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segunda-feira, julho 8, 2024

CPI da Covid: Reverendo diz ter sido ‘usado’ em oferta de vacina, chora e pede desculpas

Amilton de Paula foi apontado por representantes da Davati Medical Supply como intermediário de negociação com o governo federal; senadores aprovaram quebra de sigilo de líder do governo na Câmara, entre outros requerimentos.

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Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid nesta terça-feira, 3/8, o reverendo Amilton Gomes de Paula afirmou que foi usado e enganado na negociação de vacinas contra a Covid-19. Ele foi convocado a depor após ser citado como “intermediador” entre o Governo Federal e a empresa que ofereceu imunizantes sem comprovar a real capacidade de entrega das doses.

No início de sua fala, o reverendo se apresentou em terceira pessoa, o que confundiu senadores e levou a questionamentos sobre a quem de fato se referia. Fundador da Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah), uma organização não governamental, Gomes de Paula havia sido apontado por representantes da Davati Medical Supply como um “intermediador” entre o Governo Federal e a empresa, que ofertava 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca.

“Entendemos que fomos usados de forma odiosa para fins espúrios e que desconhecemos”, disse o reverendo. Ele relatou que a oferta de vacinas chegou à Senah por meio do policial militar Luiz Paulo Dominghetti Pereira, que teria se apresentado ao religioso como representante da Davati.

Mais tarde, emocionado, chorou e pediu desculpas ao Brasil por ter participado da tentativa de venda de vacinas ao Ministério da Saúde. O reverendo declarou que o fez “não agradou primeiramente aos olhos de Deus”, e que ele se arrependia “de ter estado nessa operação das vacinas”.

“Eu tenho culpa, sim. E, hoje de madrugada, antes de vir pra cá, eu dobrei os meus joelhos, orei, e aí eu peço desculpa ao Brasil. E o que eu cometi não agradou primeiramente aos olhos de Deus”, disse. “Esse erro que eu cometi é um erro que, se eu pudesse voltar atrás eu voltaria. Eu peço perdão a todos os senadores, a todos os deputados, e o que eu puder fazer para melhorar a vida de alguém… Pra quem me conhece como pastor e está me assistindo e está dizendo ‘esse eu conheço’. Jamais fraudei ou tirei algo de alguém, estou aqui para contribuir com o Brasil, sempre.”

Amilton de Paula havia sido citado por Dominghetti à CPI, que também afirmou ter recebido um pedido de propina para vender as vacinas do ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde Roberto Dias.

Dominghetti afirmou ter agendado reuniões no Ministério da Saúde com auxílio do reverendo. Já Dias reconheceu ter recebido Amilton para falar sobre uma oferta de doses de vacina, mas negou ter feito qualquer pedido de propina.

O PM teria apresentado ao reverendo, no dia 16 de fevereiro, uma oferta de 400 milhões de vacinas da AstraZeneca para entrega em oito dias. No dia 24, a Senah encaminhou ao Ministério da Saúde um pedido de agenda para intermediar a negociação, de acordo com Gomes de Paula. Durante as conversas, o preço das vacinas passou de US$ 3,50 para US$ 17,50 a unidade, afirmou o reverendo.

Representantes da Davati teriam procurado o reverendo para tentar fechar a negociação com o ministério porque o contrato ainda precisaria de aceno positivo do Governo Federal. Gomes de Paula relatou que se reuniu com o ex-secretário-executivo da pasta, Elcio Franco, no dia 12 de março. Na ocasião, de acordo com o depoente, o secretário afirmou que não existia documentação necessária para avançar na negociação. O reverendo disse ter enviado um e-mail em dia 24 de março com uma nova proposta, com valor de US$ 11 a dose do imunizante, mas não houve resposta.

A justificativa de Gomes de Paula para buscar facilitar a compra de vacinas pelo Ministério da Saúde foi a tentativa de proporcionar mais vacinas para o Brasil, uma “iniciativa humanitária”: “O trabalho de mais de 20 anos de uma ONG, uma entidade séria, voltada para ações comunitárias e educacionais, foi jogada na lama, trazendo prejuízo na sua credibilidade”.

Requerimentos – A reunião da CPI teve início por volta das 9h50 e se concentrou na aprovação de requerimentos para convocações e quebras de sigilo antes do depoimento. Os senadores retiraram da pauta os requerimentos para convocar o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, mas o senador Alessandro Vieira apresentou outro requerimento. Eles aprovaram, ainda, as quebras de sigilo da empresa VTCLog, atual encarregada da logística para a entrega de vacinas, e do líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros.

O depoimento do reverendo estava agendado para o dia 14 de julho, mas foi adiado após ele apresentar atestado informando a “impossibilidade de comparecer ao depoimento agendado” pelo colegiado por problemas renais, confirmado por perícia médica do Senado.

Em trocas de mensagens publicadas pela revista Veja e confirmadas pelo Estadão, Dominghetti citou, no dia 16 de março, o presidente Bolsonaro e o reverendo Amilton ao falar da negociação de vacinas com o governo.

“Ontem, o Amilton falou com Bolsonaro, ele falou que vai comprar tudo”, disse o policial em mensagens reveladas depois que ele entregou o celular para perícia técnica. A mensagem foi enviada a um interlocutor identificado como “Rafael Compra Vacinas” – depois identificado como Rafael Silva, da Davati.

‘Nazismo, não’ – Omar Aziz criticou fortemente o encontro do presidente Jair Bolsonaro com a deputada alemã Beatrix von Storch, no Palácio do Planalto. Ela é neta de um ministro de Adolf Hitler e integra o partido Alternativa para a Alemanha, sigla acusada de difundir ideias neonazistas.

O encontro não estava previsto na agenda presidencial e foi registrado em foto. A deputada é investigada pelo serviço de Inteligência alemão por propagar ideias neonazistas, xenofóbicas e extremistas. Na foto, além da parlamentar e de Bolsonaro, também está o marido de Beatrix, Sven von Storch.

Aziz disse que, “às escondidas, o presidente recebe uma deputada nazista, afrontando a Constituição brasileira”.

“Ninguém abre a boca aqui para falar”, disse o presidente da CPI. “Às escondidas, ele apunhala. Quando é para pedir ajuda, ele liga para o primeiro-ministro de Israel.”

Aziz disse que o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL) e o presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) não podem “permitir isso”: “Nazismo, não”.

O presidente da CPI falou após críticas de senadores governistas que reclamaram do pedido de quebra de sigilo da rádio Jovem Pan. O requerimento de quebra de sigilo foi apresentado pelo relator da comissão, senador Renan Calheiros (MDB-AL).

No pedido, ele citou a Jovem Pan como um “grande disseminador” de fake news e vinculou a medida a um conjunto de requerimentos para quebrar o sigilo bancário de portais na internet e integrantes do chamado “gabinete do ódio”. O argumento é apurar o financiamento de informações falsas na pandemia de covid-19.

Renan Calheiros retirou o requerimento da pauta no início da sessão. O senador se referiu ao pedido como um “equívoco”. “Eu queria lamentar, dizer que isso aconteceu exatamente no recesso compulsório”, disse.

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Com informações O Estado de S.Paulo

Foto: Leopoldo Silva/Agência Senado

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