A participação dos candidatos, que tem liderado as pesquisas, nos debates eleitorais dos veículos de comunicação se tornou um assunto bastante comentando entre os eleitores do país na última semana. Isso porque a resistência, até então, do presidente Jair Bolsonaro (PL) e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em participar dos embates levantou um questionamento sobre a importância do embate, que já foi considerado a “maior vitrine” de divulgação de propostas dos candidatos em uma eleição. Vitrine essa, que segundo especialistas consultados pelo O Convergente, já não é mais tão atrativa para o candidato e para alguns eleitores.
Quesito esse, que segundo os especialistas, está muito atrelado a “fidelidade no voto” e a ampliação e o crescimento das diversas formas de se fazer comunicação.
“Com o advento da internet e da telefonia celular, nós estamos falando aí dos anos 2005, 2010, com a popularização dessas duas ferramentas e com a possibilidade de você usar essas redes sociais você teve uma queda astronômica de participação da televisão como meio de comunicação. A televisão perdeu muito espaço e a população começa a buscar outros canais, outros meios de notícia”, explicou o sociólogo e professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Luiz Antonio Nascimento.
Outro ponto destacado pelo especialista é o fato dos debates nas TVs não serem algo tão interessante mais para os políticos, que na maioria das vezes já são conhecidos e tem o seu eleitorado fidedigno em todas as eleições. O espaço, segundo ele, antes era usado com essa finalidade, além da apresentação das propostas.
“A gente precisa considerar que tanto Lula, quanto o Bolsonaro e o Ciro Gomes, que são os candidatos que estão mais bem posicionados na disputa eleitoral, já são conhecidos nacionalmente. Noventa e oito por cento da população os conhece, de modo que um debate televisivo não seria importante para se apresentarem a sociedade”, reforçou o especialista ao citar que os debates também “prendem” os candidatos por alguns dias em um mesmo local, o que não torna isso interessante para as devidas campanhas.
Fins estratégicos – Consideração semelhante tem o cientista político e professor de política internacional do Diplô Manaus, Breno Rodrigo. Para ele, os debates são importantes, tanto para o candidato como para o eleitor, mas não é algo que vai mudar, na maioria dos casos, o voto do eleitor que assiste um embate para ver o desempenho de seu candidato.
“Os debates em linhas gerais enfatizam tendências. Por exemplo, um candidato de esquerda, se ele no debate falar coisas meio que fora do comum, o eleitor dele não vai deixar de votar nele. Isso é a ênfase. A mesma coisa, eventualmente é com o candidato de direita. Ele não precisa do debate para ter o eleitor. Então, para esse eleitor mais ideológico ou o mais radical, para ele tanto faz o candidato ganhar ou não o debate. O que ele quer é o conteúdo daquele debate para fins de difusão dos seus interesses”, opinou Breno Rodrigo.
Já em relação aos candidatos, o cientista político explica que eles tem esse canal como uma forma de estratégia política e não usam o espaço apenas para falar sobre suas propostas.
“Os candidatos usam os debates para fins de estratégia também. Tanto que nas eleições passadas, e nessa com certeza, os candidatos já manifestam mais ou menos o direcionamento no debate, aquilo que eles vão debater entre si. Se vão atacar uns aos outros, se vão expor algum tipo de fragilidade um do outro, se vão falar de termos muito técnicos. Então você tem essa questão, digamos da estratégia, dos candidatos e a utilização dos debates para tal fim”, explicou o especialista.
O que diz o eleitor – Para os eleitores entrevistados pelo O Convergente, os debates eleitorais podem ajudar o eleitor a definir o voto e são importantes para os candidatos apresentarem suas propostas.
Porém, as discussões que muitas vezes ocorrem durante os debates, podem atrapalhar a decisão do eleitor na opinião do vendedor Ronaldo Soares, 50 anos. “O debate eleitoral se torna importante desde quando os candidatos falem verdadeiramente sobre suas propostas. Porque na maioria dos debates há certa acusação e o povo fica sem ouvir a proposta. Eu sempre acompanho e acho que isso pode influenciar no voto”, afirmou Soares.
Opinião semelhante tem a pedagoga Carla Cavalcante, 54 anos. De acordo com a eleitora, ela sempre assiste o debate e as discussões ocorridas nos encontros a ajudam a definir em quem vai votar, já que na ocasião os candidatos falaram sobre suas propostas. “É bom para a gente observar o candidato e ver as propostas. A gente vai analisar a sugestão de cada candidato para poder obter o nosso voto”, opinou.
A avaliação das propostas foi unânime entre os entrevistados pelo O Convergente. O que na opinião da auxiliar de cozinha, Elisângela Cardoso, mostra a diferença na forma de pensar de cada candidato. “É importante para eles dizerem a proposta de cada um. Cada um pensa de uma forma sobre o que acha que é melhor para a população”, afirmou ela ao citar que assiste os debates e que as propostas são importantes para o eleitor definir o voto.
Confira a fala dos entrevista:
Eleições 2022 – Nas as eleições gerais deste ano, conforme as normas previstas no calendário eleitoral organizado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os debates eleitorais podem ser realizados a partir do dia 6 de agosto. Os mesmos, conforme as normas, acontecem até o dia 29 de setembro, no caso do primeiro turno das eleições. Já no segundo turno, os debates podem ser realizados entre os dias 3 e 28 de outubro.
Seja no rádio, na TV ou na internet, a realização dos embates passa por uma série de critérios, feitos com base nas regras do TSE, avaliados entre os partidos e os veículos de comunicação onde os mesmos serão realizados.
Este ano, com a negativa de alguns dos principais candidatos em comparecer nos debates dos presidenciáveis, alguns sites e emissoras de televisão avaliam formar um ‘pool’ (acordo temporário entre duas ou mais empresas para execução de determinado projeto) para realizar os encontros.
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Por Izabel Guedes
Vídeos e arte : Marcus Reis