O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participou na noite da última quinta-feira, 26/5, do encerramento do Dia da Indústria, na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na capital paulista. Na ocasião, Lula defendeu que o Brasil precisa de uma política industrial ativa e altiva, mantendo-se com a mesma postura do período da campanha eleitoral quanto à necessidade de o País voltar a se reindustrializar.
“Temos que compreender que precisamos de uma política industrial ativa e altiva, como costuma dizer o Celso Amorim”, disse Lula, citando seu assessor para assuntos internacionais e ex-ministro de Relações Exteriores.
Segundo Lula, o país precisa voltar a crescer por meio de uma indústria forte, experimentando tecnologias de ponta e que leve em conta a transição energética. Mas, para ele, acima de tudo, o povo tem que voltar a ter condições para ter três refeições por dia, mais universidades e mais escolas técnicas.
“Não vejo isso como gasto. Vejo como investimento necessário para que a gente possa ter competitividade a nível internacional”, complementou dando exemplos das indústrias automobilística e da construção civil, que precisavam voltar a crescer no país, além de fazer acenos ao agronegócio.
Ironia
Lula também usou de ironia ao falar novamente dos juros do Banco Central (BC), ao dizer que, quando ele podia indicar o presidente da instituição, a Fiesp estava em todas as reuniões do Copom e tudo virava notícia. Agora, Lula diz que ele não pode mais nem criticar que já está influenciando na economia do país.
“Eu não vou falar aqui da política de juros. Eu não vou falar, porque quando eu era presidente da República e indicava o meu presidente do Banco Central, a Fiesp vivia, em toda reunião do Copom, a Fiesp virava manchete de jornal criticando a política de juros. Toda. Então, veja, agora eu não indiquei o presidente do Banco Central, eu fiz críticas. Mas nesse país, em que o mercado financeiro tomou conta no lugar da indústria, um presidente da República não pode nem criticar o presidente do Banco Central que ele está influenciando na economia. E eu quero dizer, aqui dentro da Fiesp: é uma excrescência, nos dias de hoje, a taxa de juros ser 13,75%. É uma excrescência pra esse país. O país não merece isso”.
“Ataques” ao BC
Em contrapartida sobre a fala de Lula, o economista e professor universitário, Orígenes Martins Júnior, afirma que todos esses “ataques” ao BC causam um problema institucional, quer sejam essas críticas feitas pela taxa de juros ou não, pontuando que cabe à instituição bancária essa decisão de redução da taxa.
“Cada vez que o Lula ataca o Banco Central, em relação à taxa de juros ou não, ele está criando um problema institucional. Ele está errado duas vezes: uma pelo fato de atacar uma instituição do governo e outra pelo fato de que a taxa Selic [Sistema Especial de Liquidação e de Custódia] é uma decisão do Banco Central e está completamente correta. O presidente deveria buscar atender às necessidades econômicas do país que levariam a uma redução lógica da taxa de juros. A Selic é consequência e não causa”, pontuou o economista.
“Pressão”
O também economista e consultor, professor Mourão Júnior, pontuou que há uma pressão para a baixa dos juros, de certa forma, motivadas por outras vontades governistas para que o BC baixe os juros, o que pode não ser favorável e que não é bom que haja continuidade por meio da inflação e da taxa Selic.
“O ponto central é, que se a inflação brasileira que atualmente está em 4.18% próximo do teto da meta que é 3.25%, se há a necessidade de nós continuarmos com uma uma taxa Selic de 13,75%. O Banco Central tem as suas prerrogativas e entre elas está a questão do controle inflacionário, mas as pressões inflacionárias que estão ocorrendo esse ano e a projeção da inflação que está em torno de 4,5 para este ano -e já estamos abaixo das projeções-, não há no meu ver, como economista, continuar forçando essa pressão através da inflação ou da taxa Selic. De um certo ponto, tanto o presidente Lula quanto o próprio ministro Fernando Haddad vem caminhando com essas pressões sobre o Banco Central para que possa começar a reduzir a Selic. Vale lembrar que recentemente o governo está colocando um plano de reduzir a carga tributária para carros populares, isso para incentivar o consumo e ao mesmo tempo aumentar a produção”, destacou o economista.
Há, ainda, conforme Mourão, uma preocupação quanto à questão de o país de repente travar economicamente, haja vista que as probabilidades para a baixa dos juros só ocorra entre os meses de outubro e novembro, o que poderia trazer esta estagnação econômica.
“Pela reunião do COPOM, a previsão que foi colocada é que essa taxa de juros comece a ser reduzida lá para outubro ou novembro e o Brasil não pode ficar travado para a gente ficar com uma inflação, como vou pedir aqui para abrir uma aspa de um outro discurso do próprio presidente Lula colocando “que o Brasil tem que ficar com uma inflação europeia ou americana em torno de 3%”, fecha aspas. Então há essa necessidade? Vai continuar essa pressão até que o próprio Banco Central tome as atitudes necessárias para que não trave a economia?”, indagou Mourão Júnior.
Mudanças estruturais
No mesmo evento, o presidente também falou sobre a questão das mudanças estruturais no Ministério do Meio Ambiente e na Esplanada. O mandatário avaliou a situação como uma coisa normal ao se referir sobre a Medida Provisória (MP) que estabelece uma repaginação de atividades tanto na Esplanada quanto no Ministério do Meio Ambiente, citando e criticando as notícias.
“A impressão que eu tive é de que o mundo tinha acabado: “Lula foi derrotado pelo Congresso”, “acaba com o Ministério disso, acaba com o Ministério daqui” e eu fui ler e era a coisa mais normal: até então, a gente estava mandando a visão de governo que nós queríamos. A comissão do Congresso Nacional resolveu mexer, coisa que é quase impossível de mexer na estrutura de governo e agora começou o jogo”, pontuou Lula na ocasião, dizendo que está aberto a conversas com o Congresso sobre a governança.
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Por Edilânea Souza
Fotos: Divulgação / Ilustração: Manoel Almeida
Revisão textual: Vanessa Santos