta de leis que venham a amparar de uma totalidade a mulher, inclusive a Lei Maria da Penha que precisa de mudanças, como o caso do pagamento de fiança”, disse.
Mulheres na CMM
Ao analisar a representatividade feminina na Câmara Municipal de Manaus (CMM), Débora Mafra afirmou que de 41 cadeiras, apenas 4 são ocupadas por mulheres.
“É necessário termos leis por mulheres que sabem a necessidade de mulheres. São 41 vagas e apenas 4 vereadoras, percebemos a diferença do eleitorado que existe em Manaus. É necessário que tenha mais mulheres no Parlamento querendo trabalhar questões femininas que o homem não entende. Não sou contra o homem na política, tem que ter os dois, mas em uma proporção”, pontuou.
Ao analisar a atuação das vereadoras na CMM, ela classificou o grupo como um todo com a nota 9, lembrando que a bancada feminina é composta pelas vereadoras Glória Carratte (PSB), Professora Jacqueline (UB), Thaysa Lippy (PRD) e Yomara Lins (Podemos). “Eu dou nota 9 para todas elas, porque elas têm feito, porém acho que falta mais informação. Eu como delegada da mulher sei muitas coisas que elas fazem, mas será que o público está sabendo?”, disse.
Para a delegada, a vereadora mais atuante da bancada é a vereadora Professora Jacqueline, e a menos atuante é Glória Carrate.
“Das vereadoras, acho que a Jacqueline se destaca mais, o comprometimento dela com as mulheres, a gente percebe que ela é uma pessoa simples, fácil de conversar e eu não vejo uma arrogância nela. […] A que menos atua para mim é a Glória Carratte […], nunca tive tanto contato”, avaliou.
Jogo das Cartas
Ao participar do Jogo das Cartas do Debate Político, a delegada fez análise de diversos políticos, sendo a maioria com mandato. O primeiro sorteado foi o deputado estadual Wilker Barreto (Mobiliza).
Para ela, o deputado se mostrou atuante em relação às mulheres e, de acordo com ela, pode ter chances na disputa pela Prefeitura de Manaus no pleito. “Ele é atuante e eu como delegada da mulher eu gostei que ele fez leis em prol da mulher. De 0 a 10, dou 8 para ele, mas acho ele um bom deputado […] Ele tem suas chances que quem é oposição vai querer votar nele. A gente tem que respeitar a posição dele, eu acho que ele tem chances”, comentou.
O governador do Amazonas Wilson Lima (UB) foi a segunda imagem sorteada por ela. Débora Mafra afirmou que o chefe estadual tem feito um bom trabalho, apesar das dificuldades, além de se prontificar na luta contra a violência doméstica.
“É um governador que eu dou 10, porque ele demonstrou um certo jogo de cintura em momentos piores que já passamos […] A gente percebe que ele conseguiu renascer das cinzas e demonstrou que ele está aí em um bom jogo político. […] Ele nunca deixou faltar nada na nossa delegacia, ele deixava aberto o gabinete dele para mim, se necessitasse de algo que ele pudesse resolver”, disse.
O senador Eduardo Braga (MDB) também foi bastante elogiado por Débora Mafra, que enfatizou a luta do senador para garantir as vantagens da Zona Franca de Manaus. “Ele é 10, porque junto com Omar Aziz fez com que a nossa Zona Franca ficasse aqui em Manaus […]. Eles lutaram tanto contra estados como São Paulo, que tem 70 deputados ou até mais, mas eles lutaram tanto, os três senadores, e bateram de frente e mostrando que o Amazonas era diferente e necessitava de um tratamento diferente”, enfatizou.
O próximo político foi o deputado federal Amom Mandel (Cidadania), o qual ela classificou como um forte líder político. No entanto, de acordo com Débora Mafra, ela não votaria nele como prefeito de Manaus, uma vez que não acha que o mesmo teve um grande feito político.
“Eu coloco 7 porque ele está iniciando agora, mas como líder político ele é muito bom […]. Entre os jovens, ele conseguiu ser um líder, percebemos que ele tem um grande talento e eu estou aguardando um feito maior, porque até agora ele é apenas um líder político. […] Eu não votaria nele porque não vi nenhum feito político dele até agora. Acho ele um grande líder para conseguir votos, mas não vi nenhuma ação contundente”, disse.
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) também foi avaliado pela delegada, que afirmou que o mesmo não fez muito pelo Amazonas enquanto presidente, mas destacou que Bolsonaro é um forte líder.
“Aqui para o Amazonas, ele esqueceu enquanto presidente, ele não fez nenhum feito. Com isso, tenho olhos diferentes a Jair Bolsonaro, mas respeito como líder político e acho que não existe, há muito tempo, uma pessoa que não conseguiu fazer o que ele fez em pouco tempo, com fãs, porque ele tem fãs e não eleitorado. Acho que a palavra dele de indicação tem um poder muito grande ainda”, avaliou.
Continuando com os políticos do PL, Débora Mafra comentou sobre o deputado federal Alberto Neto, o qual ela afirmou que não votaria para prefeito de Manaus uma vez que o parlamentar é de extrema-direita.
“Eu daria 7 para ele, por ele ser extrema-direita. Acho que tem horas que ele poderia votar olhando para o lado um pouco, mas acho que poderia ter um jogo maior de cintura”, disse.
O presidente da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), o deputado Roberto Cidade (UB), também recebeu comentários da delegada. “Acho ele uma grande pessoa, gosto muito dele como cidadão e como presidente da Assembleia Legislativa. Acho ele um bom nome para ser votado, mas ainda estou dando uma estudada”, pontuou.
Questionada sobre sua opinião para a gestão do atual prefeito de Manaus David Almeida (Avante), a delegada Débora Mafra afirmou que acredita que o mesmo tem feito uma boa gestão, com pontos fortes na preservação do meio ambiente.
“A gestão dele é 10 pela saúde. A gente percebeu a diferença que teve na saúde. Para mim, ele é um nome forte para a reeleição […] A gente percebe que a cidade está mais bonita, ele se preocupa muito com esse lado […], percebemos uma preocupação que muita gente não tem”, comentou.
Ela ainda acredita que o prefeito é sincero em algumas respostas dadas, e descartou a hipótese de que ele seja arrogante. “Não vejo arrogante, acho que ele é sincero. Ele é atacado o tempo todo, principalmente que está vindo para uma reeleição […]. Não vai ter nenhum político que vai acertar 100%, é muito difícil. O que eu vejo é uma sinceridade, é pior do que aquele cara falso”, disse.
Confira a entrevista na íntegra:
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Por Camila Duarte
Foto: Marcus Reis
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