O aviso ao Governo Federal de que faltaria oxigênio medicinal no Amazonas foi informado pelo Governo do Estado com maior antecedência do que foi anunciado pelo ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello durante depoimento na CPI da Covid, no Senado, no dia em 19 de maio. A informação compõe um inquérito sigiloso da Polícia Federal que investiga supostos crimes do ex-ministro.
O inquérito reuniu evidências de que ele e o comando do Exército na Amazônia ignoraram pedidos de socorro do governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), que os avisou formalmente sobre a iminência de esgotamento de oxigênio em Manaus em janeiro, cinco dias antes do colapso da saúde no Estado.
Os ofícios, de acordo com reportagem da Folha de São Paulo, publicada nesta terça-feira, 8/6, foram enviados a Pazuello e ao comandante militar da Amazônia, general Theophilo Oliveira, e assinados pelo governador Wilson Lima.
Dia 9 de janeiro – Um ofício enviado em 9 de janeiro aponta a necessidade de oxigênio diante da alta dos números de contágio pelo coronavírus e dos casos de internação por Covid-19 no estado. O documento alerta para a iminência de esgotamento do insumo e para a necessidade de resguardar a vida dos pacientes.
O documento diz que a White Martins, fornecedora do oxigênio em Manaus, teria 500 cilindros disponíveis em Guarulhos prontos para transporte aéreo urgente às 16h do dia seguinte, 10 de janeiro. Desse montante, o Ministério da Saúde teria ajudado a transportar apenas 350 cilindros, de acordo com informações enviadas pela White Martins à reportagem da Folha.
No mesmo dia 9, estavam disponíveis 23 tanques criogênicos móveis de oxigênio líquido no aeroporto de Guarulhos para serem transportados a Manaus pela Força Aérea Brasileira (FAB), mas os primeiros seis tanques foram enviados apenas no dia 13.
Ainda de acordo com a Folha, não há registros em documentos do Ministério da Saúde enviados ao STF nem em material divulgado pelas Forças Armadas antes do colapso sobre o transporte dos outros 150 cilindros de oxigênio a partir de Guarulhos ou dos tanques disponíveis no aeroporto.
Novo ofício – No dia 12 de janeiro, um novo ofício foi remetido a Pazuello informando que o consumo havia mais que triplicado. O Governo do Amazonas pediu que fossem enviadas microusinas e geradores de oxigênio. Também não há registros desse tipo de transporte antes do colapso, no dia 14.
Na CPI – À CPI da Covid, em 19 de maio, Pazuello disse que só tomou conhecimento do risco da falta de oxigênio na noite do dia 10 de janeiro, em reunião com o governador e o secretário de Saúde do Amazonas. Mas Pazuello já havia recebido uma ligação do secretário no dia 7.
Os senadores confrontaram o general, que admitiu a conversa, porém disse que não foi avisado sobre a iminência de colapso.
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Com informações a Folha de São Paulo
Foto: Sergio Lima/AFP