De acordo com um levantamento feito pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nas eleições municipais de 2020, o número de candidatos autodeclarados negros (pretos ou pardos) superou o total de brancos pela primeira vez em uma eleição. O crescimento, relacionado ao monitoramento do órgão eleitoral feito desde 2014, evidência, segundo especialistas, o interesse de ter uma representatividade no cenário político para defender os interesses e os direitos de quem luta pela classe.
Defesa essa, que para alguns representantes de movimentos que lutam pela à causa negra, esta muito abaixo do esperado, mesmo com os avanços já alcançados no meio político seja no âmbito nacional, estadual ou municipal.
No Amazonas, por exemplo, o cenário político, segundo a coordenadora pedagógica estadual do Instituto Nacional Afro Origem Amazonas (Inaô/AM), professora Denise Oliveira, mostra a nítida falta de políticas públicas voltadas para a população negra, na área da saúde, da segurança e da educação. O que deve ser suprido com o alcance de maior representatividade e avanço nas ações pela causa.
“As mulheres negras continuam sendo as mais prejudicadas no mercado de trabalho e as maiores vítimas de feminicídio e violência doméstica. A presença de alguém da causa negra na política nos traz a esperança de nossas demandas serem atendidas. Eu trabalho em comunidade e conheço a realidade brasileira. Não é lutar por uma vaga, por que somos vítimas, é lutar por uma vaga por que temos na vida a experiência de ver todo dia, há séculos, a cor da pele sofrendo a cada dia. Não existe representatividade e no Amazonas nunca existiu, a nível estadual e federal”, afirmou.
E pensando nessa representatividade, ela explica que o Inaô está fazendo movimentações para indicar um nome que possa ser essa representatividade e essa voz na política no cenário nacional. O que deve ser oficializado no decorrer das próximas semanas com o lançamento da pré-candidatura do secretário nacional do Inaô, Christian Costa.
“A capacidade do Christian, sobre a nossa orientação irá torná-lo um político bom para o Amazonas e em especial para as causas sociais. Fechamos a questão em cima do nome do Christian por valorizar o diálogo, reconhecer a importância das lutas e ter esse bom trâmite a nível nacional. O partido político será apresentado creio que semana que vem”, disse Oliveira ao explicar que alguns partidos já sinalizaram não querer um representante do grupo no papel principal e afirmar que seguem firmes e fortes nesta questão.
Representatividade – Sobre o assunto, Christian Costa em conversa com o Portal O Convergente, falou sobre a importância de ser ter uma representatividade no âmbito nacional e sobre como vê o cenário atual nesse sentido.
Segundo ele, o país não avançou muito nesse sentido. Por isso a temática é de suma importância, pois o país é editado por Leis e os negros e a sociedade, especificamente falando dos vulneráveis, sofrem com a falta de leis e de políticas públicas mais especificas na defesa de seus direitos.
“A desigualdade social continua abismal e não tem como falar de sociedade justa sem antes observamos a justiça social, a equidade inexistente no Brasil, para com os desiguais. O Senado Federal ainda parece o senado romano, continua sendo exclusivo para alguns, que continuam a fazer disso um cargo exclusivo para ricos. Mas ainda que fossem ricos e de uma elite, esperávamos mais, como lutar pela melhoria para negros, mulheres e os demais”, opinou.
Sobre ser pré-candidato ao Senado, ele acredita que o movimento tem força para eleger alguém, já que atualmente o Estado não tem um representante que lute de fato pela causa.
“Qualquer um do grupo que fosse escolhido, que não fosse eu, teria capacidade. Até porque conseguimos ver é que existe um viralatismo. São poderosos que querem continuar no poder e outros poderosos que querem entrar no poder, mas tiveram total liberdade de mudar a historia do Amazonas. Então o que nós queremos é colocar uma candidatura em prol do povo do Amazonas, da mulher da diversidade, do negro, do idoso”, garantiu dizendo que falta uma postura parlamentar dos atuais políticos do Estado nesse sentido.
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Por Izabel Guedes
Foto: Marcus Reis