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terça-feira, dezembro 3, 2024

Participação feminina na política é tema do ‘Erica Lima Conversa’ com a escritora Michelle Vale

De acordo com dados do Tribunal Supremo Eleitoral, 52% do eleitorado brasileiro é formado por mulheres. Embora as mulheres sejam maioria entre os eleitores, o público não transpõe essa inclinação para atividade no setor público

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A escritora Michelle Vale foi a convidada do quadro “Erica Lima Conversa”, do Portal O Convergente. Autora do livro “Mulheres no Poder: a trajetória política de Eunice Michiles, a primeira senadora do Brasil”, a assistente social debateu sobre a participação feminina na política representativa do Amazonas.

A pesquisadora iniciou a conversa traçando uma breve linha do tempo quanto algumas dificuldades enfrentadas pelas mulheres na política partidária, sobre o primeiro mandato feminino no Senado brasileiro e sobre a atuação das mulheres que fazem da política sua carreira. Embora as mulheres sejam maioria entre os eleitores, o público não transpõe essa inclinação para atividade no setor público.

De acordo com dados do Tribunal Supremo Eleitoral, 52% do eleitorado brasileiro é formado por mulheres, somando 77.076.395 até fevereiro do ano de 2020. De acordo com a pesquisadora, a estatística também mostra que o número de mulheres que concorrem a cargos públicos é desproporcional ao conjunto de mulheres aptas a votar e serem votadas.

Para a escritora, os dados são um reflexo da exclusão das mulheres na política durante os anos. Com o preconceito estrutural, a mulher que decide seguir carreira no setor político ainda passa por embates dentro dos partidos. Segundo a autora, a distribuição de investimentos em propagandas é incompatível com o dado ao candidato de gênero masculino.

“Uma mulher que não vem de família de político, que não pode contar com apoio do partido político porque as verbas não são distribuídas de forma igualitária, passa por embates políticos. Só de pensar em tudo isso que pode enfrentar já dá um desânimo”, disse.

Amazonas – Nas últimas eleições, o Amazonas foi um dos estados que menos elegeu mulheres. Na Câmara Municipal de Manaus (CMM), dos 41 cargos de vereadores, o público feminino representa apenas quatro cadeiras. Na Assembleia Legislativa do Amazonas, de 24 cargos para deputados estaduais, 20 vagas são ocupados por homens e apenas quatro por mulheres.

No Senado Federal, para as funções legislativas e fiscalizadoras no âmbito da união, dos 81 cargos disponíveis, a bancada feminina é composta apenas por 14,8%, o equivalente a 12 cadeiras. Para um público que compreende mais de 50% do eleitorado, a representatividade de mulheres exercendo cargos políticos apresenta uma desproporção incomensurável.

“Eu entendo que quanto menos mulheres nós temos nos espaços políticos, nesses cargos de representatividade, menos nós conseguimos avançar com os nossos direitos. Nossa estrutura política é machista, assim como a estrutura familiar. Quebrar com esses paradigmas não é uma tarefa fácil”, opinou a assistente social.

O caso da deputada Joana Darc (PL), ao amamentar durante a sessão plenária, depois de voltar da licença maternidade também foi comentado pela escritora Michelle Vale. Com o filho Joaquim de três meses no colo, Joana Darc subiu à tribuna. O episódio gerou comoção na internet e a parlamentar recebeu várias críticas negativas pelo acontecido.

“Até o nosso direito de ser mãe, muitas vezes nos é tirado. Eu mesma já perdi vaga de emprego por ser mãe. O entrevistador só estava preocupado com quem iria ficar com o meu filho. Uma condição natural nossa, como o da amamentação é um direito nosso, é algo muito natural que não devia ser criticado. O caso da parlamentar, infelizmente é mais um e o pior é que vemos que essas críticas muitas vezes vêm de mulheres. Precisamos romper com esse tipo de pensamento”, afirmou a escritora.

O desequilíbrio entre os dois gêneros na política é evidenciado com as porcentagens baixas de mulheres nos cargos públicos. Para a pesquisadora, uma das saídas para equilibrar seriam os direitos de disputa das eleições com igualdade legítima de chances para homens e mulheres. “Os números expõem que as mulheres estão em plenas condições para exercer cargos políticos. Precisamos fazer valer nossos direitos e ocupar os lugares de discussão, de decisão e de poder dentro e fora das casas legislativas”, finalizou.

Biografia
Michelle Vale é Assistente Social, mestra em Sociedade e Cultura na Amazônia (Ufam), com Especialização em Antropologia Social. Pesquisadora na área das relações de gênero e poder nos espaços políticos. Membro do Laboratório de Gênero (Ufam).
É autora do livro “Mulheres no Poder: a trajetória política de Eunice Michiles, a primeira senadora do Brasil”.

Assista a entrevista:

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Por Juliana Freire
Fotos: Marcus Reis

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