O presidente da CPI da Covid, o senador Omar Aziz (PSD-AM), afirmou que a comissão vai analisar se mantém ou não a decisão de ouvir novamente o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello. A reconvocação do general passou a ser vista como “desnecessária” por alguns membros da CPI, após a divulgação de um vídeo que mostra Bolsonaro discutindo com médicos defensores da cloroquina a criação de um “gabinete das sombras” para conduzir discussões sobre vacinas e outras medidas de enfrentamento à pandemia. Pazuello, à época ministro da Saúde, não estava presente na reunião.
“Vamos avaliar a reconvocação do Pazuello. O vídeo divulgado deixa claro que Bolsonaro mandava e Pazuello obedecia, simples assim. O general não decidia nada quando era ministro. As imagens mostram que o gabinete paralelo debatido pela CPI de fato existia e era ligado diretamente ao presidente. Vamos focar nessa frente”, afirmou Omar Aziz.
Os membros da CPI definem na segunda-feira, 7/6m se mantém ou não a reconvocação de Pazuello. Conforme Aziz, o vídeo sugere que o general era um “ministro de fachada”. “Ali ficou claro que o Pazuello não mandava nada, então estamos repensando a convocação dele. De que adiantaria chamá-lo de novo?”
O vídeo divulgado nesta sexta-feira pelo site “Metrópoles” exibe uma reunião entre Bolsonaro e médicos defensores da cloroquina que apresentam ao presidente a sugestão de criar um gabinete paralelo para também participarem das discussões sobre vacinas. A ponte entre o grupo e Bolsonaro é feita pelo ex-ministro da Cidadania e deputado federal Osmar Terra (MDB-RS). O encontro foi realizado em setembro, depois de o governo federal não ter respondido ofertas de vacinas da Pfizer e do Instituto Butantã.
Na reunião com Bolsonaro, o virologista Paolo Zanotto chegou a colocar em dúvida a eficácia e necessidade de imunizantes contra a Covid-19. O médico também disse que encaminhou a ideia do ‘shadow board’ ou ‘shadow cabinet’, referindo-se ao “gabinete das sombras”, ao então assessor especial da Presidência, Arthur Weintraub.
Marcelo Queiroga – O atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, porém deve ter sua reconvocação confirmada pelos senadores. Senadores da oposição querem que ele esclareça sua autonomia na pasta. Governistas veem novo depoimento como “ato político”
O retorno do ministro Marcelo Queiroga à CPI ganhou novos contornos com o depoimento da infectologista Luana Araújo na última quarta-feira, 2/6. Após ouvirem a médica falar de sua dispensa da Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19 do Ministérios da Saúde — ela chegou a ser anunciada, mas não nomeada — senadores de oposição disseram que Queiroga vai precisar responder sobre a sua real autonomia no comando da pasta.
Por outro lado, senadores da base do governo afirmaram que o episódio foi um ato corriqueiro de administração e não traz nenhuma evidência de interferência política sobre a Saúde. Eles também lamentaram a nova convocação de Queiroga e destacaram como algo que pode atrapalhar a condução do combate à pandemia, ao tirar o ministro da linha de frente.
O vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), acredita que o depoimento de Luana Araújo dá nova dimensão à ideia de um “gabinete paralelo” no Governo Federal, trabalhando à margem do Ministério da Saúde. Para Randolfe, esse núcleo não foi neutralizado com a chegada de Marcelo Queiroga, ao contrário do que o ministro teria sinalizado.
“Existe um gabinete negacionista, um grupo que continua impedindo que os melhores quadros da ciência brasileira possam contribuir no enfrentamento à pandemia. Até os senadores governistas confirmaram que ela preenche os requisitos técnicos. Qual a razão para se vetar um quadro dessa qualidade?”, questionou.
Ato político – Marcos Rogério acrescentou, ainda, que vê um “ato político” na segunda convocação de Marcelo Queiroga, e lamentou que o ministro tenha que interromper suas atividades à frente da pasta para voltar à CPI. Ele pediu ao presidente do colegiado, Omar Aziz que compreenda essa situação.
“Espero que o presidente tenha consciência do importante papel que o ministério está cumprindo neste momento e deixe o ministro trabalhar. Que a CPI não sirva de obstáculo à ação legítima do Ministério da Saúde. Como vamos fazer o ministro parar a sua agenda para vir a uma CPI que virou um palanque?”, disse.
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Da redação
Foto: Divulgação / Vídeo: site “Metrópoles”