O primeiro dia do mês começou agitado para a população manauara que vive bem-informada e, porque não dizer preocupada, com o futuro da nossa cidade. Saiu hoje o resultado da pesquisa sobre intenção de votos realizada pela Pontual Pesquisas, registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o número AM-09483/2024. Como podemos acompanhar pelas redes sociais de alguns políticos, a corrida eleitoral para o cargo de prefeito já começou e a disputa encontra-se acirrada entre os dos principais políticos que mais tiveram visibilidade (boa ou ruim) diante da opinião pública.
O deputado federal Amom Mandel (Cidadania), aparece como o preferido dos eleitores manauaras com 32,4% das intenções de voto. Amom Mandel, apesar de jovem, se apresenta como um adversário político muito forte do atual prefeito David Almeida (Avante). Outros parlamentares como o Capitão Alberto Neto (PL), Roberto Cidade, Zé Ricardo, Maria do Carmo e Israel Tuyuka também apareceram na pesquisa.
As redes sociais têm sido uma grande aliada para os pré-candidatos, mas como a política é um terreno desconhecido cheio de surpresas como flores e espinhos, muitas vezes algumas pedras que podem incomodar o sapato de muita gente, acredito que muitas águas vão rolar por debaixo dessa ponte até porque já sabemos que os cargos comissionados são verdadeiros cabos eleitorais e quase sempre votos garantidos. Também não podemos descartar jamais a influência do ex-presidente Jair Bolsonaro e o atual presidente Lula sobre a decisão dos eleitores.
A advogada e CEO do grupo Fametro, Maria do Carmo Seffair, apesar de não muito posicionada até o momento na pesquisa, tem recebido boa receptividade dos internautas quando apresenta seus posicionamentos políticos e críticas sobre atual gestão. Ocupar um cargo de alto escalação para uma mulher representa uma história permeada por batalhas, de renúncias, privações e de conquistas. Essa experiência a possível pré-candidata já carrega consigo.
Contudo, o que não tem sido surpresa é a persistência da desigualdade de gênero no cenário político manauara quando nos deparamos com uma única mulher aparecer nas intenções de votos. Como pensar em uma sociedade justa e igualitária se a representatividade feminina na política ainda é bastante inferior com relação aos homens? Como pensar em políticas públicas para as mulheres se somos a maioria enquanto eleitora, mas minoria no parlamento?
Essas e tantas outras perguntas são feitas a cada ano eleitoral e o cenário da política manauara não tem mudado quando a casa parlamentar conta com um número inferior de mulheres com relação aos homens. Quando grupos vulneráveis não se sentem representados por seus políticos, e o mais preocupante é que mesmo elegendo mulheres não nos sentimos representadas por quem desconhece as nossas demandas enquanto mulheres, mães e cidadãs manauara.
Enquanto mulher, mãe, trabalhadora, estudante, militante pela causa das crianças com TEA e Epilepsia, sou assistente social e pesquisadora sobre a condição da mulher na sociedade e os impactos da maternidade frente ao mercado de trabalho na vida das mulheres e através de meus estudos tenho observado o quanto a nossa sociedade ainda apresenta resistência para tratar sobre as questões de gênero, a exemplo da política partidária. Em se tratando de direitos das mulheres, nunca se lutou tanto para que nossas conquistas não nos fosse retirada, como bem sinalizou Simone de Beauvoir em sua obra O segundo sexo (2016), “basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados”.
Para que possamos avançar junto à igualdade de gênero na sociedade precisamos vencer a desigualdade de gênero persistente nas casas parlamentares. Nesses espaços que as políticas públicas são pensadas e é através de um gestor comprometido com as pautas feministas que poderemos vislumbrar uma sociedade mais justa e igualitária.
Enquanto o cenário político não se define, vamos esperar que novos nomes se apresentem rumo à corrida aos cargos de vereança e a prefeitura de Manaus.
Até lá, vamos acompanhar.
Assistente Social, Mestra em Sociedade e Cultura na Amazônia (UFAM), membro do Grupo de Estudos e Pesquisa Laboratório de Gênero da Universidade Federal do Amazona, Especialista em Antropologia Social.
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