O primeiro programa “Debate Político” do mês de novembro, desta terça-feira (7), teve como convidado o jurista e ativista racial Christian Rocha. Em conversa com a apresentadora e CEO da empresa, Érica Lima Barbosa, ele comentou sobre a luta racial no Amazonas e o racismo no Brasil. O programa foi exibido pela TV Rede Onda Digital, através do canal 8.2, e pelo canal do Youtube da Rede Onda Digital.
Em conversa com a apresentadora, o ativista afirmou que o Brasil é um país desigual e, por isso, é importante que a sociedade possa conhecer e entender o racismo estrutural, para que haja uma conscientização.
“Quando falamos sobre políticas públicas, elas precisam ser uma ótica carinhosa e totalmente compreensiva por parte dos três poderes. Quando essa ótica alcançar essa dádiva […] vamos ver que temos oportunidades de diminuir essa desigualdade, que a cor da pele não precisa ter um fator diferencial para que as pessoas possam ter a demanda que estão dentro das leis”, disse.
De acordo com Rocha, o Brasil é um país racista e que cultua costumes dos séculos passados que estão sendo levados adiante pela sociedade. Como exemplo, o ativista citou desigualdades nas quais os negros sofriam antigamente, como a marginalização do samba e a falta de acesso a setores da sociedade.
“Hoje, o Brasil é, infelizmente, um país racista. E quando falamos isso, não quer dizer que é um racismo recreativo, não é alguém que está fechando a porta para uma pessoa, porque ela é negra ou porque ela é da periferia. O Brasil é racista, porque ele foi programado e ele impôs às pessoas como se comportar diante de um racismo. Mas cabe a cada um, e não é tão fácil não ser vitimista, porque quando a pessoa procura seus direitos, ela já é taxada de vitimista, quando, na verdade, ela só está procurando os seus direitos”, destacou.
Destaque em Brasília
O ativista também construiu boas relações com políticos da bancada federal do Amazonas e personalidades importantes do governo federal. Recentemente, Christian Rocha esteve em Brasília para tratar com ministérios do governo Lula sobre a pauta racial no Amazonas.
No Ministério da Justiça, por exemplo, ele tratou sobre o racismo ambiental e o impacto que a população negra sofre morando em áreas de risco, além de também discutir sobre o negro no Amazonas no Ministério da Cultura e levar a mesma pauta à Embaixada do Canadá.
“Fui construir pontes. Apesar de estar à frente de uma causa nobre, eu não declaro uma ideologia partidária. As pessoas perguntam se eu sou de direita ou esquerda, é uma grande polêmica, porque eu digo que sou movido por pauta”, destacou.
Pautas raciais no AM
Quando questionado sobre a atuação dos parlamentares do Amazonas nas Casas Legislativas, especificamente em Manaus, o ativista destacou que, infelizmente, muitos representantes não levantam a bandeira da pauta negra.
“Temos 41 vereadores e nenhum é pela causa racial. Vemos a bandeira da própria segurança pública […] eu vejo as pessoas abraçando todas as bandeiras e eu sinto que falta uma consciência de classe”, disse.
De acordo com ele, muitas pessoas o questionam sobre a ausência de representantes negros, de mulheres, de LGBTQIA+ e indígenas nas Casas legislativas. “O que falta é uma consciência de classe e eu dou total apoio às pessoas que querem representar uma luta, uma bandeira”, opinou.
Racismo
Para o ativista racial, a ignorância da sociedade em relação ao racismo tem causado mal-estar. Christian Rocha afirma que, para fazer uma mudança nisso, ele tem levado o combate ao racismo como forma educativa para a sociedade.
“A ignorância e a falta de conhecimento das pessoas à causa racial têm gerado mal-estar. O racismo atrapalha, atrasa e destrói sonhos. Hoje, discutimos o racismo desde a primeira infância, então quando começamos a falar sobre racismo ambiental, as áreas que são mais afetadas é onde existem maior número de negros. No racismo científico, as mulheres negras são as maiores vítimas da violência obstetra, as crianças recém-nascidas também. No racismo recreativo, vemos como o racismo se naturalizou”, afirmou.
Ele ainda comentou que, por uma questão de cultura mundial, as pessoas passaram a associar a cor negra a algo ruim e que, atualmente, o negro é vulnerável a sofrer na sociedade, apesar de ser inocente.
“Você pode ver que associaram a cor negra a tudo que é ruim, marginalizaram a sociedade negra”, disse. “No meu Estado, eu não posso trazer isso como enfrentamento, mas como educativa. Não posso combater intolerância sendo intolerante”, pontuou.
Visão política
No Jogo das Cartas, o ativista sorteou algumas personalidades políticas e deu sua opinião sobre a atuação dos parlamentares nesse meio. A primeira carta que Rocha tirou foi a do prefeito de Manaus David Almeida.
Em um comentário, ele apontou que, apesar de ser amigo de David Almeida, ele sabe quando é hora de criticar, mas que reconhece o que o prefeito de Manaus tem feito pela causa negra.
“A Prefeitura de Manaus realizou a primeira feira de empreendedorismo afro, tivemos a Marcha para Exu com apoio da prefeitura. Ele é adventista, mas o estado é laico e ele vem dando uma aula de laicidade”, frisou. “Posso falar que o prefeito David é um amigo da causa e, das vezes que pudemos provocá-lo, tivemos uma resposta positiva”, ressaltou.
Uma das últimas cartas que Christian Rocha sorteou foi a do ex-presidente Jair Bolsonaro. Na fala do ativista, ele disse que esperava mais da atuação do ex-mandatário e destacou que não faria aliança política com ele.
“Teve tudo para mudar a realidade do país […] Esperava mais dele. Infelizmente, é importante que a gente veja que foi provocado através dele algumas reações extremas”, disse.
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Por Camila Duarte
Revisão textual: Vanessa Santos
Foto: Marcus Reis
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