A defensora pública Carol Braz foi a convidada da primeira edição do programa “Erica Lima Conversa”, do Portal O Convergente, transmitido ao vivo pelo Instagram nessa quinta-feira, 13/5. O tema escolhido para a estreia do quadro foi pobreza menstrual.
Durante o bate-papo, Carol Braz explicou que a pobreza menstrual está relacionada a dificuldade que muitas mulheres possuem em comprarem material de higiene durante o período menstrual. A defensora pública destacou que essa questão além de se tornar um problema social, também é um problema sério de saúde pública.
“O período menstrual ainda é visto como tabu. Muitas meninas têm vergonha da menstruação, medo de se sujar. Essa menina que está menstruada e não tem recursos para comprar o seu absorvente, ela acaba perdendo aula, tem vergonha de sair na rua, com isso a gente traz problemas muito sérios, como a evasão escolar e a falta de oportunidades que essa questão tão básica acaba gerando no futuro para muitas meninas”, explicou.
A apresentadora do programa, a pesquisadora Erica Lima, enfatizou que o tema da pobreza menstrual é um problema emergente e questionou como podem e devem ser trabalhadas as políticas públicas para minimizar as dificuldades provenientes da pobreza menstrual no Amazonas.
Para Carol Braz muitas pessoas estão passando por dificuldades e, na maioria das vezes, não tem o que comer e quando é preciso fazer a escolha entre comprar comida e comprar um pacote de absorvente, a prioridade acaba sempre sendo para a compra da alimentação.
“Infelizmente quando a gente olha para os produtos de higiene, os tributos sobre esses bens são de cosméticos, como se fossem bens supérfluos. Isso porque a gente vem trazendo uma raiz histórica, até mesmo de machismo. A exemplo disso temos os kits de higiene que são enviados para os presos são iguais, como se homens e mulheres fossem iguais, sem observar que a mulher menstrua e não ia absorvente”, pontuou.
Absorvente nos kits de higiene – A defensora pública ressaltou que ações junto à Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) vêm sendo realizadas para incluir o absorvente nos kits de higiene para as mulheres que estão privadas de liberdade.
Para ela, a normalização do corpo humano deve ser ensinada e trabalhada nas escolas desde muito cedo para que as crianças compreendam a diferença entre gêneros e possam abordar temas mais particulares, como a menstruação, de forma desmistificada.
“Esse tema precisa ser trabalhado nas escolas, para que as crianças desde cedo compreendam que o corpo da menina é diferente do corpo do menino. Esse é o caminho para tirarmos essa desigualdade grande, porque quando falamos na pobreza menstrual é algo que atinge apenas as mulheres e precisamos trabalhar essa igualdade de gêneros e ela só vai existir quando tiver informação que deve começar com as crianças e que ela comece dentro das nossas casas e também da escola”, afirmou.
Ao concluir o bate-papo, Carol Braz reforçou que o problema da pobreza menstrual só será resolvido quando o poder público criar políticas públicas voltadas para mulheres de forma prioritária e compromissada. “Precisamos fortalecer as mulheres no legislativo para que essas mulheres possam nos defender. Os temas relacionados as mulheres não podem ser levados como chacota, ao contrário, precisam ser priorizados com a seriedade que merecem”, concluiu.
Pesquisas – Em 2020, a Always, da fabricante de bens de consumo da empresa P&G, realizou uma pesquisa em parceira com a Toluna 1, que revelou que o índice de mulheres sem acesso a absorventes no Brasil ultrapassa bastante a estimativa global da Organização Mundial da Saúde (ONU).
Segundo a pesquisa, o absorvente foi considerado como um produto de primeira necessidade e a falta de absorvente afeta a confiança feminina. Porém, mais de uma em cada quatro jovens (29%) revelou não ter tido dinheiro para comprar produtos higiênicos para o período menstrual em algum momento de suas vidas. A ONU estima que uma em cada 10 meninas falta a escola durante a menstruação, e no Brasil esse índice é ainda pior. Segundo a pesquisa, no Brasil, uma em cada quatro mulheres já faltou aula por não poder comprar absorventes.
Assista a conversa na íntegra:
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Por Lana Honorato
Foto/Ilustração: Marcus Reis