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segunda-feira, julho 8, 2024

Estudo aponta rápida evolução da urbanização na Amazônia nos últimos 50 anos

O Laboratório da Amazônia Legal analisou que, desde a década de 1950, a região amazônica tem registrado um aumento significativo na criação de cidades

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A rápida evolução da Amazônia em áreas urbanas representou um aumento significativo nos últimos 50 anos. De acordo com a pesquisa do Laboratório de Estudos Geopolíticos da Amazônia Legal, a urbanização nessas regiões é um dos principais motores de reconfiguração espacial e geopolítica da Amazônia. O estudo foi desenvolvido pela Dra. Roberta Mendonça De Carvalho, professora de Estudos Urbanos na University of Pittsburgh, EUA e Pesquisadora Associada do LEGAL.

Conforme apontou o estudo, 70% da população vive, atualmente, em áreas urbanas, que antes eram ocupadas por florestas. Outro fator que mostrou essa evolução foi a criação de mais de 400 municípios nas últimas cinco décadas. O levantamento de dados ainda faz uma observação sobre o tratamento que a Amazônia recebe, uma vez que, de acordo com o Laboratório, é uma realidade ignorada pela literatura especializada, sendo que a Amazônia “não é apenas uma floresta, mas também uma complexa rede de cidades e centros urbanos interligados”.

O estudo se baseou no levantamento feito por Trindade Jr. (2005), com dados do IBGE (1970, 2012), no qual afirmou que os municípios amazônicos tiveram uma crescente de 500%, enquanto os demais municípios brasileiros cresceram apenas 254%. Mesmo com o impressionante número, os dados do Laboratório apontam que existem áreas que têm predominância rural e que contribuem para a “heterogeneidade em termos de assentamento humano e processos espaciais”.

A pesquisa do Laboratório buscou analisar como os processos de urbanização na Amazônia ocorrem e o quão “urbana” a floresta ficou com esse avanço.

Urbanização amazônica no Brasil

De acordo com a pesquisa, a urbanização é um processo histórico que conta com vários impulsionadores. Dessa forma, uma área é considerada urbanizada quando ocorre uma concentração de atividades econômicas e serviços.

Com base no censo brasileiro de 1960, utilizado pelo Laboratório, a Região Norte contava com uma população de aproximadamente 2,9 milhões, dos quais 35% eram urbanos, se comparados com à taxa de urbanização nacional de 44%. Anos depois, no censo de 1970, a Região Norte deu um salto no crescimento da população e passou a ter 4,2 milhões de habitantes, e a população urbana aumentou para 43%, em comparação com a taxa de urbanização nacional de 55%.

“Apesar do conceito de Amazônia Legal ter sido criado em 1953, dados populacionais referentes à essa divisão sociopolítica ainda apresentam limitações na oferta de dados populacionais, razão pela qual, muitas vezes, se utiliza a região NORTE como referência”, explicou o Laboratório.

Entrando no cenário nacional, o estudo afirmou que a criação de municípios é um elemento administrativo central no processo de urbanização no território brasileiro. Na Amazônia, por exemplo, a criação de municípios tem aumentado desde 1950, sendo o pico registrado na década de 1980.

Os dados levantados pela pesquisa mostraram que os centros urbanos dentro da Amazônia tiveram um aumento desde 1950, sendo registrados, desde então, 500 novos municípios na região. Na década de 50, por exemplo, foram criados 143 municípios. Já na década de 1990, mais 243.

Novos Municípios na Amazônia por Década. Ilustração: Laboratório Amazônia Legal

Nos anos 2000, o número se estabilizou, sendo registrados apenas três municípios. De acordo com o estudo, nas três décadas que abrangem 1980-2010, o número total de municípios aumentou de 338 para 807.

De acordo com o estudo, as novas cidades que surgem nas áreas amazônicas crescem com possibilidades econômicas, além do fomento de novas populações urbanas. Como possibilidade para movimentar a economia, está a exploração de recursos naturais, que atrai a concentração de pessoas para as regiões menos ocupadas, o que pode ser classificado como uma área espontânea de urbanização ao invés do crescimento planejado.

“A prosperidade econômica a curto prazo atrai ondas de migrantes, transforma áreas nas cidades atingidas pelo crescimento desenfreado, muitas vezes gerando um ambiente de contradições. Mitschein, Miranda & Paraense (Mitschein, Miranda, & Paraense, 1989) chamaram este processo de “urbanização selvagem”; Bertha Becker (Becker, 2013) a classifica como urbanização insalubre”, explicou o estudo.

Citando o estudo de Robertson (2005), o Laboratório apontou que a urbanização na Amazônia está longe de ser homogênea, uma vez que o crescimento não é ubíquo. Segundo os pesquisadores, a heterogeneidade da urbanização na Amazônia “aumenta o grau de dificuldade para a compreensão dos processos locais e marcados pela heterogeneidade”.

De acordo com eles, as cidades da região amazônica não são áreas isoladas sob uma redoma, uma vez que fazem parte do sistema regional. No entanto, a urbanização é uma preocupação ambiental para a Amazônia, visto que as economias estrativistas prejudicam o ecossistema local, e os meios de subsistência das pessoas afetam a floresta e são motivo de preocupação global.

Em conclusão, o Laboratório destacou que a criação de 500 municípios em apenas 50 anos na região amazônica representa um desafio e reforça a condição de região periférica.

“Cinquenta anos em cinco era o audacioso slogan de Kubitschek ao construir uma única cidade, Brasília, com a intenção de deslocar o centro do poder para o centro do país. Mas nem mesmo Kubitschek seria capaz de imaginar quase 500 cidades em cinquenta anos”, comentaram os pesquisadores.

Segundo o Laboratório, as cidades que surgiram no meio da Amazônia são importantes componentes da região e também sofrem com os danos causados à floresta, um exemplo disso é a crise climática.

“Este processo de ocupação reproduz condições severas de baixa qualidade ambiental na floresta e nas cidades da floresta, sendo necessário ampliar a discussão sobre sustentabilidade regional ao meio urbano”, pontuou.

Leia mais: Na Câmara, entra em debate regularização fundiária e os impactos para o desenvolvimento da Amazônia Legal

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Por Camila Duarte

Revisão textual: Vanessa Santos

Ilustração: Marcus Reis

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