Mulher. Mãe. Empresária. Política. Rebecca Garcia foi deputada federal pelo Partido Progressista (PP) por dois mandatos consecutivos e desde 2015, quando não obteve êxito, vem se dedicando exclusivamente a atividade empresarial. E, em razão de suas atividades empresariais, ela, recentemente, entregou sua ficha de desfiliação ao partido no qual esteve filiada por mais de 15 anos.
Apesar de a cada nova eleição seu nome ser lembrado como alguém com credenciais importantes para concorrer a um cargo público, Rebecca Garcia afirma não ter interesse em disputar as eleições de 2022. Em entrevista exclusiva ao Portal O Convergente ela falou sobre a motivação em torno do pedido de desfiliação e sobre os impactos da polarização política nos dias atuais. Na conversa, que durou pouco mais de vinte minutos, ela opinou sobre o andamento da CPI da Covid, no Senado, e não descartou apoio político em 2022, mesmo não concorrendo ao pleito.
Rebecca, que é formada em Economia, foi deputada federal pelo Amazonas em dois mandatos, iniciados em 2007 e concluídos, após reeleição, em 2015. Ainda em 2015, antes de terminar o mandato como deputada, ela assumiu o comando da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), onde ficou até 2017. Na entrevista a seguir ela fala um pouco sobre sua atuação política nesse período e sobre a importância da representatividade feminina na política do país.
O Convergente – Por que a senhora se desfiliou do Partido Progressista. O que aconteceu?
Rebecca Garcia – Assinei a carta de desfiliação sem motivo político nenhum. Na verdade teve motivo empresarial. Foi pelas questões empresariais que eu tomei a decisão de me desfiliar.
OC – Então a princípio não tem intenção de se filiar a outro partido?
RG – Não. Esse momento foi por questões empresarias. Infelizmente, nem todo mundo sabe, mas eu não sei se devido ao momento político que vivemos de uns anos para cá ou não ficou um pouco difícil você conciliar o lado empresarial com o político. Então hoje você estar filiado a um partido, querendo estar na vida empresarial te traz alguns ônus. Por exemplo, tem banco que não quer ter cliente com vínculo partidário. Independente do histórico. Pode não ter tido problema nenhum ligado à Justiça, mas só o fato de estar ligado a um partido já te torna uma pessoa publicamente exposta. Então existem bancos que não acham muito legal trabalhar com pessoas publicamente expostas. Acaba que para a vida empresarial traz alguns empecilhos. O meu momento é o empresarial, não estava trazendo benefício nenhum estar filiada a um partido político.
OC – Você acha que essa questão política que a gente vive hoje, de uns três anos para cá, muito mais intenso, pode ser a questão que influencia justamente o não querer que as empresas estejam associadas há algum partido ou não tem nada a ver ?
RG – O mais intenso que você fala é a polarização? Eu acho que não é uma coisa de agora, nem desse ano e nem do ano passado. É algo que começou a se definir dentro do sistema bancário em função dos escândalos passados. Questão de evasão de divisas, questão da procedência dos recursos, então para a questão da segurança do banco, para ele não ter que se justificar, ele prefere não ter esse tipo de cliente. Isso é uma percepção minha, não é uma regra.
OC – Voltando a falar das eleições. Você já descartou completamente essa questão da eleição ou é algo que você pode pensar, já que estamos em uma eleição próxima?
RG – Tudo na vida é difícil você fechar uma porta. Eu não sei como a minha cabeça vai estar pensando daqui a dez anos. Há dez anos eu não diria que eu sairia da política e hoje estou em um projeto empresarial. Sempre gostei muito de me dedicar ao que que faço. Estive durante oito anos como deputada federal, durante dois mandatos, e nesses dois mandatos eu não recebi um centavo das minhas empresas, porque eu não trabalhei nelas. Eu trabalhei meu tempo integral como parlamentar, como deputada federal. Depois eu tive uma passagem pela Suframa, então eu fui 100% superintendente da Suframa. E hoje estou 100% empresária. Então meu ambiente de trabalho é esse, é aqui que estou. Então uma decisão minha, já que estou como empresária, estou dedicada 100% a isso. Nesse momento estou empresária, não sei se daqui a dez anos eu vou falar que cumpri a minha missão como empresária e agora vou me dedicar mais uma vez a vida pública. Pode ser. Hoje não é o que eu penso.
Confira um trecho da entrevista:
OC – Mas a política ainda é uma coisa que te encanta?
RG – Eu adoro política. Agora eu não acho que você necessariamente para fazer política precisa ter um mandato. Você faz política empresarial também. É o que as entidades de classes fazem. Na verdade elas fazem política empresarial. Porque as decisões no nosso país são decisões políticas, sejam elas partidárias, empresarias, sociais. Então política a gente está fazendo 24 horas.
OC – Ainda falando nessa questão política. Você atuou por oito anos como deputada federal então na sua visão, no período que você esteve nesse cargo, você vê diferença daquele período para hoje em termos de polarização. O que está diferente? Essa polarização dificulta o trabalho do político?
RG – Acho que dificulta muito. Eu, sinceramente, torço muito por alguém com um perfil mais agregador, mais de centro. Vejo que essa polarização não acrescentou em nada no nosso país. Pelo contrário, a gente deixa de estar discutindo pautas importantes para o desenvolvimento da região, como o polo industrial, para estar debatendo questões ideológicas. Acho que isso não é inteligente, isso não acrescenta para o futuro do nosso país. Muito pelo contrário, isso só fortifica uma polarização que só é boa para quem está nas pontas dessa polarização. O resto está ali meio sem ter para onde ir. Acho importante sim, ter opinião, agora ter opinião não necessariamente quer dizer que a sua é a correta.
OC – Na sua visão, que já vivenciou esse âmbito político, isso atrapalhou as ações de combate a pandemia?
RG – Acredito que sim. Muito. Eu já vi declarações de pessoas que por questões partidárias, ideológicas, não usam a máscara, por exemplo. Eu acho que isso atrapalhou muito e atrapalhou pelo outro lado também. Porque toda vez que a oposição daqueles que são os negacionistas, vamos colocar assim, se manifesta de forma veemente contra os negacionistas, dá força para que eles reajam. O que fortalece dessa maneira essa polarização que, no meu entendimento e acho que na maioria do entendimento da população brasileira, não está sendo saudável para o nosso país.
OC – Ainda nesse aspecto da pandemia, falando da CPI. A CPI da Covid foi idealizada, justamente, por todas essas questões. Todo mundo fala que tem intensões políticas, o que quando você assiste uma sessão isso fica claro em alguns momentos. Na sua opinião, ela vai ter algum resultado de fato ou está sendo usada como cenário eleitoral, já visando as eleições de 2022. Independente de senador A ou B, já que ali temos representantes de todo o Brasil?
RG – A gente enxerga ali, de fato um palanque. Isso não sou eu quem estou falando. Eu ouvi a análise de um cientista político e ele chamou atenção para uma coisa muito interessante, que talvez ali apenas dois senadores não sejam candidatos na próxima eleição. Quanto a todos os outros que ali estão presentes teriam possíveis projetos políticos para as eleições de 2022. Se é verdade ou não a gente não sabe, mas se não é verdade ela precisa ser conduzida de uma maneira diferente. Porque como você bem falou é a mensagem que passa. Que ali está todo defendendo uma pauta, uma bandeira. E como a gente falou dessa situação da polarização, você não vê ali uma imparcialidade tão necessária para um processo como a CPI.
OC – Você fala no sentido da condução de algum depoimento?
RG – Exatamente. Você tolir a fala de algumas pessoas que estão depondo, não só em relação aqueles que estão indo depor, mas entre os próprios pares você enxerga essa animosidade e a falta de respeito. Isso é uma coisa que eu acho que essa polarização trouxe de diferente para a época que eu estive no parlamento. Na época que eu estive por lá, você via pautas que agregavam. Por exemplo, você via os da direita, que na época não existia essa extrema direita, contra a esquerda, mas você via parlamentares dessa direita com a esquerda sentados em uma mesma mesa tratando de pautas ambientais, por exemplo, que era convergente naquele momento e se tratando com o maior respeito. Um foco unitário. Eu percebo assim de longe, porque não estou lá dentro e posso estar falando de maneira equivocada, mas é essa mensagem que hoje, para quem está aqui fora, estamos recebendo.
Confira um trecho da entrevista:
OC – A gente não vê tantas mulheres nas cadeiras legislativas. Aparentemente, e algumas pesquisas já apontam isso, esse número está diminuindo cada vez mais. Na sua visão, falta representatividade feminina na política? Por que esse processo ainda é tão lento? As mulheres não têm tanto interesse ou o meio é, digamos, machista em aceitar a ideologia feminina na política?
RG – Eu penso que é uma soma de fatores. Não é um único ponto que determina a ausência de mulheres, o que nos deixa pouco representadas. O Amazonas hoje não tem uma mulher no Congresso, nem na Câmara Federal e nem no Senado. Então nós não temos uma representação feminina. O que é importantíssimo para a construção de políticas públicas que venham a atender as mulheres. Eu cito o exemplo, na época em que eu fui deputada federal, eu tive a honra de ser autora de um projeto de lei que obriga o Sistema Único de Saúde (SUS) a fazer a recuperação da mama em uma mulher mastectomizada. Dificilmente um projeto como esse viria de um homem. Eu não estou desmerecendo os homens, mas é porque acaba que a realidade deles não é essa. Então isso é para dar um exemplo da importância da gente ter representatividade dos dois gêneros. A gente não sonha com um parlamento só de mulheres, mas a gente sonha com um parlamento igualitário.
OC – A sua família é uma família de renome tanto no âmbito político como empresarial no Estado. Você já descartou vir como candidata para algum cargo nas eleições de 2022. Mas em relação a possíveis apoios, você já foi procurada ou se for procurada é algo que você pense?
RG – Eu acho assim. Não a Rebecca, porque foi deputada federal, não a Rebecca que é economista. Por conta do currículo, mas eu acho que o cidadão, como cidadão mesmo ele deve se envolver de alguma maneira. Porque se a gente está vendo que o barco está caminhando para o lado errado e você não fizer nada, você não pode reclamar depois. Em outras eleições que eu me envolvi e fui candidata, eu fui candidata para marcar posição, para mostrar que aquele outro lado não era o lado que eu gostaria de estar. Independente da população entender que aquele outro lado naquele momento poderia ser o melhor. Então em relação a isso eu tenho a minha consciência tranquila, porque independente do lado que eu estive eu sempre acreditei ser o que eu achava melhor para o nosso estado.
OC – Então pode ser que exista essa possibilidade de apoio?
RG – Sim.
Confira mais detalhes :
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Por Izabel Guedes
Fotos: Marcus Reis