25.3 C
Manaus
quarta-feira, julho 3, 2024

MP requer que ameaças de estupro e morte feitas a parlamentares pela internet sejam investigadas

O número de casos levou o GT a pedir ao ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, a apuração unificada dos casos pela Polícia Federal

Por

O Grupo de Trabalho (GT) Prevenção e Combate à Violência Política de Gênero do Ministério Público Eleitoral requer que ameaças de estupro e morte feitas a parlamentares pela internet sejam investigadas na esfera criminal. Nos últimos três meses, pelo menos 10 parlamentares foram vítimas de ataques desse tipo. Há inclusive mensagens que ameaçam a vítima de estupro, no intuito de alterar a sua identidade de gênero.

O número de casos levou o GT a pedir ao ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, a apuração unificada dos casos pela Polícia Federal, no intuito de identificar os agressores e garantir a segurança das vítimas e de seus familiares.

O Grupo de Trabalho (GT) Prevenção e Combate à Violência Política de Gênero do Ministério Público Eleitoral requer que ameaças de estupro e morte feitas a parlamentares pela internet sejam investigadas na esfera criminal. Nos últimos três meses, pelo menos 10 parlamentares foram vítimas de ataques desse tipo. Há inclusive mensagens que ameaçam a vítima de estupro, no intuito de alterar a sua identidade de gênero. O número de casos levou o GT a pedir ao ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, a apuração unificada dos casos pela Polícia Federal, no intuito de identificar os agressores e garantir a segurança das vítimas e de seus familiares.

O caso mais recente envolve a deputada Tabata Amaral, que divulgou na última semana em suas redes ter recebido mensagens com ameaças de estupro coletivo e morte. Para o GT, casos como este podem, em tese, serem tipificado como crime contra o Estado Democrático de Direito, previsto no Código Penal, pois atentam contra parlamentares no exercício do mandato eletivo. Na mensagem, o remetente diz que Tabata vai “morrer na sua mão depois de sofrer um estupro coletivo”.  Tabata afirmou que as ameaças se intensificaram após ela anunciar sua pré-candidatura à prefeitura de São Paulo, nas eleições municipais de 2024.

O Código Penal prevê, no artigo 359-P, pena de 3 a 6 anos de reclusão para quem restringir, impedir ou dificultar, com emprego de violência física, sexual ou psicológica, o exercício de direitos políticos. Com base nesse dispositivo, o GT Prevenção e Combate à Violência Política de Gênero elaborou representação sobre o episódio, com pedido de avaliação, pela Procuradoria da República do Distrito Federal (PR/DF), quanto a eventuais providências apuratórias cabíveis na esfera criminal. O documento foi encaminhado à PR/DF por ser a unidade do MPF da primeira instância em Brasília, cidade onde a deputada exerce suas atividades.

Estupro corretivo – Nos últimos meses, chamou atenção do GT o conjunto de intimidações sofridas por parlamentares mulheres com ameaças do chamado “estupro corretivo”, aquele cometido com a finalidade de “corrigir” a identidade de gênero da vítima. Em um intervalo de apenas seis dias durante o mês de agosto, oito detentoras de cargos eletivos de diferentes estados brasileiros receberam ameaças por e-mail ou nas redes sociais com conteúdos que faziam referência à “cura lésbica” e outras mensagens homofóbicas. Uma nona parlamentar foi vítima de mensagem de mesmo teor alguns dias mais tarde, em setembro.Foi o caso das deputadas estaduais Lohana França e Bella Gonçalves e das vereadoras Iza Lourença e Cida Falabella, todas de Minas Gerais, que, em um intervalo de poucos dias, receberam e-mails com esse tipo de intimidação. “Isso não é violência, é o que chamamos Estupro Corretivo Terapêutico, uma terapia de eficácia comprovada que cura o homossexualismo (sic) feminino porque ser sapatão é ser uma aberração”, afirmava uma das mensagens.

Em ofício encaminhado ao Ministério da Justiça, a coordenadora do GT do MP Eleitoral, Raquel Branquinho, solicitou apuração unificada de todos os casos pela Polícia Federal, tendo em vista o padrão reiterado das ameaças. “Verifica-se que essas condutas ocorrem de forma sistemática, em vários locais do país, por meio de redes sociais, o que pode indicar, pelo método e padrão, que parte de uma mesma pessoa ou grupo de pessoas”, indica.

Segundo ela, a identificação rápida e eficaz desses agressores é uma medida necessária não apenas para a segurança pessoal e familiar das vítimas, mas também para o resguardo do livre exercício dos seus direitos políticos, visto que muitas se sentem inseguras para exercerem seus mandatos e lançarem eventuais candidaturas futuras. O Ministério da Justiça e Segurança Pública informou que os casos foram encaminhados para investigação da Polícia Federal. Paralelamente, o GT enviou representações para unidades do MPF em todas as regiões em que as parlamentares foram ameaçadas, solicitando a apuração dos fatos.Para Raquel Branquinho, os episódios podem, em tese, configurar crime político, diante da situação de ameaça sofrida pela vítima em razão de seu cargo parlamentar e gênero. Segundo ela, a investigação deve ser conduzida pelo MPF e pela Polícia Federal. “Os fatos demandam investigação criminal, mediante análise técnica e pericial do material de mídia, oitiva da vítima, testemunhas, dentre outras providências apuratórias cabíveis para identificação da autoria”, salienta.

Balanço – Nos últimos três meses, o GT enviou 17 representações sobre supostos casos de violência política de gênero a unidades do MPF em todo o país, para análise, apuração e tomada de eventuais providências na esfera criminal. Os casos envolvem parlamentares de diversos entes federativos, em situações que englobam assédio e constrangimento durante sessões legislativas, agressões físicas e até assassinato.

Além do Código Penal, o Código Eleitoral prevê, no artigo 326-B, pena  de 1 a 4 anos de prisão, para quem assediar, constranger, humilhar, perseguir ou ameaçar candidata a cargo eletivo ou detentora de mandato, com a finalidade de impedir ou de dificultar a  campanha ou o desempenho de seu suas funções. Confira abaixo os casos abertos pelo GT de agosto a outubro:

  • Sâmia Bonfim (03/08/3023) – A deputada teria sido alvo de falas gordofóbicas, durante sessão da “CPI do MST” na Câmara. Um parlamentar questionou se, para se acalmar, a deputada gostaria de um remédio ou de um hambúrguer.
  • Diana Matarazzo de Almeida (10/08/2023) – Em vídeo publicado em nas redes sociais da vereadora de Ilhabela (SP), o prefeito da cidade, durante reunião, teria dito para a parlamentar “sentar e se comportar”.
  • Marina do MST (14/08/2023) – A deputada e sua equipe teriam sido agredidos fisicamente com pedras, ovos e garrafas, durante compromissos em Nova Friburgo (RJ).
  • Bernadete Pacífico (18/08/2023) – A liderança quilombola de 72 anos, conhecida como Mãe Bernadete, foi assassinada a tiros dentro da associação do Quilombo Pitanga dos Palmares, na cidade de Simões Filho, na Bahia.
  • Talita Cadeirante (23/08/2023) – Talita Ferreira de Lima, vereadora de Taubaté (SP), denunciou ameaças de estupro e homicídio em dois e-mails recebidos em menos de 24 horas. O conteúdo das mensagens era igual e continha o título: “Estupro vai fazer você andar”. A parlamentar é cadeirante.
  • Rosa Amorim (23/08/2023) – A deputada estadual por Pernambuco teria recebido e-mails com ameaça de estupro corretivo como forma de “cura lésbica”. O autor do e-mail teria insinuado conhecer dados pessoais da parlamentar, como seu endereço.
  • Lohana França, Bella Gonçalves, Iza Lourença e Cida Falabella (29/08/2023) – Parlamentares de Minas Gerais receberam, em um intervalo de poucos dias, e-mails com ameaças de estupro corretivo.
  • Mônica Benício (29/08/2023) – A vereadora pelo Rio de Janeiro foi outra vítima a receber e-mail com ameaça de estupro corretivo.
  • Daiana Santos (29/08/2023) – Mais uma vítima dos e-mails com a ameaça de estupro corretivo. A parlamentar é deputada federal pelo Rio Grande do Sul.
  • Esther Branco de Moraes (10/09/2023) – A vereadora da cidade de Santa Bárbara D’Oeste (SP) teve sua fala interrompida aos gritos por um parlamentar, durante sessão na câmara municipal da cidade.
  • Luana Alves (13/09/2023) – A vereadora da cidade de São Paulo foi mais uma a receber ameaças de estupro corretivo por mensagem eletrônica.
  • Erika Hilton (22/09/2023) – Segunda representação por falas transfóbicas que teriam sido dirigidas à deputada, que é mulher trans. O episódio ocorreu em sessão na Câmara dos Deputados em que se discutia o projeto de lei que veda o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
  • Lohana França (12/10/2023) – Nova mensagem com ameaça de estupro e morte. Segundo a deputada, é a quinta intimidação desse teor que ela recebe nos últimos três anos, desde o início da carreira política.
  • Tabata Amaral (19/10/2023) – A deputada recebeu ameaças de estupro e morte que, segundo ela, se intensificaram após o anúncio de sua candidatura à prefeitura da cidade de São Paulo nas próximas eleições.

Confira a íntegra de todas as representações enviadas pelo GT.

Acesse a cartilha do MPF e saiba como identificar e denunciar casos de violência política de gênero.

Fique ligado em nossas redes

Você também pode gostar

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

spot_img

Últimos Artigos

- Publicidade -