Na próxima semana, o nome do senador Omar Aziz (PSD-AM) será referendado como presidente da CPI da Covid-19 no Senado. Nesta terça-feira, 20/4, o senador falou ao portal O Convergente como devem ser encaminhados os trabalhos dos membros da comissão, que tem como objetivo investigar ações e omissões do Governo Federal no enfrentamento à pandemia.
Omar ressaltou que se trata da CPI mais importante do País nos últimos anos e que será conduzida com compromisso, responsabilidade, sem politicagem e em respeito às mais de 380 mil vítimas da Covid no Brasil. Conforme o parlamentar, o primeiro entendimento dos membros da comissão é que ela precisa ser encarada sem pré-julgamentos, alinhada aos fatos investigados e sem sentimentos de revanchismos. No entanto, é preciso buscar saber o porquê de o Brasil ser um dos recordistas mundiais em números de óbitos.
“Vamos investigar fatos, não vamos nos vingar de ninguém. Os fatos vão nos levar à verdade. Queremos saber por que o Brasil não comprou vacina? Por que não participou de consórcios para compra? Por que não se aproveitou das relações comerciais que nós temos? A CPI vai se basear em pré-requisitos técnicos. O que nós vamos fazer a partir de agora, a partir de terça-feira, 27/4, quando a CPI será instalada e os trabalhos vão começar é nos basear em critérios técnicos. Não temos o objetivo de prejudicar ninguém, isso é muito ruim e não ajuda as pessoas”, afirmou.
Quatro frentes – De acordo com o senador, os membros têm conversado preliminarmente sobre metodologias de trabalho para que todo o processo seja visto com a lisura que merece. Neste contexto, um dos pontos que podem vir a concretizar é a subdivisão da CPI da Covid em quatro frentes, sendo elas: vacinas e outras medidas para a contenção do vírus; colapso da saúde em Manaus; insumos para tratamento dos doentes e emprego de recursos federais.
Conforme Omar, a CPI vai caminhar conforme os desdobramentos provenientes de cada depoimento. De acordo com ele, não há como prever uma pauta, não há cronograma como num projeto, se trata de uma investigação e ela é feita de fatos.
“Você consegue enxergar já algumas falhas. Por exemplo, não foram feitas barreiras sanitárias no Brasil. Os voos vinham do exterior e não havia controle na porta de entrada do país. O Brasil já tinha um conhecimento quanto a essa necessidade na época, mas não fez uma varredura sanitária para conter a entrada do vírus. Outro problema identificado é a falsa ideia de imunidade de rebanho, de que se todo mundo pegar, ninguém vai pegar mais. Não é verdade. Em Manaus mesmo muitas pessoas foram reinfectadas e foram a óbito”, disse.
Outro aspecto que deve ser abordado pela CPI da Covid são as sequelas da doença e os tratamentos requeridos por ela em todo o País. Conforme o senador, é preocupante saber que o Brasil, que o Amazonas não tem condições de atender a quantidade de pessoas sequeladas com doenças respiratórias, renais, cardíacas e psicológicas.
“Nos preocupa saber que não temos estrutura para cuidar dessas pessoas. Quantas pessoas que foram intubadas e que agora precisam continuar seus tratamentos e não têm. Esses serão pacientes crônicos dos Estados e nós precisamos ter um olhar para isso também”, observou.
Descredibilidade – Sobre o sentimento comum a muitos brasileiros de que a CPI da Covid “acabará em pizza”, o senador disse compreender o sentimento, porém garantiu que essa, especificamente, não tem como não dar em nada. Conforme Omar, a CPI da Covid não se resume a uma investigação sobre corrupção, ela é uma investigação referente a mais de 380 mil vidas perdidas para a doença, fora outras tantas que foram diretamente impactadas por ela.
“Essa CPI será por cada pessoa, por cada parente, amigo e conhecido que morreu pela doença. É impossível que ela não dê em nada. Ela está no lar de todos os brasileiros. Famílias foram desfeitas, jovens e crianças ficaram órfãos. É impossível estar nessa CPI e não chegar a uma conclusão, não mostrar os erros, as falhas. Vejo pessoas me criticando por ser presidente da CPI da Covid, mas estou fazendo parte do momento mais importante da história recente do Brasil e isso é motivo de orgulho e de muita responsabilidade para mim. É um compromisso que assumi com cada brasileiro e, principalmente com cada amazonense. Eu só tenho gratidão ao Amazonas”, finalizou.
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Por Michele Gouvêa
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