Embora os discursos sobre proteção da Amazônia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e da ministra do Meio Ambiente Marina Silva sejam destaques na 28ª Conferência do Clima das Nações Unidas (ONU), a COP28, uma série de eventos marcou o ano de 2023, quando se trata da ajuda do governo federal aos problemas ambientais na Amazônia.
Durante o evento que reúne líderes mundiais para abordarem temas referentes ao meio ambiente, a comitiva do governo federal fez análises sobre a queda do desmatamento na Amazônia, além de usar a seca história do Amazonas como exemplo da crise climática e as ações do governo para minimizar os impactos.
Apesar disso dos discursos de Lula na COP28, enquanto o Amazonas enfrentava a pior seca já registrada na história e Manaus estava encoberta por fumaça há semanas, o presidente Lula usava as redes sociais para falar sobre o conflito no Oriente Médio.
Além de enfrentar a pior seca da história, Manaus ainda passava por um período em que a fumaça tomava conta da cidade na maior parte do dia. A nuvem de fumaça era oriunda de queimadas ilegais e, por semanas, o governo federal não tomou iniciativas para tentar ajudar no combate às queimadas.
Quando o problema passou a ser notório no cenário nacional, artistas como o comediante Whindersson Nunes questionaram o presidente Lula sobre a fumaça em Manaus, no momento em que o chefe da República só falava sobre o conflito entre Israel e Hamas.
Quando o governo federal se prontificou em auxiliar no combate às queimadas ilegais e em minimizar os impactos da estiagem, a ministra Marina Silva alegou que, apesar da ajuda das autoridades, a população é quem precisa compreender que não pode atear fogo, uma vez que fica difícil a atuação do governo.
“Nesse momento, é preciso a ação do governo, estadual, federal, municipal, a ação das várias instituições, Ibama, ICM-Bio, e todos os demais parceiros, mas principalmente da população. Porque se a população não compreender que não pode atear fogo todos ao mesmo tempo agora, numa situação de extrema estiagem, fica muito difícil a gente fazer esse combate”, disse.
Além disso, durante o período que o Amazonas sofreu com a crise climática, também entrou em debate as obras da BR-319. Para os políticos do Amazonas, a rodovia federal auxiliaria os amazonenses isolados por conta da seca dos rios, e, por isso, cobraram ações do governo Lula, principalmente da ministra Marina Silva, sobre a retomada das obras, porém, até o momento, nada foi feito.
Negligência
No mesmo evento que Lula estava, no domingo (28), o deputado federal Amom Mandel (Cidadania) expôs uma denúncia sobre a negligência do Estado Brasileiro diante do colapso da qualidade do ar na Amazônia, durante a COP28. O documento deve ser entregue às principais autoridades internacionais das Nações Unidas.
Em seu discurso, o parlamentar também ressaltou que o documento aponta problemáticas cometidas por todas as esferas de governo, diante de omissões na atuação em favor do meio ambiente e no combate ao ar tóxico inalado pela população da Amazônia, como no Amazonas e no Pará, nos últimos meses.
Especialista comenta
Ao O Convergente, o analista político Helso Ribeiro afirmou que o presidente Lula, assim como toda sua comitiva, levou um discurso para a COP28 sobre tentar “dar o recado” do que gostaria que fosse feito, no entanto, seria necessário a efetivação do discurso na prática.
“É claro, ao ir numa COP, todos os membros vão tentar dar o recado do que gostariam de ter feito. Acho que foi isso que o presidente Lula fez. Eu diria que ele não está isolado nesse direcionamento de falar muito e fazer pouco, outros também seguiram isso”, analisou sobre a participação de Lula na COP28.
Para Ribeiro, a imagem do Brasil melhorou bastante com o presidente Lula, uma vez que tinha sido desgastada com o ex-presidente Jair Bolsonaro, que fazia declarações contrárias ao meio ambiente e instituições voltadas para o assunto.
“Nos últimos 4 anos, o ex-presidente Bolsonaro se tornou uma espécie de patinho feio na questão ambiental no mundo. De certa forma, temos declarações do ex-presidente Bolsonaro dizendo que não gostava do Ibama, do ICMBIO. O que ocorre é que não houve um aumento de contingente desse pessoal e agora estamos colhendo o que foi plantado”, afirmou.
O analista também apontou que, desde o acordo de Paris, os países têm deixado um pouco a desejar a questão ambiental, porém, a imagem do Brasil em relação ao assunto já melhorou, mas que são necessárias mais ações do governo Lula.
“Aqui na Amazônia já está menos ruim, ainda que o bioma do Pantanal esteja sofrendo bastante. O Brasil melhora um pouco a imagem internacional, que ficou degradada com o ex-presidente Bolsonaro, e agora o presidente Lula falta efetivar mais e falar menos”, pontuou.
Em relação à ministra Marina Silva na participação na Conferência, ele pontuou que o discurso da ministra foi “mais do mesmo”, bem como das demais autoridades. “Tentando mostrar uma tendência de controlar desmatamento, de controlar o descaso do meio ambiente”, disse.
Apesar disso, Ribeiro pontuou que os comentários da ministra em relação a BR-319 são infelizes, mas que ela não é a única culpada pela rodovia não ter sido entregue. “O que eu noto é que antes da Marina ser ministra do primeiro governo Lula, passaram cerca de 9 ministros e nenhum deles fez nada pela BR-319”, disse.
“Até um ex-vice-presidente [Hamilton Mourão], aqui em Manaus, falou que comeria boina dele, caso não asfaltasse a BR-319, e não asfaltou”, comentou. “Parte das autoridades locais, vejo até um pouco de misoginia, querem criticar a Marina por conta de travar a BR-319”, completou.
Ele ainda afirmou que os parlamentares também deveriam ter feito cobranças aos demais políticos e ministros sobre o assunto. “Tem muitos críticos que apontam o dedo no rosto dela por pura covardia, por se tratar de uma mulher, aí para um homem que não fez nada, depois dela, tiveram 8 ou 9. Antes dela, tiveram 15, e ninguém apontou dedo”, destacou.
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Por Camila Duarte
Revisão textual: Vanessa Santos
Ilustração: Giulia Renata Melo
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